Por muitos anos, a Inovação se manteve concentrada em áreas de P&D de grandes empresas, configurando-se como um mundo restrito a poucas pessoas. Porém, grandes transformações no mercado e na sociedade trouxeram tempos líquidos, não lineares, repletos de incerteza, que tornaram essa competência obrigatória para qualquer organização e profissional que pretendesse sobreviver e se manter relevante.
Tecnologias, comportamentos, expectativas, papéis sociais – tudo se transforma de maneira acelerada, e Comunicação é das áreas que sente abalos de maior magnitude.
Imagine que, há poucas décadas, ainda estávamos usando telefones com fio, enviando propostas comerciais por fax, limitados a meia dúzia de canais de TV aberta e operando processos bastante manuais. Padrões estéticos eram nada diversos, marcas viviam sob o conforto de monólogos, o papel reinava em jornais, revistas, cartas, quadros murais e memorandos.
Hoje, todos temos megafones virtuais para espalhar opiniões ao redor do globo, maratonamos a nova série da última semana quando e onde decidimos, processamos milhares de informações disponíveis em infinitos canais.
Uma década antes, os profissionais estudavam sobre as transformações esperadas na comunicação para os anos 2010 em diante. Muitas daquelas tendências se consolidaram e se fazem presentes em nossas vidas de comunicadores.
Já se previa a ascensão do indivíduo e mudanças de poder nas relações humanas na direção da comunicação de duas mãos, interativa, em tempo real, de mãos dadas com a desconcentração das mídias, o avanço de redes sociais, a fragmentação da atenção das pessoas. Também se observava no horizonte a necessidade de relevância da comunicação, em especial, em tempos de riqueza de informação que, como disse o economista Herbert Simon, cria a pobreza de atenção. Indivíduos e marcas foram se tornando publishers, o antigo movimento de conteúdo de marca (branded content) ganhou enorme força e as agências de comunicação precisaram se reinventar. Outro ponto memorável daquelas previsões era a importância da autenticidade para os novos tempos, o que hoje nos surpreende em imaginar que, no passado, ser coerente e transparente talvez não tenha sido sempre a prioridade.
Quais seriam as principais transformações da comunicação que observamos para esta década e que impactarão os movimentos de inovação em nossas organizações?
Naturalmente, várias tendências evoluem e se aprofundam a partir das mudanças dos últimos anos, incluindo acelerações ocorridas durante a pandemia do coronavírus.
A automação da comunicação é uma das mais fortes tendências para a década à medida em que construir comunicação frequente, relevante, personalizada, em modelos self-service, para impactar experiências positivas das pessoas é fundamental para as organizações que utilizarão mecanismos ágeis, inteligentes, guiados por dados.
É previsível que seguiremos cada vez mais dependentes de dispositivos como smartphones, conectados 24 x 7, impondo aos criadores formatos cada vez mais breves e superficiais. É um clique para ver vídeos de 10 segundos, escutar música que não passe de três minutos e ler mensagem que não ultrapasse muito mais que cem caracteres. Neste cenário, multimídia será a plataforma para se comunicar, com “mobile first”, e a priorização de vídeos, imagens e infográficos visuais resumidos.
Bom destacar que a criatividade e conteúdo de qualidade se tornarão ainda mais essenciais para atrair e reter a atenção das pessoas neste mar de distrações.
Também se observa a preocupação crescente das empresas com reputação e gestão de crises, alinhada com as expectativas socioculturais e os critérios ESG, pressionando para as organizações ampliarem seu olhar e sua comunicação para muitos outros stakeholders. São esperados posicionamentos, ações efetivas e o respectivo compartilhamento sobre práticas empresariais em relação à sustentabilidade, à diversidade, equidade e inclusão, a contribuições à sociedade, a qual cobrará mais do papel social das empresas, sem admitir greenwashing, contradições graves, omissões, comunicação não inclusiva, fake news.
Os avanços tecnológicos trarão muitos efeitos e oportunidades com a evolução exponencial da inteligência artificial, da realidade virtual e aumentada, metaversos, blockchains, NFTs e tantas outras dimensões que exigirão dos comunicadores a adaptação às molduras contemporâneas para reconstruírem nova comunicação com colaboradores, relacionamento com clientes, construção de marcas e crescimento dos negócios.
Ambientes de trabalho virtuais evoluíram muito na esteira de uma das maiores tendências destes tempos com mecanismos de colaboração, ainda em estágios embrionários, que nos permitem escolher entre teletrabalho, modelos presenciais ou híbridos e cocriar à distância. Certamente, viveremos avanços destes sistemas de comunicação interativa e colaborativa.
Ao lado do progresso tecnológico, há questões essenciais para o bem-estar do ser humano.
A comunicação será ainda mais preciosa no contexto ultratecnológico para reconquistar o engajamento das pessoas, fortalecer o senso de pertencimento ao redor de propósitos, promover a conexão humana em ambiente seguro, contribuir para o equilíbrio e saúde mental, o acolhimento, tolerância e respeito entre todos.
Com a mudança constante da sociedade, e voltando aos princípios da Inovação, o objetivo permanente dos comunicadores é continuar buscando a criação de valor para os seres humanos em cada contexto histórico, entendendo suas jornadas, contribuindo para suas experiências positivas em cada momento, e aplicando soluções proporcionadas pelas transformações dos valores culturais, das tecnologias, da economia, das legislações.
Vale adicionar que no Zeitgeist atual, não basta gerar valor somente para os seres humanos, mas é vital considerar o impacto do que fazemos em todo o planeta e sociedade.
Felizmente, entramos em uma Era em que não é aceitável focar apenas no valor para acionistas. Abrimos um momento em que queremos mensagens transparentes, verdadeiras, onde valorizamos vulnerabilidade, admissões de erro, humildade para aprender, humanidade. Inauguramos um período que valoriza as redes, a interdependência, o bem-estar. Não vale tudo pela audiência, não se promove algo danoso para o mundo, não se escondem fatos. É um desafio enorme, pois tudo é complexo, ambíguo, com milhares de nuances.
Nosso comportamento como comunicadores – e, claro, nossas habilidades e competências – estão sendo desafiados para evoluir a um próximo nível com a velocidade das transformações que vivemos. Para que sejamos protagonistas da geração de impacto positivo, é fundamental rever a maneira pela qual criamos valor. E isso promoverá mudanças em como trabalhamos e interagimos. Abertura às diferenças, à incerteza, ao erro caminharão lado a lado com o desejo permanente de aprendizado, o fomento à segurança psicológica e o exercício da criatividade. Temos, portanto, uma grande oportunidade adiante. E precisamos aproveitá-la.
Sabemos que o mundo e a comunicação seguirão mudando profundamente nesta década. Mas é imperativo que a Inovação na comunicação se realize de modo sustentável, guiada pelos melhores valores éticos. Depende de cada um de nós!
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