Ocorreu, entre esta segunda e terça-feira (15 e 16 de junho), a Cúpula Global de Líderes do Pacto Global da ONU, reunindo milhares de porta-vozes para discutir e decidir como empresas podem apoiar países e comunidades em todo o mundo a se recuperarem e se fortalecerem dos efeitos da crise do COVID-19.
Este ano, a tradicional reunião da cúpula, que normalmente ocorre em Nova York, comemora 20 anos de encontro, mas, pela primeira vez, em formato diferenciado: virtualmente. Foram convidadas as principais vozes de empresas, governo, Nações Unidas, sociedade civil e academia para uma conversa de 26 horas sobre como podemos reconstruir economias e sociedades mais inclusivas e definir um novo rumo socialmente justo e acessível a todos.
O secretário-geral da ONU, António Guterres, chamou a Covid-19 de “o maior teste que enfrentamos juntos desde a formação das Nações Unidas”. Essa pandemia, segundo ele, “é um lembrete importante de que nenhuma nação, nenhum negócio, nenhum indivíduo é mais forte que o mais fraco entre nós em nosso mundo interdependente. Todos são convidados a inspirar, aprender e contribuir para a forte recuperação de que o mundo precisa”.
Entre os vários painéis, a presença marcante de muitas mulheres, entre elas a primeira mulher presidente da Etiópia, a diplomata Sahle-Work Zewde, que comentou sobre o quanto a pandemia evidenciou o que devemos ou não fazer, a necessidade fundamental do respeito pelos direitos humanos, a força das tendências solidárias e das conversas honestas e a boa notícia: o quanto as novas gerações estão aprendendo com esta situação atípica.
As discussões dos vários painéis que ocorrem simultaneamente, trazem muito em comum: a necessidade dos Estados desenvolverem serviços públicos fortes, progredirem com a pauta dos direitos humanos obrigatórios e manter foco na dimensão social, ainda que todas as outras dimensões (ambiental e financeira) precisem de suporte, apoio e desenvolvimento concomitantes. “No one behind” (ninguém para trás) foi a máxima dessa edição.
Segundo Paul Polman, Vice-Presidente do Conselho do Pacto Global da ONU, não podemos pensar em soluções rápidas para uma sociedade que está doente. Meio ambiente e mudanças climáticas mostram sintomas de que não estão bem, mas principalmente o social, como a dimensão racial que não foi tratada devidamente até então. “Não podemos ficar imparciais diante de problemas graves. Igualdade e dignidade importam sim e são instrumentos de uma sociedade”, afirma.
Os impactos da Covid-19 estão atingindo as mulheres de maneira desproporcional. Antes do início da pandemia, as estimativas globais sugeriam que levaria mais de 250 anos – ou dez gerações – para alcançar a igualdade econômica entre homens e mulheres. Para evitar retroceder nos progressos realizados e ampliar ainda mais a diferença global de gênero, os esforços de resposta e recuperação da Covid-19 devem reconhecer e abordar impactos diferenciais em mulheres e meninas. Por isso, essa edição da cúpula colocou especialmente em pauta o quanto as empresas estão levando em conta as questões de gênero no enfrentamento ao COVID-19 .
Desafios socioambientais pós Covid-19: caso da América Latina e da Amazônia
A sessão sobre a América Latina discutiu os aspectos sociais e ambientais dos impactos da Covid-19 na região, principalmente na Amazônia, fornecendo informações sobre como o setor privado, as Nações Unidas e os governos podem enfrentar os principais desafios das pessoas e do planeta.
Gonzalo Muñoz, da COP25, nos lembrou sobre a gravidade que podemos alcançar se o mundo subir em 5 graus celsius. “Esta crise não está em quarentena. Ela continua a existir. Por mais que a natureza tenha reagido a este tempo que nos resguardamos, é provisório. Precisamos de uma mudança estrutural”. Para ele, estamos em uma situação que precisamos abrir mão de tecnologias antigas para adotar novas soluções – “precisamos mudar nosso mecanismo de vida”. Como solução cita a aproximação da academia do mercado, sugerindo, como na Universidade Católica do Chile, cursos que enfocam a discussão climática em meio aos negócios.
Jessica Faieta, Representante Residente do PNUD na Colômbia, comentou sobre o quanto as desigualdades no país, que já eram uma pauta alarmante, se agravam em meio à pandemia. Para ela, para que a encontremos soluções próprias à realidade da América Latina, mais especificamente na Colômbia, é preciso ter mapeado todos os públicos que mais tem se fragilizado nessa situação, para além dos pobres – os bairros isolados, as pessoas que não tem patrimônio ou economias, aquelas que não têm computadores ou conectividade, os ambulantes, aquelas com saúde precária (como má nutrição), os profissionais autônomos (que são mais de 40% da população da AL), as mulheres (empregadas domésticas, agrícolas), os povos indígenas, as comunidades afro e os adultos mais idosos. “A recuperação econômica precisa ser mais verde e ajudar a expandir os sistemas de proteção social de maneira mais inclusiva. Teremos que avançar nos sistemas de pensão, seguros, desempregados. Todo o mundo precisaria ter isso”, afirma.
Participou da sessão, o brasileiro Jean Jereissati, CEO da Ambev, que chamou atenção para a relação da empresa com a Amazônia, há mais de 100 anos, local onde se cultiva o principal ingrediente do guaraná. Ele acredita que a Amazônia foi atingida de forma mais dura pela pandemia porque se trata de uma região com estrutura de saúde carente, além de afastada e de difícil acesso. Comentou sobre as ações que a empresa tomou em meio a pandemia: apoiou os pequenos varejistas através de negociações com bancos e o fortalecimento do Donus, a fintech criada pela empresa para atender os comerciantes; readaptou uma de suas fábricas para produção de álcool gel e distribuição em hospitais públicos; construiu, em parceria com a Gerdau, um hospital anexo ao Hospital Municipal M’boi Mirim; transformou garrafas pet em três milhões de máscaras (do tipo face shield, que cobrem o rosto todo) doadas para o Ministério da Saúde; contratou mais de 6000 motoqueiros para entregas do Zé delivery (aplicativo desenvolvido pela empresa para entrega de bebidas com preço de supermercado, na casa do cliente). Jereissati entende que a indústria do desmatamento, um dos grandes motivos que coloca em risco a Amazônia, infelizmente ainda é lucrativa e por isso, precisa ser encarada a partir de planos de desenvolvimento para a região de longo prazo. “O setor privado tem a capacidade de se reformular e isso é uma riqueza para a sociedade. Isso pode ajudar, em certa medida, a retomada do desenvolvimento da Amazônia, desde levemos em conta que é um assunto que exige compromissos de longo prazo”, comentou.
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