Precisamos ressignificar o Brasil
Sou brasileira. Daquele tipo que estuda, compartilha, pensa no coletivo, não paga nem recebe propina, não fura fila, não usa carteirinha de estudante falsa. Daquele tipo que ama a nossa música, as nossas cores, os nossos gostos. Falando assim parece até que sou exceção. Mas, como eu, conheço várias outras pessoas.
Quando estudei em Londres, me peguei dizendo às pessoas que era portuguesa, porque dizer que era brasileira gerava piadinhas e olhares que faziam com que me sentisse um objeto sexual. Quando estudei em Nova York, um colega de sala, árabe, perguntou se eu iria tirar foto com os meus trajes típicos no dia da foto oficial da turma. Quando perguntei a ele sobre qual traje típico ele estava falando, ouvi a descrição da fantasia das rainhas de bateria.
Com a maturidade de hoje eu não diria mais que era portuguesa, tampouco reagiria com a raiva à pergunta sobre o traje típico. Diria que sou brasileira e que aquela era uma visão reducionista da mulher brasileira. Mas, aos 16 anos em NY, e aos 24 em Londres, eu não tinha ainda a percepção da minha responsabilidade em mudar a imagem da mulher brasileira com as pessoas com quem eu convivia. Achava que era aquela imagem era imutável, um fardo intransponível. Hoje sei que o imaginário coletivo se dá a partir do somatório de imagens individuais. Vejo luz no fim do túnel.
Contudo, cabe ressaltar que, ultimamente, está difícil assumir orgulho de ser brasileira. Todos esses escândalos de corrupção que estão acontecendo, os retrocessos que estão dominando o noticiário, a crise econômica, o desemprego, a fuga de talentos, tudo isso contribui para arranhar a imagem do Brasil no exterior. À propósito, pesquisas internacionais mostram que a reputação do Brasil é considerada fraca, que estamos perdendo soft power enquanto Nação e que a nossa competitividade está apenas uma posição acima do nosso mais baixo patamar histórico, atingido no ano passado.
É muito triste termos que negar a nossa origem por não nos sentirmos confortáveis com as associações que são feitas. Assim como é muito triste ver tantos talentos brasileiros deixarem o país por falta de oportunidades ou de perspectiva positiva de futuro. E, da mesma maneira em que as mulheres brasileiras sofrem este tipo de constrangimento, como se sentir confortável em ser um empresário brasileiro se as notícias no mundo tratam o Brasil como um dos país dominado pela corrupção?
Se é verdade que muitas de nossas empresas cresceram pagando propina, é fato também que temos exemplos de empresas que são honestas. Se é verdade que as nossas mulheres são atraentes, é fato também que o Brasil é um dos países mais igualitários do mundo em relação à participação feminina na produção de artigos acadêmicos.
Precisamos, diante de tantas notícias negativas, juntar esforços enquanto sociedade para ressignificar o Brasil para o mundo e também para nós, brasileiros. Isso resgatará a nossa auto-estima e o nosso senso de pertencimento. E, só então, teremos um país melhor para os nossos filhos e netos (essa fofura da foto é meu filho). Ninguém cuida do que não sente que é importante. A população brasileira hoje não é mais a população que veio na época do seu descobrimento, com o intuito de explorar e partir. Somos os filhos desta terra. Precisamos mudar o padrão de comportamento e cuidar do que restou. Cuidemos do nosso país como cuidamos de nossas casas. O Brasil somos todos nós. E o “todos nós” inclui muita gente boa, honesta e trabalhadora, muito além da parcela da população que se diz “gente de bem” e que não perde uma única chance de perpetuar privilégios e manipular situações em benefício próprio.
Eu estou fazendo a minha parte e convocando quem quiser a se juntar a mim no movimento “Reputação Brasil >> Caminhos para o Amanhã”, próximo dia 25 de outubro, no Museu do Amanhã, no Rio de Janeiro (inscrições aqui). Neste evento apartidário, 23 especialistas nacionais e um internacional debaterão os caminhos para retomada da confiança no país e as possibilidades de novas narrativas para um posicionamento positivo do Brasil a longo prazo. São nos momentos de crise que as verdadeiras lideranças precisam se posicionar para defender o país dos oportunistas de plantão.
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