Recentemente, foi realizada a oficina “Construindo ambientes de trabalho seguros e produtivos com ESG”, nosso objetivo era muito simples: resgatar o princípio de que o ESG precisa começar de dentro para fora.
Começamos o encontro abordando a Agenda 2030, compartilhando conceitos fundamentais relacionados aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODSs), propondo que esses podem, e devem, servir como ponto de partida para a jornada em busca de organizações e sociedades mais sustentáveis. Usamos como exemplo a iniciativa da própria oficina.
Quando desenhamos a abordagem, conteúdos e atividades lúdico-apreciativas para este encontro, tínhamos em mente dois ODSs principais, com os quais desejávamos nos alinhar e gerar impacto:
- ODS 8 Emprego Decente e Crescimento Econômico, com foco na meta 8.8, buscando promover ambientes de trabalho seguros e protegidos para todas as pessoas trabalhadoras (propósito essencial da oficina);
- ODS 3 Saúde e Bem-Estar, a partir da meta 3.4, estimulando o diálogo sobre melhores práticas para promover a saúde mental e o bem-estar, dentro e fora das organizações.
Esses eram nossos dois pontos de partida, porém, ainda no processo de divulgação, percebemos a oportunidade de contribuir, também, com a diminuição da fome (ODS 2 – Fome Zero e Agricultura Sustentável), estabelecendo o ingresso solidário, arrecadando cestas básicas que foram doadas para o Projeto Pureza. É sempre fascinante perceber como escolhas simples podem gerar impactos significativos na vida das pessoas.
Após introduzir esses conceitos, e alguns de nossos próprios exemplos práticos, convidamos o grupo para olhar com maior atenção a Dimensão Social, o “S” do ESG. Costumamos aproveitar os estrangeirismos, comuns no meio corporativo, e provocar a reflexão de que o “S” é também de “Stakeholders”, expressão que pode ser traduzida como “partes interessadas” ou simplesmente como “PESSOAS” envolvidas e/ou impactadas. E, dentre essas pessoas, colaboradoras e colaboradores são os indivíduos interessados e diretamente impactados por decisões e ações, sustentáveis ou não, da organização.
Por este motivo, qualquer programa de ESG, que busque uma sustentabilidade efetiva, precisa começar de dentro para fora, envolvendo as pessoas que compõem os times, a partir de ações como:
- Proporcionar segurança e bem-estar das pessoas, dentro e fora da organização;
- Combater toda forma de discriminação;
- Promover a diversidade;
- Estimular o desenvolvimento profissional e social; e
- Garantir que decisões e ações estejam em conformidade com a lei.
A pergunta que surge é como agir, de maneira integral, sobre essas responsabilidades? Bem, nossa primeira dica é: escute e (re)conheça quem são essas pessoas; depois, procure envolvê-las como corresponsáveis, por meio de acordos claros.
Políticas Integrativas
As chamadas “Políticas Organizacionais” fazem parte do cotidiano na gestão de pessoas e negócios, reunindo diretrizes e regras que orientam as ações para o atingimento das metas e objetivos estabelecidos. Elas surgem, principalmente, motivadas por dispositivos legais, que regulam atividades profissionais e as relações entre “empregador e empregados”; ou diante de situações internas, quando se percebe a necessidade de estabelecer critérios claros para tomada de decisões, resoluções de conflitos e a definição de comportamentos eticamente aceitáveis para o convívio saudável na organização.
Acreditamos que a construção de ambientes de trabalho seguros e produtivos passa pelo processo de envolver as pessoas, tanto na identificação e construção das Políticas necessárias quanto na sua implementação consciente. Hoje, colaboradoras e colaboradores veem as Políticas como “regras impostas” e não como acordos que contribuem para relações mais saudáveis no trabalho, capazes de integrarem os interesses comuns entre as pessoas e a organização.
Essa mudança de paradigma, da Política como conjunto de regras para uma Política Integrativa, uma forma de acordo, pode transformar a maneira como gestores, lideranças e as próprias pessoas lidam e se engajam com suas diretrizes, gerando mudanças na maneira de gerir atividades e negócios, na autonomia das pessoas e, portanto, na produtividade dos times.
