“A qualidade da comunicação nunca foi tão importante”
Em entrevista exclusiva ao portal da Aberje, Vânia Bueno, mediadora do curso “Liderança, cultura e gestão de mudança nas redes sociais corporativas”, promovido em parceria com o Workplace from Facebook e Aberje, explica como a comunicação é condição crucial para sustentar relações, atividades, negócios e saúde mental
Por Aurora Ayres
Criar relações colaborativas e confiáveis se tornou tão ou mais valioso do que dominar técnicas e conduzir processos no ambiente corporativo. A afirmação é da jornalista especialista em Comunicação Empresarial Vânia Bueno, em entrevista exclusiva para o Portal Aberje. Para a comunicadora, que escolheu o desenvolvimento humano e organizacional como trabalho e como causa, as habilidades de comunicação estão no topo dos requisitos para líderes do futuro.
Além de atuar como consultora, mentora e facilitadora em processos de coaprendizagem, Vânia é uma das especialistas acadêmicas da Escola Aberje de Comunicação convidadas a ministrar, no próximo dia 17, a Master Class “Liderança, cultura e gestão de mudança nas redes sociais corporativas”, primeiro módulo do programa Master Series Communication, cursos online gratuitos, promovido pela Aberje em parceria com o Workplace from Facebook.
“A comunicação é um caminho para a construção de novas narrativas sobre nós mesmos, sobre os outros, sobre o trabalho e sobre a vida”, ressalta Vânia, também fundadora da Anima Convivência Produtiva, que fala sobre comunicação, marcas, liderança e redes sociais na entrevista abaixo.
Qual o papel da comunicação em um contexto como este de pandemia e isolamento social?
Começando pelo essencial: sem comunicação não dá! Veja como a comunicação faz a diferença, inclusive para compreensão do contexto atual. Estamos vivendo um estado de isolamento físico e não social. A diferença entre um estado e outro é, justamente, a possibilidade de nos comunicarmos, mesmo à distância. Quando nos comunicamos somos socialmente ativos. A comunicação neste momento extremo é a condição para que as pessoas sustentem suas relações, suas atividades, seus negócios e sua saúde mental. Somos seres sociais e nos desenvolvemos na convivência com outros, portanto a comunicação, ou melhor, a qualidade da comunicação é mais importante do que nunca.
A comunicação através de canais digitais nunca foi tão potente e relevante. O que se espera das marcas neste ambiente?
A tecnologia faz com que transparência seja condição e não mais uma escolha. Como consequência, o posicionamento das organizações e suas marcas deve ser aberto, claro e, o mais desafiador, é essencial que seja coerente. Durante décadas, as áreas de comunicação e de marketing colocaram inteligência e recursos para construir percepção e imagem de empresas e produtos. Um aspecto muito importante na relação com seus consumidores, mas que era de mão única, sem interações e, em muitos casos, descompromissada com a verdade.
Durante muito tempo bastava ‘parecer’, e este padrão indesejado resultou em um baixo índice de confiança entre as empresas e seus públicos. Esta era mais uma manifestação dos modelos de gestão e de relacionamento em dinâmicas de ‘comando e controle’. As redes sociais tornaram os relacionamentos mais complexos e interativos, o que exige das empresas e dos comunicadores uma postura de maior abertura, discernimento e inclusão. Qualidades que transcendem fórmulas e apetrechos, exigem maturidade, bom senso e responsabilidade.
Como as empresas podem fortalecer o vínculo com seus públicos? Quais são as boas práticas no universo digital?
Quando pensamos em vínculo, é importante lembrar que empresas, marcas ou produtos não têm domínio sobre vínculos. Essa conexão mais profunda acontece nas pessoas, a partir de suas relações com esses produtos e serviços. O humano é determinante nessa vinculação. Para entender melhor é importante distinguir meio, ação e significado. Temos mais meios do que nunca – físicos e digitais –, andamos sofrendo overdose de ações e informações, mas pouco desse turbilhão resulta em significado.
