18 de julho de 2022

Grupo de liderança da Aberje se reúne para falar sobre conflitos dentro das empresas

Em uma conversa liderada por Daniela Grelin, diretora do Instituto Avon, membros do grupo debateram com Pamela Seligman, convidada especial, sobre como conversar com quem pensa diferente dentro das empresas

Diálogo é troca e consenso nem sempre é bom. Isso ficou claro durante mais um encontro online do LiderCom – grupo exclusivo de líderes da Comunicação Corporativa da associação –, realizado no dia 15 de julho. Participaram da reunião, a professora da Escola Aberje de Comunicação Pamela Seligmann, também consultora especialista em Comunicação Não-Violenta (CNV) e Daniela Grelin, diretora-executiva do Instituto Avon.

Ao abrir o encontro, o diretor-executivo da Aberje Hamilton dos Santos, comentou sobre o tema do ano da associação Conflito, Diálogo e Consenso: a comunicação como construtora de pontes. “Temos uma tendência de esconder um pouco os conflitos ‘debaixo do tapete’ para chegar a falsos consensos. Muitas vezes pensamos ter consensado, mas simplesmente demos uma ajeitada nas coisas e os problemas estão prontos a emergir”, comentou.

Na ocasião, Daniela Grelin, do Instituto Avon, ressaltou a importância do diálogo como prática que auxilia na aproximação da verdade a partir da inteligência coletiva. “Diálogo é feito de trocas em que não avançamos numa linha reta, pelo contrário, a gente avança por meio de aproximações sucessivas, pela escuta, pelo reconhecimento e pela distinção como uma dança em três tempos”, iniciou. “O problema é que o diálogo, muito frequentemente, é substituído pelo que vou chamar aqui de ‘lacração’, onde a escuta é atropelada, o reconhecimento é completamente esquecido e a distinção vira ataque”, completou.

Daniela Grelin

O diálogo é possível? Quando? “Sim, mas dá trabalho, é uma conquista, porque qualquer diálogo precisa partir do princípio de que eu tenho algo a aprender e algo a contribuir”, explicou Daniela. “Por isso mesmo o primeiro passo é ouvir. E aqui estou falando de escuta qualificada, escuta sem julgamento”. A executiva ilustra que essa escuta qualificada é um exercício: você deve ser capaz de reproduzir o que seu interlocutor disse, de modo que ele esteja de acordo com tal interpretação.

O segundo passo, o reconhecimento, é encontrar um ponto em comum. “Ainda que eu não concorde com tudo que o meu interlocutor propõe, será que há algo na argumentação dele que eu sou capaz de concordar? Se sim, minha sugestão é começar por aí”, explicou. “É assim que a gente vai construindo uma ponte de respeito e sanidade, a exemplo dos grandes mestres da retórica, uma arte que foi se perdendo nas plataformas de comunicação, entre perfis anônimos, com caracteres contados, robôs, argumentos superficiais. Nesses espaços a lacração é o nome do jogo”.

“O diálogo é fascinante exatamente porque ele nos permite transcender as nossas limitações e considerar outras ideias, outras informações e outras perspectivas”, destacou Daniela, acrescentando que isso faz parte de um processo de crescimento individual. “É importante tentar ver as nuances e como elas podem ser integradas em uma forma de compreensão mais rica e inovadora”.

O falso consenso

Na oportunidade, Daniela propôs uma reflexão sobre quais são as alternativas ao diálogo: “um deles é o falso consenso, mas existem outros bastante graves. As teorias da conspiração; a violência psicológica, moral e física; a censura. Mas nenhuma dessas alternativas é melhor do que o diálogo. Diálogo não é sobre comunicação apenas, é sobre convivência, porque falar nos ajuda a pensar e, portanto, a abertura ao diálogo é uma abertura à existência da outra pessoa e a sua liberdade de pensar”, disse. “O exercício do diálogo é o exercício da civilidade e se quisermos viver  em comunidade estamos fadados ao diálogo”, concluiu.

Para Pamela Seligmann, é difícil acreditar que o consenso seja algo extremamente bom. “Socialmente o consenso é perigoso, pois é o domínio de um pensamento único e isso é perigoso na construção de uma sociedade, é perigoso na educação, na família. Prefiro a palavra convívio. Como a gente escolhe conviver com pontos de vista diferentes que se somam, se agregam, se combinam, que constrói juntos”, acentuou.

“Martin Buber [filósofo, escritor e pedagogo austríaco naturalizado israelense] parte de um pressuposto que a gente esquece quando fala de diálogo: o eu-tu consiste no relacionamento pleno entre dois seres, englobando em sua amplitude os sentimentos e ideias de ambos; enquanto que o eu-isso – quando se coisifica o outro – envolve a relação entre um ser e uma parte do outro, limitando-o e reduzindo-o”, explicou Pamela. “Não sabemos lidar com o diferente, ainda quando o diferente nos perturba, o tornamos uma ameaça tão grande que, automaticamente, nos separamos dessa pessoa e a tornamos desumana”.

Daniela salienta que a Comunicação é uma função pivô, que está no centro das pressões, muitas vezes para se posicionar por questões culturais. “Na empresa, muitas vezes, em nome da diversidade e da inclusão, a gente acaba sendo excludente; em nome da heterodoxia, a gente acaba sendo extremamente ortodoxo. Tentamos doutrinar as pessoas e isso tem um efeito muito perverso na cultura”, destacou. “Tão importante quanto promover os marcadores de D&I nas estatísticas é criar espaços e cultura que saiba dialogar, reconhecer diferenças e saiba construir colaboração a despeito das diferenças”, complementou.

Para a especialista, o processo de transcender as diferenças passa por fazer reconhecimentos em relação às injustiças que herdamos, mas passa também por criar espaços de cura para prosseguir. “E se a gente entender consenso como uma concordância a respeito de como podemos prosseguir, a despeito das nossas diferenças em tantas outras coisas – dentro dessa definição –, o consenso é bem-vindo”, avaliou.

“Para mim, a área de Comunicação é a mais importante, pois é a área em que corre a circulação, a corrente sanguínea da empresa. Falar de diálogo é falar da cultura de uma organização. Diálogo, consenso, Comunicação Não-Violenta, dizem respeito a uma maneira da empresa tratar suas pessoas. Isso é coerência”, complementou Pamela.

 

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