Web Summit Lisboa (dia 1): ‘Go Europe’ é sinônimo de regulação de redes sociais
Victor Pereira, da área de Relações Institucionais e Internacionais da Aberje, em parceria com a associada Brivia, participa do Web Summit 2021 Lisboa, principal evento de tecnologia e inovação do mundo, e traz insights da conferência para os profissionais de comunicação
Após uma abertura grandiosa, o primeiro dia da conferência começa de verdade. Por aqui é preciso estar atento à programação, planejar o dia e o mais importante, ser flexível e se adaptar. Os palcos podem ser distantes um do outro e ir de um a outro pode significar perder minutos preciosos.
Regulação e redes sociais
Comecei o dia por uma coletiva do jogador de futebol Thierry Henry, em que o assunto era “GOL”, mais precisamente, a iniciativa Game of Our Lives, que combate o discurso de ódio online. Ao lado do presidente da plataforma, Dylan Ingham, e do diretor de marca da PUMA, Adam Patrick, Thierry pediu mais ação e colaboração das empresas que controlam as redes sociais na moderação de comentários de ódio, principalmente para aqueles feitos e dirigidos a jovens. O jogador é o primeiro entre atletas de destaque que boicotam as redes, e promete estar fora até que o abuso online seja regulado. Nas palavres de Henry, “eles não estão tentando mudar nada”. Ao contrário do que o técnico Beard, da série de TV Ted Lasso, pede a Thierry (S2EP9), eu digo: “Speak out, Thierry Henry!”. (Se você ainda não assistiu, por favor, termine o texto e veja Ted Lasso).
E a regulação é assunto corrente quando se fala das big techs por aqui. No palco denominado “Fourth Estate”, dedicado à discussão dos avanços e mudanças do jornalismo, os editores do Yahoo e BBC News fizeram uma recapitulação sobre os principais destaques da cobertura de negócios e tecnologia deste ano. Para eles, quando o assunto é o poder crescente das empresas de tech e os receios em relação a dados, privacidade e segurança, os EUA só reclamam e não chegam a uma solução. A China, por sua vez, expulsa empresas estrangeiras, além de manter bloqueios e controle máximo. Mas o que parece estar seguindo um caminho mais interessante são os países europeus. O “go Europe”, como sinônimo de seguir um modelo desenvolvido aqui no velho continente, significa mais restrições e regulação. Sendo a nossa LGPD brasileira inspirada no RGPD europeu, pode-se pensar que o Brasil segue um caminho interessante nessa questão.
Além disso, eles abordaram também como as empresas de tech estão se tornando políticas de uma nova maneira. Se antes as plataformas eram identificadas como um grande campo de disseminação de mensagens de um lado do espectro político, hoje elas são acusadas de assumir outro lado ao emitir restrições e fazer banimentos deste tipo de conteúdo. Soa familiar?
Jornalistas influenciadores
Para quem imagina que o Web Summit pode ser muito focado e especializado na indústria de tecnologia, irá se surpreender em como os temas relativos às transformações midiáticas estão presentes nos palcos da conferência. Neste caso, o número de seguidores é sempre uma questão insurgente. Quem está bem no jogo, tem sempre sua voz ouvida, enquanto a divisão entre jornalista e influenciador se torna cada vez menos clara. Esse foi o ponto de partida para a discussão sobre como manter os “portais de comunicação” abertos para as gerações nativas digitais.
Para Yasir Khan, editor-chefe da Fundação Thomson Reuters, a mídia tradicional precisa aprender a ouvir, mais do que só contar. Em suas palavras, “não ouvir não é uma opção”. Como o modo de cobrir não mudou nos últimos 70 anos, é preciso uma urgência em se adaptar. Khan ainda reforça que a adaptação se trata de entender que você nunca irá aprender tudo o que há sobre a internet, e essa é a parte divertida da coisa, pois todos os dias se aprende algo novo.
Ao responder se hoje se considera mais ativista do que jornalista, a repórter de política do The Shade Room, Judith Nwandu, revelou como encara, por exemplo, os seus seguidores antivax. “Ao invés de insistir para que as pessoas façam o que eu falo, tento incentivá-las a fazerem as perguntas certas sobre vacinação”, afirmou.
Simone Oliver, editora do Refinery29, reforçou que, mesmo em um mundo aparentemente controlado pelo número de seguidores, é preciso ter uma opinião. “Sempre vamos ser críticos, mas não cínicos”, disse.
Partindo quase que do mesmo ponto, o painel seguinte trouxe a CEO da VICE Media, Nancy Dubuc, que explicou que hoje as pessoas querem uma cobertura de quem soe como elas. E isso implica em ter mais produtores e jornalistas locais. A VICE, que aposta na cobertura audiovisual, publica de 700 a 1200 vídeos por semana globalmente e começa a oferecer plataforma para criadores de conteúdo utilizem suas ferramentas.
Para ela, o jornalismo está mudando, e precisa ser mais “utility”, atento com os mais jovens, com a forma e com o que eles consomem. Além disso, Dubuc vê uma demanda por curadoria. “É isso que a audiência quer”.
Diversidade e o que esperar de 2026
As discussões de diversidade também estão contempladas no Web Summit. A iniciativa “Women in Tech”, por exemplo, possui um espaço grande dedicado a reuniões e encontro de mulheres que lutam por uma maior representatividade em uma indústria historicamente dominada por homens. Além de descontos nos ingressos (caros) da conferência, a iniciativa promove workshops, mentoria e networking com o intuito de fomentar uma maior participação.
No painel “Criatividade precisa de Diversidade”, a CEO da agência Constellation, Diana Lee, contou como ajuda seus colaboradores a obterem greencards para trabalharem nos EUA. E disse, resignada, que no fim do dia as grandes empresas vêm buscar em sua agência os talentos diversos que procuram. Lee também deu grande ênfase para o olhar a plataformas que estão fora do radar na hora de conversar com públicos diversos, como a chinesa WeChat.
Por fim, em uma entrevista sobre o futuro do marketing e das comunicações, Margaret Wagner, CEO da Merkle, respondeu que entre as principais mudanças que gostaria de ver em ambas as áreas está mais “consumer control”, ou seja, os consumidores possuindo mais controle e decisão de quando e como acessar as marcas que amam. O que isso significa para nós, comunicadores?
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