Aberje promove Lab para levantar pautas mais relevantes no debate sobre mobilidade
Em encontro fechado, Lab reuniu executivos de comunicação, acadêmicos, pesquisadores e poder público para discutir desafios da mobilidade urbana, comunicação e sustentabilidade
O Lab de Comunicação para a Mobilidade realizou mais um encontro no dia 1 de dezembro, com o patrocínio da General Motors Brasil. Em um formato distinto dos encontros anteriores, o evento foi fechado para um grupo especialista no tema, profissionais da comunicação, acadêmicos, pesquisadores, pessoas do poder público e da sociedade civil. São profissionais gabaritados, de vários setores e de diferentes formações acadêmicas, que possibilitaram uma discussão profunda sobre o tema. O objetivo do encontro foi levantar as pautas mais relevantes no debate sobre a mobilidade no cenário brasileiro.
Participaram do encontro:
Nelson Silveira, diretor de Comunicação Corporativa e Marca da General Motors no Brasil
Walter Figueiredo De Simoni, diretor de Articulação Política e Diálogo do Instituto Internacional de Políticas Públicas – Talanoa
Margarete Gandini, coordenadora Geral de Fiscalização de Regimes Automotivos na Ministério da Economia
Giuliano Fernandes, responsável pela área de Comunicação e Marketing da Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineração (CBMM)
André Jalonetsky, diretor de Comunicação e Assuntos Institucionais da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea)
Sérgio Avelleda, sócio-fundador da Urucuia : Inteligência em Mobilidade Urbana e Coordenador do Núcleo de Mobilidade Urbana no Laboratório de Cidades do Insper Arq. Futuro
António Rapoula, VP da Associação Portuguesa de Comunicação Empresarial (APCE)
Nivalde de Castro, professor do Instituto de Economia da UFRJ e coordenador na GESEL – Grupo de Estudos do Setor Elétrico
Lilian Regina Pires, professora e presidente da Comissão de Direito Urbanístico da OAB/SP | Integrante da CMCP na Sec de Transporte Metropolitano SP
Paulo Nassar, diretor-presidente da Aberje e professor titular da ECA-USP
A mobilidade urbana
Ao contextualizar a mobilidade, o professor Walter Figueiredo ressalta a evidência de que são poucos os temas tão relevantes para a descarbonização com impacto para a qualidade de vida das pessoas quanto a questão da mobilidade urbana no transporte. “Existem três eixos fundamentais a serem discutidos no Brasil e que acontecem de forma concomitante e que é um grande desafio: (1) a questão da eletrificação, (2) a recuperação do transporte público no país e (3) a grande interface entre a eletrificação e a matriz energética”, resumiu.
Margarete Gandini, do Ministério da Economia, revela que o que está sempre em debate no Ministério é que a mobilidade do futuro será sustentável e de baixo carbono, flexível e eclética. “Isso porque cada espaço terá a sua melhor solução. Teremos uma gama de diferentes tecnologias de baixo carbono na frota veicular. Na nossa visão, o foco tem que ser dado na matriz e o caminho necessariamente não será o mesmo para todos os países, isso vai depender da fonte de energia e da infraestrutura disponível em cada espaço urbano”, acentuou.
“Sei que há um grande questionamento nas políticas de governo sobre a questão do elétrico, mas nossa posição é que não cabe ao governo dizer se o que vai predominar é elétrico, é hidrogênio, é híbrido, é biometano. Nós temos que definir o que nós queremos para a mobilidade de pessoas e de mercadorias e o que nós queremos é uma mobilidade sustentável de baixo carbono. E o mercado, as empresas e os consumidores vão se focar na busca das melhores soluções para cada situação e para cada espaço urbano. As soluções são diversas”, complementou Margarete.
Representando a cadeia de materiais, Giuliano Fernandes se diz em linha com o pensamento de Margarete em relação a questionar qual problema está sendo endereçado e ter um olhar para o contexto brasileiro. “Há outras questões que envolvem o problema, como a poluição, por exemplo, um tema ainda mais crítico, especialmente em grandes metrópoles do mundo; a questão da mobilidade e da eletrificação com qual objetivo de resolução de problema, indo além da questão climática”, argumentou.
André Jalonetsky, da Anfavea, também concorda com Margarete de que o foco é a descarbonização. “Para atingirmos esse objetivo, existem várias rotas tecnológicas. As montadoras no Brasil associadas à Anfavea oferecem distintas soluções, dependendo da aplicação do setor. Na área de pesados para longas distâncias, por exemplo, existem soluções à gás, soluções de biocombustível; nas soluções urbanas de transporte comercial, têm ônibus e caminhões elétricos que já estão circulando. e para carros de passeios, existem várias soluções tecnológicas disponíveis que caminham para uma rota de descarbonização”, disse.