A criação de uma Política Integrativa envolve quatro etapas essenciais:
- Escuta das pessoas envolvidas e que serão impactadas;
- Coerência entre prática e discurso, conectando as diretrizes da nova política ao Propósito e Valores da organização, reconhecendo também o contexto em que será aplicada (Qual a realidade das pessoas, dentro e fora da organização?);
- Conformidade legal do seu texto com as leis vigentes, além dos acordos individuais ou coletivos já estabelecidos;
- Engajamento pela transparência, garantindo que todo o processo seja comunicado de maneira efetiva, transmitindo às pessoas seu propósito, enquanto Política Integrativa, reconhecendo o papel de colaboradoras e colaboradores em suas responsabilidades, além de, idealmente, estabelecer uma perspectiva de futuro, traçando uma linha de horizonte (Onde pretendemos chegar, por meio dessa política?).
Na oficina, compartilhamos com o grupo o papel de gestores, lideranças e profissionais ligados à Gestão de Pessoas e Cultura no desafio de escutar colaboradoras e colaboradores para compreender quais as Políticas Integrativas imprescindíveis, para determinados cenários, ou quais diretrizes precisam constar num novo acordo. Um trabalho essencial para acordos sustentáveis.
O exercício da Escuta
Existem diversas maneiras de promover essa escuta, incluindo as ferramentas tecnológicas disponíveis, que auxiliam nas chamadas Pesquisas Organizacionais. Porém, mais do que a escolha do formato, que pode ser desde um formulário digital, considerado para grupos muito grandes, até as entrevistas de profundidade com lideranças ou times menores, o que importa é conseguir elaborar questões e extrair das respostas quais os interesses comuns das pessoas.
O desafio está em romper com a ideia de “lados”, tanto em relação ao individualismo dentro dos próprios times quanto na dualidade entre os profissionais versus a organização. Claro, essa não é uma tarefa fácil, afinal, estamos falando de convergir interesses de colaboradoras, colaboradores e da organização, considerando ainda os outros stakeholders, as demais pessoas impactadas, como fornecedores, parceiros, investidores e a própria sociedade.
No entanto, envolver as pessoas nesse processo gera, inclusive, o aumento da consciência das pessoas sobre essa complexidade; uma excelente forma de introduzir o Pensamento Sistêmico no dia a dia de profissionais, times e na gestão do negócio.
Identificados os interesses comuns, o processo de construção de uma Política Integrativa segue os passos seguintes, buscando a coerência entre prática e discurso, a conformidade legal e o engajamento pela transparência; temas para outros encontros e textos futuros.
Segurança e Produtividade
A construção de ambientes de trabalho mais seguros e produtivos envolve olhar sobre a Dimensão Social do ESG, de dentro para fora da organização, começando pela escuta para construção desses novos acordos, na forma de Políticas Integrativas.
A segurança, especialmente a psicológica, depende da clareza em relação aos papéis e responsabilidades, de profissionais e times, na dinâmica cotidiana do trabalho. Exemplos disso é o Código de Conduta, documento que estabelece princípios fundamentais de respeito, propondo assim, de certa forma, papéis e responsabilidades de todas as partes envolvidas na convivência e colaboração.
O que antes poderia ser visto como mero conjunto de regras, uma formalidade legalmente, e obrigatória para alguns casos, pode ser tornar a materialização de acordos que trazem consciência à dinâmica entre múltiplas subjetividades. Pode parecer bastante filosófico, mas essa é a potência por detrás das Políticas Integrativas, uma forma de começar a jornada do ESG, de dentro para fora na organização.
E na sua organização, como é identificada a necessidade de uma nova Política? Qual o processo para sua construção e implementação? A propósito, como você tem escutado as pessoas com quem você convive e trabalha?
Essas e outras questões merecem nossa atenção e reflexão, em especial quando assumimos o compromisso de uma jornada ESG!
Destaques
- Mesa-redonda debate atuação dos CCOs para edição 2024 da revista Valor Setorial Comunicação Corporativa
- Conferência Internacional de pesquisadores em RP abre chamada para submissão de resumos
- Comerc Energia é nova associada da Aberje
- Em lançamento da segunda edição de “Muito Além do Media Training”, autoras comentam as atualizações da obra e importância do tema
- 28% das empresas observa alcance e abrangência como principal desafio comunicacional, aponta pesquisa sobre comunicação no mercado financeiro
ARTIGOS E COLUNAS
Giovanni Nobile Dias Agilidade sem perder a qualidade: desafios da comunicação contemporâneaRicardo Torreglosa Anuário da Comunicação CorporativaLuis Alcubierre Manipulação Positiva: Uma Nova Abordagem para o Sucesso ColetivoGiovanni Nobile Dias Comunicação estratégica amplifica responsabilidade coletiva sobre a sustentabilidadeTatiana Maia Lins Gestão da Reputação é um tema sério, cuidado com oportunistas de plantão