Podemos afirmar que os impactos da crise climática são perceptíveis e acontecem em nível global, mas não podemos desprezar a influência local que, ao mesmo tempo em que sofre as consequências das mudanças do clima, também tem uma triste contribuição para esse atual cenário em que vivemos. Essa afirmação vem embasada não só nas consequências que são enxergadas a olho nu por todos nós. Há uma legião de cientistas que atua, incansavelmente, nos bastidores das ocorrências que ameaçam o meio ambiente. Um exemplo disso acontece com o Projeto Arara Azul que, há 32 anos, trabalha no Pantanal, maior área úmida continental do planeta e um verdadeiro laboratório vivo, em prol da conservação da arara-azul-grande e, para isso, realiza pesquisas e atividades de campo para, também, promover a conservação desse bioma.
Sob o comando da bióloga Neiva Guedes, idealizadora e coordenadora do projeto que, em 2021, entrou no Hall da Fama Mulheres da ONU e foi citada em um livro britânico que destaca as mulheres heroínas da conservação, o Arara Azul, apoiado pela Toyota do Brasil desde a sua instituição, hoje conta com o apoio da Fundação Toyota Brasil para a realização das ações que fazem parte do escopo da iniciativa. Monitorar, recuperar e fazer o manejo dos ninhos naturais e a instalação dos artificiais, além da observação do período de reprodução das aves, bem como seus resultados, são algumas das atividades desenvolvidas pelos pesquisadores do projeto. Há, ainda, um acompanhamento do crescimento dos filhotes. O resultado disso é que, dos anos 90 até hoje, a quantidade de araras-azuis subiu de 1,5 mil para 5 mil, segundo dados do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). Além disso, em 2014, as araras azuis foram retiradas da lista de espécies da fauna brasileira ameaçadas de extinção pelo Ministério do Meio Ambiente, resultado de um trabalho coletivo do Arara Azul e de outras organizações socioambientais.
A educação ambiental também é uma das diretrizes de atuação do Arara Azul, e isso deve-se à preocupação do projeto em conscientizar e sensibilizar as crianças, principalmente, para que aprendam a importância de conservar o Pantanal e, consequentemente, as araras azuis. Com esse objetivo, a equipe técnica da iniciativa realiza diversas ações com o público-alvo, por meio de visitas à sede, às oficinas e palestras nas escolas da região onde atuam.
A valorização da pesquisa científica é essencial para que um trabalho desse porte possa ser planejado e executado com sucesso, realizado a longo prazo, com anos consecutivos de coleta de informações e atividades em campo para que consigam obter êxito na preservação da espécie e do seu habitat natural. Alinhado ao Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) 15, estabelecido pela ONU e que preza proteção, recuperação e promoção do uso sustentável de ecossistemas terrestres e da sua biodiversidade, o Arara Azul, de 2009 a 2021, acumula números expressivos que revelam a importância do projeto. Já foram realizadas mais de 160 produções técnico-científicas, instalados cerca de 270 ninhos artificiais, além de milhares de monitoramentos, que são realizados rotineiramente. Para otimizar esses monitoramentos, o projeto criou um sistema onde são colocadas medalhas numeradas nas araras azuis que, assim, podem ser monitoradas com mais facilidade e assertividade pelos pesquisadores, que também contam com a ajuda da população local nessa identificação.
Nos anos de 2019 e 2020, o projeto viveu um pesadelo. Os incêndios que atingiram o Pantanal causaram uma destruição sem precedentes, com efeitos severos que ainda perduram e exigem do Projeto Arara Azul um trabalho árduo de recuperação do que foi devastado. Um grande impacto na biodiversidade, na fauna, flora, e na vida do homem pantaneiro. À época, metade dos ninhos foram afetados pelo fogo e vários filhotes foram intoxicados pela fumaça. Mais de 60% do Refúgio ecológico Caiman, base da iniciativa, no Mato Grosso do Sul, foram atingidos pelos incêndios. O manduvi, árvore-chave para a conservação da espécie por fornecer 90% dos ninhos, em grandes cavidades que servem de abrigo e local de reprodução para as aves. As palmeiras: acuri e bocaiúva, que servem de alimento para as araras, também sofreram com as queimadas e houve escassez de alimentos não só para as araras-azuis, mas também para outros elementos da fauna pantaneira. Na estação reprodutiva 2020-2021, as araras azuis sentiram o impacto das queimadas. Dos 181 ovos postos, nasceram 103 e apenas 55 voaram. Um número que representa cerca de 53% dos filhotes nascidos ou 30% dos ovos postos.
Na última estação reprodutiva 2021-2022 que terminou em abril, o projeto acompanhou uma expressiva evolução, fruto de um trabalho meticuloso e persistente, levando em consideração que se trata de uma espécie que teve grande perda de ovos e filhotes no ano passado. Houve postura de 211 ovos, de onde nasceram 115 filhotes e 83 voaram, o que representa 72% dos nascidos. Proporcionalmente, são dados mais animadores do que os de 2021. E tudo isso deve-se, sobretudo, à pesquisa científica e ao trabalho de campo realizado pela equipe. Para isso, foi preciso aumentar a colocação de ninhos artificiais, suplementar a alimentação de algumas araras e aumentar as atividades de educação ambiental na região. Ainda hoje, as aves sofrem com os impactos provocados pelas mudanças climáticas, como a variação brusca de temperaturas e as chuvas concentradas em pouco espaço de tempo, e o projeto Arara Azul segue desempenhando sua função com louvor. Em meio a uma crise ambiental que preocupa a todos que atuam pela conservação do meio ambiente, o voo das araras azuis representa um símbolo de liberdade e esperança, onde precisamos buscar inspiração para aprender a respeitar a natureza e conservá-la para que seja livre, além de entender nosso lugar nesse contexto: o de inspirar a geração atual para que repensem o futuro e a importância de conciliar o desenvolvimento com conservação ambiental.
Destaques
- Retrospectiva Aberje 2024: mundo em crise e transição
- Tema do Ano “Comunicação para a Transição” é renovado para 2025
- Valor Setorial Comunicação Corporativa 2024 analisa importância das conexões e da transparência na Comunicação
- Aberje participa de jantar comemorativo dos 25 anos da Fundação Gol de Letra
- Web Summit Lisboa 2024: Inovação e ética em um futuro moldado pela IA
ARTIGOS E COLUNAS
Carlos Parente Na comunicação, caem por terra influencers sem utilidade e erguem-se, aos poucos, os curadores de conteúdoGiovanni Nobile Dias Como você tem nutrido seu cérebro?Marcos Santos Por tempos melhoresThiago Braga O impacto de modernizar a Comunicação Interna em uma grande indústriaGiovanni Nobile Dias O alarmante retrato da leitura no país