“Reforço as palavras da Margarete de que a gente deve considerar a nossa matriz energética, o que temos disponível agora, temos que considerar a nossa infraestrutura para trazer energia produzida até onde ela é consumida. Nós também não acreditamos em uma solução única para o processo da descarbonização”, completa o executivo da Anfavea.
Para o consultor Sérgio Avelleda, a questão da mobilidade precisa ter prioridade na agenda do governo, a questão de retirar emissões do transporte é fundamental. Na ocasião, o executivo acrescentou que é necessário atacar a raiz do problema que é o planejamento urbano. “Nossas cidades cresceram se espraiando, distanciando-se, fazendo com que as pessoas tenham uma necessidade crescente em número de viagens e em quilometragem de viagens aos centros urbanos”, iniciou.
“Se a gente não mudar a lógica de desenvolvimento urbano, vamos continuar tendo linhas de metrô superlotadas, vamos continuar retroalimentando esse modelo. Se nós não nos conectarmos com os planejadores urbanos com políticas públicas de planejamento urbano que descentralizem as cidades, que revitalizem as áreas urbanas já existentes, que eliminem os vazios urbanos, a gente pode até trocar a matriz energética, mas alguma matriz energética nós vamos precisar para mover as pessoas. A raiz desse problema é a gente estimular o redesenho de cidades para reconstruir novas centralidades econômicas”, argumentou Avelleda. “Também temos que focar na mobilidade ativa, um elemento fundamental e radical na redução de carbono”, completou.
António Rapoula, VP da Associação Portuguesa de Comunicação Empresarial (APCE), comentou que o conceito de mobilidade está longe de ser o deslocamento de um ponto a outro. “Nós não termos que nos deslocar num determinado lugar hoje também é mobilidade urbana. Como o urbanismo afeta diretamente a mobilidade, a questão das novas tecnologias de comunicação também ajudam e muito a mobilidade. Evitar viagens afeta a mobilidade. Nós hoje podemos trabalhar de casa, a pandemia nos habituou a utilizar essas tecnologias”.
Outro ponto destacado por Rapoula, foi a questão do compartilhamento. “Eu gosto de pensar que a chave para a questão da mobilidade é a partilha nos meios de transporte. Eu prefiro um mundo em que os meios de transportes sejam compartilhados do que cada um tenha seu próprio meio de transporte”, colocou.
Na visão da professora Lilian Regina Pires, o recorte da eletrificação é muito importante com relação à questão da descarbonização e da questão ambiental quando se trata de mobilidade. “Mas temos problemas que precisamos analisar de maneira macro. Na questão do planejamento urbano, eu acrescento a governança e, portanto, as regiões metropolitanas. Esse é um ponto delicado e difícil de solucionar dadas as nossas circunstâncias, politicamente ele não é bem gerido pelos nossos gestores”, disse.
“Quando a gente pensa em eletrificação, isso está relacionado com o financiamento do transporte e com os modelos de contratação pública, com a questão da infraestrutura urbana e a infraestrutura de recarga. Junto a tudo isso há a mobilidade ativa e, portanto, um desenho de uma cidade mais calma, com proximidades e centralidades distribuídas, esse conjunto de situações nos leva a pensar na descarbonização e uma das formas é a eletrificação”, acentuou Lilian.
O economista Nivalde de Castro parte do princípio de que atualmente há um padrão de mobilidade urbana e inter-regional de diferentes tipos e um grande problema mundial. “É o problema da transição energética, como foi bem apontado aqui. O setor de transportes é um dos mais poluidores do mundo. Acredito que no Brasil ele fique disputando com a poluição industrial e nós temos uma pauta que é a sobrevivência da humanidade”, argumentou. “Então, existe o problema tecnológico, acima de tudo, como vamos diminuir as emissões de gases de efeito estufa. Por trás desse sistema flexível e eclético e dessa decisão tecnológica há uma indústria que é um oligopólio mundial, que vai ganhar inovações tecnológicas, que vão garantir uma economia de escala e vão pautar para um determinado padrão”, complementou.
“A tecnologia hoje é algo muito importante, até porque vivemos num processo de transformação tecnológica e industrial que provavelmente é a mais disruptiva, a mais rápida, a mais revolucionária que a gente tem desde a revolução industrial, Nós teremos um futuro em que a mobilidade será elétrica, autônoma, conectada e compartilhada”, disse Nelson Silveira.
Para ele, em termos de comunicação hoje, o grande desafio é entender o cenário e entender que as audiências estão muito dispersas. “As pessoas se agrupam por comunidades, temos muitos canais hoje. Por um lado é uma tarefa difícil para o comunicador, pois ele tem que entender como chegar ao seu público, e, por outro lado, temos uma multiplicidade de possibilidades e de oportunidades por termos ‘n’ canais e ferramentas”, complementou.
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