06 de janeiro de 2018

2017 foi o ano da diversidade. 2018 precisa ser o da inclusão.

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Comecei o ano passado com uma previsão, feita no meu perfil no LinkedIn: 2017 seria o ano da diversidade. Não era um chute ou um palpite vazio. A reflexão foi feita a partir da observação dos movimentos que acontecem na sociedade e também no universo das marcas e empresas.

E de fato 2017 foi um ano importante. Nunca se falou tanto sobre diversidade nas organizações que atuam no Brasil. Cada vez mais executivas e executivos têm estimulado discussões sobre respeito, assédio e promoção da igualdade a todas as pessoas, independentemente de gênero, raça, condição física ou orientação sexual.

Algumas empresas têm atentado para o seu papel na apresentação de soluções para os maiores problemas do país, o que passa por uma discussão sobre os desafios do mercado de trabalho. Se é verdade que neste momento temos uma massa de pessoas desempregadas, também é fato que mesmo nos tempos de bonança as oportunidades sempre foram muito mal distribuídas.

E não é preciso nenhuma pesquisa muito elaborada para atestar isso. Basta comparar o Brasil que vemos nas ruas, na hora em que saímos para almoçar, com aquele que aparece na maior parte dos nossos escritórios, quando voltamos da pausa.

Nossa população é majoritariamente negra (54%) e feminina (51%). Outros milhões são LGBT + e muitos outros têm algum tipo de deficiência (23,7%). Nossas empresas, porém, são quase sempre muito iguais: o topo é branco e masculino.

Mulheres representam pouco mais de 10% dos conselhos de administração e pessoas negras não alcançam 5% entre os diretores das 500 maiores empresas do país, segundo dados do Instituto Ethos. As pessoas com deficiências, apesar dos avanços incentivados pela Lei de Cotas, seguem à margem das posições de maior prestígio. Muitas lésbicas e gays estão no armário em seus trabalhos (65%) e pessoas trans raramente têm acesso ao mercado formal.

Esse ciclo de exclusão prejudica nosso crescimento como sociedade, empresas e indivíduos. Um país que não dá oportunidades iguais a seus cidadãos não prospera de forma contundente; organizações que não se preocupam com a diversidade perdem em termos de engajamento e inovação; e pessoas que não convivem com as diferenças não exploram todo seu potencial.

Apesar das tantas carências e de alguns tropeços, em 2017 vimos esta pauta ganhar mais espaço. Não foi fácil e este processo aconteceu às custas de alguns embates, inclusive com alguns que não gostaram de ter seus espaços de privilégio questionados.

“Avançamos ou retrocedemos?”, costumam me perguntar. “Avançamos em meio a retrocessos e retroagimos em meio a avanços”, é o que costumo responder. É o paradigma da complexidade. Não existem respostas prontas ou fáceis no mundo atual.

Porém, se 2017 foi o ano da diversidade e muitas conversas se estruturaram, 2018 precisa ser o ano da inclusão, com ações ainda mais efetivas. Não que os debates devam parar, muito pelo contrário. É necessário discutir – e muito! – sobretudo em algumas indústrias, culturas ou ambientes mais resistentes (alô, empresas nacionais, precisamos de vocês!).

Mas tão importante quanto falar é se engajar com objetivos, metas e compromissos públicos. Falando concretamente, quantas pessoas com deficiências você pretende promover em 2018? Quantas negras e negros quer ver em seu quadro de gestores? E a taxa de retorno após a licença-maternidade, em qual patamar você espera que ela esteja no fim do ano que vem? Quantas pessoas trans você pretende entrevistar nos processos seletivos?

Refletir sobre essas perguntas é importante para estabelecer indicadores e acompanhar a evolução de nossas ações. Que em 2018 a gente possa avançar ainda mais em termos de diversidade, mas, acima de tudo, que este seja o ano da inclusão.

Isso depende da mobilização das empresas, governos, ativistas e entidades civis. Mas depende também do nosso engajamento pessoal, da nossa insatisfação com as injustiças, da nossa empatia, solidariedade e vontade de construir um país mais inclusivo para todas as pessoas. Vamos juntos?

Os artigos aqui apresentados não necessariamente refletem a opinião da Aberje e seu conteúdo é de exclusiva responsabilidade do autor.

Ricardo Sales

Ricardo Sales é consultor de diversidade, pesquisador e conselheiro consultivo. É formado pela USP, onde também realizou mestrado sobre diversidade mas organizações. Atua para algumas das maiores empresas do país. É conselheiro do Comitê de Diversidade do Itaú. Foi eleito pela Out&Equal um dos brasileiros mais influentes no assunto diversidade nas organizações e ganhou o Prêmio Aberje de Comunicação, em 2019. Foi bolsista do Departamento de Estado do Governo dos EUA e da Human Rights Campaign, sendo reconhecido como uma liderança mundial no tema diversidade. É também palestrante, professor da Fundação Dom Cabral e da Escola Aberje de Comunicação, colunista da revista Você SA e do Estadão, além de membro-fundador do grupo de estudos em diversidade e interculturalidade da ECA/USP.

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