Aumentam as vozes que buscam uma articulação entre a floresta em pé e o crescimento econômico
Há pouco tempo, a temática do meio ambiente e da economia estavam em lados opostos nas discussões sobre desenvolvimento. Foi nas últimas décadas do século XX que a comunidade internacional entendeu que um caminho de articulação poderia render mais avanços do que uma insistente disputa. Nesse contexto, ganha forma e força o comportamento corporativo alinhado às práticas que estão sob a rubrica ESG (Environmental, Social, Governance): padrões, serviços, investimentos, protocolos e modelos que podem colocar em conversa, em vez de enfrentamento, a necessidade de uma política ambiental consistente e o crescimento econômico.
O tema foi debatido durante o webinar “Comunicação e desenvolvimento sustentável: a imagem da política ambiental e das mudanças climáticas nas mídias sociais”, organizado pela Diretoria de Análise de Políticas Públicas da Fundação Getulio Vargas (FGV DAPP), com apoio da Embaixada da Alemanha em Brasília. A iniciativa faz parte do projeto Democracia Digital. Na ocasião, representantes do poder executivo, do terceiro setor, da academia e da imprensa discutiram a importância da comunicação digital no âmbito da formulação, implementação e promoção de políticas ambientais no Brasil.
Durante o evento, Helder Barbalho, governador do Pará e membro do Fórum de Governadores da Amazônia Legal, defendeu uma comunicação pública que, além de combater a desinformação entre os produtores rurais, evidencie a coexistência entre a floresta em pé e o crescimento econômico. Alexander Bonde, secretário-geral da Fundação Alemã para o Meio Ambiente (DBU), exemplificou a questão ao afirmar que, na Alemanha, a articulação entre a política econômica e a política ambiental está permitindo o desenvolvimento de um mercado de tecnologias ambientais. Ele atribuiu esse cenário a um amplo apoio da opinião pública, em muito mobilizada nas redes sociais.
O engajamento da sociedade civil, de acordo com Vivian Fasca, diretora de fundraising do Greenpeace Brasil, é imprescindível para comunicar a centralidade do desenvolvimento sustentável. Em sua fala, ela destacou o papel das mídias sociais para introduzir essas questões no repertório da população. O jornalista e secretário-executivo da Repórter Brasil Marcel Gomes acrescentou que alimentar a opinião pública, no Brasil, é uma tarefa mais complexa do que tornar esses assuntos conhecidos. Para ele, mais do que pautar a temática na imprensa, por exemplo, é necessário municiar os diferentes atores de dados e informações capazes de fundamentar a construção dessa opinião pública.
Paulo Nassar, diretor-presidente da Associação Brasileira de Comunicação Empresarial (Aberje), em sua participação no webinar, reforçou o papel que os atores têm na circulação dessas discussões, considerando que os usos que fazem das mídias sociais ampliam o debate público. Nesse sentido, afirmou que podemos pensar em um uso dos dispositivos digitais a partir de novos rituais de informação, práticas que proporcionem uma adoção estratégica da comunicação não como um embate, mas como uma interlocução. Ele concluiu dizendo que ser estratégico é promover diálogos.
Estudos da FGV DAPP têm corroborado essa ideia, à medida que mostram a atuação de usuários de mídias sociais na circulação de tópicos relacionados ao meio ambiente. Em junho de 2021, foi identificado um aumento no número de perfis e interações de ativistas e organizações ambientais no período analisado. De acordo com a pesquisadora Sabrina Almeida, as análises apresentaram presença relevante – em interações e número de participantes – de perfis que se organizaram em torno da pauta da mudança climática. Tuítes virais chamaram a atenção para o desequilíbrio climático (vinculado aos recordes de temperaturas registradas recentemente em diferentes países), ironizando argumentos que desacreditam o aquecimento global. Os dados revelaram, ainda, que esse grupo de atores engajados nos temas ambientais trouxeram à discussão reflexões sobre a possibilidade de um racionamento elétrico em função da crise hídrica atual. Tal achado, para a pesquisadora, sinaliza uma perspectiva que articula o argumento econômico com pautas e políticas ambientais.
Desse modo, embora a construção narrativa de interlocução seja um grande desafio, sobretudo no âmbito da comunicação digital, ficam cada vez mais visíveis suas condições de possibilidade, dentre as quais se destacam: o desenvolvimento de uma comunicação pública coerente, o uso estratégico da comunicação digital e o engajamento da sociedade civil em tais discussões.
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