Mais do que slogans, campanhas, links e lives, o que promove identificação e sustenta o engajamento são valores compartilhados. Para entender o que tem relevância é preciso ouvir, observar e refletir; artigos raros no mundo do corporativo movido pela meta do trimestre. Algumas empresas já se deram conta de que é preciso sair da superficialidade das ações em quantidade, para uma edição mais cuidadosa e abordagem mais profunda. Para provocar interesse e transformação, o ideal é buscar equilíbrio entre os três pilares da comunicação: meio, ação e significado.
É preciso humanizar as relações e entender que agora a vida pessoal está mais próxima do trabalho. O líder deverá se posicionar de que forma? Qual é o perfil ideal do líder no pós-pandemia?
Acredito que o que pode fazer diferença neste momento é entendermos, de uma vez por todas, que pessoas são maiores e mais complexas do que os papéis que representam. Papéis e atribuições foram criados para caber em caixinhas de organograma, currículos e planilhas com metas, produção e resultado. Pessoas, por sua vez, são sujeitas a humores, julgamentos e preferências. Aprendem, têm sonhos e sofrem.
Em um mundo onde cada vez menos se aceita o velho modelo mental do ‘manda quem pode, obedece quem tem juízo’, entender de gente, criar relações colaborativas e confiáveis se tornou tão ou mais valioso do que dominar a técnica e conduzir processos. Por isso, habilidades de comunicação estão no topo dos requisitos para líderes do futuro. A área de gestão de pessoas e comunicação interna, em muitos casos, se limita a fazer a gestão de papéis, aspecto importante, mas insuficiente para gerar engajamento. Papéis cumprem contratos. Pessoas se engajam.
Como chegar até elas? Líderes e pares precisam mais do que falar sobre isso, investir em autodesenvolvimento que torne possível revisitar conceitos e valores que não servem mais, questionar pressupostos e preconceitos, desafiar padrões que sempre deram certo e que agora precisam ser transformados. Mudar comportamentos negativos e defasados. A comunicação é um caminho para a construção de novas narrativas sobre nós mesmos, sobre os outros, sobre o trabalho e sobre a vida. Já dizia Wittgenstein: “O mundo é do tamanho da nossa linguagem”.
Quais os benefícios de uma rede social corporativa para o colaborador e para o líder? É possível se adequar às necessidades de ambos os lados? Essa seria uma solução também no pós-pandemia?
A rede social corporativa é primordial. Ela é o meio e a condição que torna possível a conexão. A evolução do que já foi: o mural, o jornalzinho, a revista, o e-mail marketing, a TV corporativa, tantos banners e eventos. Tudo isso agora pode ser acessado em um único lugar, com mais rapidez e possibilidades sem fim de aplicação e uso. É muito necessária. Sem o meio, não há comunicação. As redes corporativas são o que há de melhor até que os humanos avancem nessa odisseia por comunicação. A pandemia acelerou o curso que já era previsto, de profundas mudanças na forma que nos relacionamos, produzimos e consumimos. As redes sociais corporativas estão contribuindo muito para que esta migração seja possível.
Mas a rede social corporativa só tem utilidade se utilizada a partir de ações. Hoje há uma infinidade de alternativas e formatos, diferentes níveis de sofisticação, mais ou menos criativos, que fluem pela rede provocando e recebendo impactos. É sabido que muito desse recurso intelectual, tecnológico e financeiro é desperdiçado. Falar sobre adequação das necessidades é muito importante agora, para que a mudança estrutural resulte também no aprimoramento das relações de trabalho e na qualidade da convivência. Ouvir mais, incluir, cocriar, compartilhando propósito parece ser o caminho não para a pós-pandemia, mas para um novo marco civilizatório.
As inscrições para a Master Class podem ser feitas no link: https://bit.ly/MasterClass-17junho
Veja também:
Vânia Bueno falou sobre “Comunicação Consciente” no 4º episódio do podcast FalAção, em 13 de abril:
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