Histórias e cases inspiradores marcam o Dia da Mulher Aberje
Evento reúne executivas de diferentes setores para humanizar histórias e apresentar o que as empresas estão fazendo na prática para o empoderamento feminino
A manhã desta sexta-feira (dia 6) foi com auditório da Aberje lotado, em comemoração ao Dia Internacional da Mulher, celebrado todo dia 8 de março. Com uma programação pensada para homens e mulheres refletirem sobre o tema, o evento contou com a participação de mulheres que contaram um pouco de suas trajetórias profissionais e pessoais. Em comum, o fato de todas exercerem algum tipo de liderança em diferentes setores da sociedade.
Para começar o dia, Fabiana Neves, presidente da Castrol no Brasil, Marília Villas Bôas, chefe de Comunicação Social e Ouvidoria do Hospital Militar de Área de São Paulo, e Dra. Daniella Lins Neves, diretora médica da AACD, refletiram sobre “A mulher à frente dos setores e poderes: uma reflexão sobre o feminino nas empresas, nos governos e nas organizações da sociedade civil”.
Filha de mineiro e neta de baiano, Fabiana Neves, que hoje lidera o Grupo Castrol no Brasil, conta que sua trajetória profissional não foi fácil. Ao perder o pai muito cedo, a executiva teve que assumir um papel de maior responsabilidade na família logo na adolescência. Do interior de São Paulo, deslocou-se para a capital com o intuito de estudar e dar início a sua vida profissional. Ela conta que já como estagiária passou a vivenciar as primeiras barreiras, simplesmente por ser mulher. “Eu comecei a perceber como a mulher era vista no mercado de trabalho e vi que teria que provar o porquê eu estava ali. Ou seja, despender energia apenas para provar que tinha capacidade. Energia essa que poderia ser gasta para produzir algo para essa mesma empresa”, avalia.
Fabiana considera que tudo começa com a autoconfiança e que a mulher tem que confiar em si mesma. “A gente não deve se abater nas primeiras dificuldades. Podemos ter as mesmas oportunidades que os homens mas é preciso que as empresas discutam cada vez mais esse assunto”, ressalta a executiva, lembrando que o ambiente familiar é o primeiro que deve promover a igualdade e garantir as mesmas condições para filhos e filhas.
Com esse mesmo pensamento, a diretora-médica da AACD, Daniella Lins Neves, comenta que não há como separar o lado pessoal do profissional e que tudo começa realmente em casa. “Eu e meus irmãos sempre tivemos incentivo dos meus pais para estudarmos e eu decidi que faria Medicina”, conta, lembrando que o percurso para tal sonho não foi fácil. “Essa área sempre foi predominantemente masculina no passado. De um tempo para cá é que as coisas mudaram. Não consegui entrar logo na faculdade, pois eu vim de escola pública e minha base não foi tão boa, mas meu pai me ensinou a ser otimista e estava sempre me apoiando”.
Com dificuldades financeiras, cursou a universidade e depois segui especialização em Ortopedia. “Fui fazer residência no Exército em Mato Grosso do Sul, época em que morei com 400 soldados! Eu era a única tenente mulher ali e nunca fui tão respeitada na minha vida”, revela. Ao voltar para São Paulo, Daniella conseguiu um estágio na AACD e se encantou. Sentindo que queria fazer isso para o resto da vida, resolveu estudar Ortopedia Pediátrica. “Aprendi que reabilitação é superação tanto para o homem quanto para a mulher”, comenta a médica, que não quis parar por aí e cursou Gestão de Pessoas. Ela conta que foi a primeira gerente médica mulher na associação e hoje atua como diretora de uma das unidades de São Paulo.
A história de Marília Villas Bôas, chefe de Comunicação Social e Ouvidoria do Hospital Militar de São Paulo, também é inspiradora. Ao se apresentar para o público, Marília dedicou sua participação no evento à sua mãe: “Minha mãe não sabia, mas era uma militar nata. Era ela quem mantinha o funcionamento da casa e a educação de dois filhos. Ela foi um farol para mim, pois sempre foi ‘pé no chão’, diferente do meu pai, mais sonhador. Foi dela e do meu irmão que veio a comunicabilidade que tenho”, conta.
A executiva conta que queria fazer Recursos Humanos e seguir os passos de sua prima, que já era militar. “Tive que estudar muito para conseguir uma das três vagas oferecidas em um concurso público e ainda assim, entrei porque duas pessoas não passaram no exame médico”.
