07 de junho de 2016

Gay não é tudo a mesma coisa

O título deste post pode parecer meio óbvio, mas, como diz aquela máxima, às vezes o óbvio precisa ser dito.

É bastante comum tratar a população LGBT como se o grupo fosse uniforme e homogêneo, o que não é verdade.

E para nós, comunicadores, entender algumas distinções é fundamental para construir textos e peças que estimulem o diálogo, a empatia e a reflexão.

Pra começar, é importante estabelecer uma diferença entre orientação sexual e identidade de gênero.

A primeira explica para onde o desejo, o afeto e a atração se encaminham. Desta maneira, entre as diversas possibilidades, as pessoas podem, por exemplo, ser gays, lésbicas, heterossexuais, bissexuais, assexuais…

Já para entender a questão da identidade, é preciso primeiramente diferenciar sexo de gênero. Sexo é um dado biológico e tem relação com a formação da genitália, a produção hormonal e os órgãos reprodutores. O sexo pode ser feminino, masculino ou uma junção dos dois, caso das pessoas intersexuais – que eram chamadas de “hermafroditas” há um tempo.

O gênero, por sua vez, é uma construção social e determina as possibilidades e limitações que são depositadas sobre os nossos corpos mesmo antes do nascimento.

Pense numa mulher grávida. Uma das perguntas que ela ouve com mais frequência é qual o sexo do bebê e qual será seu nome. A partir dali, já se desenham as primeiras expectativas baseadas no comportamento esperado socialmente de um homem ou uma mulher.

As pessoas que estão confortáveis com o gênero designado no momento do nascimento são chamadas cisgênero. Aquelas que reivindicam o reconhecimento de um outro gênero são chamadas transgênero.

Este último é o caso das travestis, mulheres e homens trans. São pessoas que querem ser reconhecidas por um gênero diferente daquele imposto pela medicina e pela sociedade.

O cotidiano dessas pessoas é marcado pelo preconceito, chamado de transfobia, e pela negação de direitos.

As dificuldades começam na família, passam pela escola e chegam ao ambiente de trabalho, onde as portas quase sempre são fechadas, ainda que haja a qualificação necessária.

É importante ressaltar que a identidade de gênero não é associada à orientação sexual da forma como se costuma imaginar. Ou seja, pessoas trans também podem ser lésbicas, hétero, gay ou bi, independentemente do gênero que reivindicam. Não é porque alguém demanda reconhecimento como mulher, por exemplo, que ela quer necessariamente se relacionar com homens. Pode ser uma mulher trans lésbica e se sentir atração por outras mulheres, trans ou cis, entre inúmeras outras possibilidades.

As pessoas trans também não são todas iguais, claro. Existe diferença entre travesti e mulher trans, por exemplo?

A resposta é “sim”, mas isso já é assunto para outro post.

Por ora, fica a dica: na dúvida, pergunte como as pessoas preferem ser tratadas e tenha sensibilidade com o uso dos pronomes.

A travesti é chamada no feminino, o homem trans, no masculino, e isso independe da aparência física.

Ainda tem dúvidas? Compartilhe comigo nos comentários e voltamos ao assunto nas próximas semanas.

Leia mais sobre diversidade na próxima edição da revista Comunicação Empresarial, que vai abordar as questões de gênero e LGBT na comunicação. Disponível na segunda quinzena de junho, no site da Aberje.

Os artigos aqui apresentados não necessariamente refletem a opinião da Aberje e seu conteúdo é de exclusiva responsabilidade do autor.

Ricardo Sales

Ricardo Sales é consultor de diversidade, pesquisador e conselheiro consultivo. É formado pela USP, onde também realizou mestrado sobre diversidade mas organizações. Atua para algumas das maiores empresas do país. É conselheiro do Comitê de Diversidade do Itaú. Foi eleito pela Out&Equal um dos brasileiros mais influentes no assunto diversidade nas organizações e ganhou o Prêmio Aberje de Comunicação, em 2019. Foi bolsista do Departamento de Estado do Governo dos EUA e da Human Rights Campaign, sendo reconhecido como uma liderança mundial no tema diversidade. É também palestrante, professor da Fundação Dom Cabral e da Escola Aberje de Comunicação, colunista da revista Você SA e do Estadão, além de membro-fundador do grupo de estudos em diversidade e interculturalidade da ECA/USP.

  • COMPARTILHAR: