24 de julho de 2017

O empoderamento feminino veio pra ficar, Olivetto

Seguindo a máxima de que um dia sem polêmica é um dia perdido, a internet está às voltas com a entrevista do publicitário Washington Olivetto à BBC Brasil.

Nela, o criador de campanhas clássicas como a do Garoto Bombril e Meu Primeiro Sutiã, afirma que o “empoderamento feminino é um clichê constrangedor”. Constrangidos ficamos nós, Olivetto.

Está certo que o título da matéria é bem caça-clique e que você disse coisas importantes, como “empoderamento feminino se pratica, não se prega”. Mas a comparação de mulheres a automóveis e a reprodução da ideia de que fazer graça é mais importante que não reproduzir estereótipos pegaram mal.

O mundo mudou, Olivetto. Hoje a piada engraçada é aquela de que todos acham graça. Não se ri mais do gordo, mas com o gordo. Entende a diferença?E isso não quer dizer que ficamos mais chatos ou que a nova geração seja fiscal de criatividade. Muito pelo contrário. A diferença é que hoje temos mais consciência do alcance e do papel da comunicação.

A publicidade forma gostos, pode reforçar preconceitos e espalhar mensagens bastante equivocadas. Mas pode fazer o inverso disso tudo também e colaborar para a construção de uma sociedade mais justa, inclusiva e empática.

Falando assim parece chato? Garanto que não é o caso e dá pra divulgar valores mais bacanas e atuais até vendendo sabão em pó – ou palha de aço, se você preferir.

Sabia que no Brasil 1 em cada 3 pessoas culpa a própria mulher pelo estupro sofrido? Que a cada 11 minutos uma brasileira é violentada? Empoderar as mulheres – na publicidade, no trabalho e em toda a sociedade – é uma questão ética e de sobrevivência, Olivetto.

Você não é o primeiro que derrapa falando sobre diversidade. O Nizan também escorregou e ainda vão tomar uns tombos todos os medalhões que não perceberem que o contexto hoje é outro.

Meu conselho não solicitado é o seguinte: chama o pessoal da sua agência pra conversar. Veja o que os mais jovens têm a dizer sobre a repercussão da sua entrevista. Se pessoalmente todos concordarem com você, melhor mudar de tática e tentar, sei lá, bilhetinhos anônimos. Aí, quem sabe, a verdade pode aparecer. Só não dá pra concordar com você, Olivetto.

Os artigos aqui apresentados não necessariamente refletem a opinião da Aberje e seu conteúdo é de exclusiva responsabilidade do autor.

Ricardo Sales

Ricardo Sales é consultor de diversidade, pesquisador e conselheiro consultivo. É formado pela USP, onde também realizou mestrado sobre diversidade mas organizações. Atua para algumas das maiores empresas do país. É conselheiro do Comitê de Diversidade do Itaú. Foi eleito pela Out&Equal um dos brasileiros mais influentes no assunto diversidade nas organizações e ganhou o Prêmio Aberje de Comunicação, em 2019. Foi bolsista do Departamento de Estado do Governo dos EUA e da Human Rights Campaign, sendo reconhecido como uma liderança mundial no tema diversidade. É também palestrante, professor da Fundação Dom Cabral e da Escola Aberje de Comunicação, colunista da revista Você SA e do Estadão, além de membro-fundador do grupo de estudos em diversidade e interculturalidade da ECA/USP.

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