Marília se define como extrovertida e brincalhona e para ela nem toda fase ruim na vida acarreta em algum mal. “Foi justamente nas piores fases que fui empurrada para frente e evoluí. A turbulência me tira da zona de conforto e me faz experimentar algo novo”, revela a militar, dizendo que jamais pensou em atuar na chefia. “Nunca pensei que seria chefe, foram três anos de muitos desafios. Tenho 20 anos de exército e nunca me faltaram com respeito ou me senti discriminada. Penso que as pessoas é que fazem o lugar. O exército entende as diferenças e não interessa qual o gênero que você tem”, frisa.
A segunda parte do encontro na Aberje mostrou o que algumas empresas estão fazendo na prática para o empoderamento feminino. Na ocasião, Rute Melo Araújo, diretora de Gente e Serviços na VLI; Patrícia Molino, head do Comitê de Inclusão e Diversidade e líder do KNOW – KPMG; Francieli Scatolin, executiva de vendas segmento automotivo da Arcelormittal; e Viviana Gonçalves Cavichia, Líder de Engenharia na Ecolab; com a mediação de Debora Gepp, responsável pelo Programa de Diversidade e Inclusão da Braskem, revelaram as experiências vividas em seus respectivos cargos e empresas.
Por meio de mentoria como linguagem de transição, a diretoria da VL! – holding de logística integrada que atua há nove anos no mercado e conta com ativos centenários –, pretende transformar a logística no Brasil. Rute Melo Araújo, diretora de Gente e Serviços, reconhece que é crucial que haja uma cultura de inclusão nas empresas. “Uma companhia é formada por grandes histórias, por isso pensamos em um programa de mentoria, que é uma das melhores formas de transição”, considera.
As ações desse programa são focadas na equidade de gêneros. “Com a finalidade de criar uma rede de apoio e desenvolvimento profissional, reforçamos a importância de promover autoconhecimento e potencializar pontos fortes das pessoas, assim como orientar e ajudar a elevar outras mulheres ampliando espaço para o gênero feminino e abrindo portas para mais mulheres”, acentua Rute. “A mulher não precisa mais agir como homem para crescer dentro de uma empresa, as pessoas diferentes é que fazem as diferenças. A empatia nos faz enxergar as pessoas sob outras perspectivas. Em nossa companhia, cada pessoa pode ser exatamente como é”, complementa.
“Ser o que se é” faz parte de um novo contexto de vida em que todos estão inseridos, visto que a geração Z se apresenta extremamente pragmática, indefinida, digital e comuna holics (que transita por múltiplas comunidades e gosta de fazer parte de diversos grupos). Dessa forma a executiva de vendas segmento automotivo da Arcelormittal, Francieli Scatolin, ressalta a importância da diversidade: “não se trata apenas de uma questão de direito social, mas de uma questão econômica”, frisa.
Pesquisa do Banco de Desenvolvimento Interamericano, aponta que se os países latino-americanos conseguissem equiparar a participação feminina à masculina no mercado de trabalho, o PIB da região teria um aumento de 16%. Paulatinamente, as empresas parecem caminhar para maior inclusão. “Precisamos do apoio e do engajamento de lideranças para alcançarmos nossos objetivos”, ressalta Francieli. “Devemos repensar o que é ser mulher. Que venham novas gerações em um mundo muito melhor”, conclui.
Nesse mundo melhor, cada um pode ser o que pensa ser melhor para si mesmo. “Existem mulheres que não querem assumir liderança alguma. o que temos que fazer por elas é melhorar o seu papel de executora”, analisa Viviana Gonçalves Cavichia, líder de Engenharia na Ecolab Brasil, que trabalha o Programa de Empoderamento Feminino – E3 em 40 países onde está presente, por meio de voluntários.
Empoderar, engajar e energizar a empresa para acelerar o avanço dos talentos femininos e assim promover o crescimento do negócio é o principal objetivo do programa. Recente no Brasil – desde 2017 –, o E3 vem tomando corpo em seu propósito de não apenas atrair novos membros, mas desenvolvê-los e retê-los. “Estamos vivendo uma transformação. Além da diversidade de gêneros, temos que ressaltar a importância da diversidade de ideias e de pensamentos, por exemplo. Tudo é um processo que acontece passo a passo”, considera a executiva.
Trata-se de um exercício. O exercício da diversidade. É assim que define esse passo a passo a executiva Patrícia Molino, head do Comitê de Inclusão e Diversidade e líder do KNOW da KPMG Brasil. O programa de equidade de gêneros – implementado há dez anos na empresa – ressalta a importância de promover a inclusão e a diversidade e os métodos para sua aplicação. “É preciso ter um ambiente engajado e inclusivo. Qualquer tipo de diversidade sempre traz bons resultados, mas é preciso sair da zona de conforto”, analisa. “A gente só percebe o outro de verdade quando nos incomodamos por termos que interagir com pessoas diferentes de nós. É assim que alguém se percebe como pessoa”, diz Patrícia.
https://www.youtube.com/watch?v=LausjLps-yg
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