A hora e a vez das comunidades de aprendizagem
O paradigma da capacitação mudou. Hoje, as comunidades são um elemento essencial para a formação e melhoria constante dos talentos que fazem uma empresa. No entanto, essa é uma realidade para qual parte significativa do mercado reluta em olhar com a devida atenção, presa a um modelo que se estabeleceu na década de 1990: a capacitação 70/20/10.
No modelo 70/20/10, 70% do aprendizado da força de trabalho era desenvolvido a partir de experiências individuais, ou on-the-job, como chamamos em inglês; 20% por meio da interação com colegas e outras pessoas, a colaboração e feedback, e 10% via aprendizado formal em cursos, treinamentos, seminários e workshops.
Infelizmente, se sua organização ainda acredita e investe num modelo 70/20/10, é hora de mudar [o modelo] com urgência.
Para entender essa necessidade, é preciso olhar além do mundo corporativo. Nas últimas décadas, a forma de relacionamento interpessoal se transformou a partir de avanços na internet, via aplicativos de comunicação e plataformas de redes sociais. Essa transformação trouxe impactos na linguagem e na velocidade, que se espalham sobre diversos aspectos da nossa vida, inclusive nas experiências de aprendizagem, hoje voltadas para comunidades de aprendizagem tanto oficiais e estruturadas, quanto orgânicas e quase espontâneas.
Faço um desafio: Onde vocês, querido leitor e querida leitora, aprendem algo novo ou se aprofundam em temas específicos? Onde buscam conteúdo, esclarecem dúvidas e trocam experiências? Quantas vezes não mergulhou em comunidades específicas? Quantas vezes não recorreu a um influenciador competente? Quantas vezes a resposta correta não apareceu numa comunidade do Facebook, canal do YouTube, fórum de discussão ou grupo de WhatsApp?
Enquanto pensa na resposta, me adianto e aposto que sua experiência em cada um desses cenários foi rica, especialmente graças às possibilidades de resposta e comunicação de via dupla, naturais a uma comunidade de aprendizagem.
Não há por que uma empresa operar de forma diferente. E é por isso que precisamos mudar o modelo de capacitação.
60/20/10/10
O novo modelo de capacitação contém uma quarta categoria: a aprendizagem por comunidades. Essa categoria avançou sobre 10% das experiências pessoais e se igualou ao peso do treinamento formal. É um volume significativo e as empresas precisam se adequar para aproveitar as oportunidades oferecidas por essa mudança.
Isso significa facilitar o surgimento de comunidades de aprendizagem dentro do mundo corporativo. Uma plataforma que permite troca de experiências, conecta todos os colaboradores da empresa num ambiente seguro, seguindo políticas e regras de compliance da colaboração é indispensável. Além disso, recursos humanos e comunicação interna precisam estar prontos para atuar de forma que as pessoas se sintam seguras para usar sua voz de forma aberta, honesta e transparente.
Já observei diversos casos de sucesso onde foram criados grupos de comunidades formais a partir do esforço dos times de treinamento, RH e liderança, cujo resultado foram ambientes propícios ao engajamento dos colaboradores a partir de uma plataforma corporativa – o que garante que a empresa mantém controle sobre o conteúdo publicado, com curadoria e gestão do ambiente.
O mais interessante, no entanto, surge em seguida: a partir dessa infraestrutura, naturalmente surgem comunidades orgânicas para fins específicos, como ‘Amantes do Excel’, ‘Loucos por PowerBi’, e ‘Mecânicos sem Limites’ (Todos exemplos reais!). Em outras palavras, o poder de disseminação de conhecimento em comunidades de aprendizagem é muito eficiente.
Por isso, é muito importante – e se tornará ainda mais importante – dar a oportunidade para que as pessoas possam criar comunidades de aprendizagem no trabalho. Inclusive, é possível desenhar essas comunidades para atender demandas específicas da organização.
Por exemplo, uma comunidade de mentorias para ampliar a troca de experiências para além das relações um a um já existentes.
É possível criar um grupo sobre círculos de mentoria e compartilhar experiências de mentores e mentorados: o que estão aprendendo, o que está indo bem e temas que precisam de evolução. É uma ideia, mas as possibilidades são infinitas.
De volta aos modelos de capacitação, escrevi que as comunidades de aprendizagem representam 10% do impacto. Mas isso é o retrato de um presente em mudança acelerada. No futuro, a tendência é que esse tipo de comunidade se torne ainda mais relevante – e eu aposto que esse percentual aumentará muito.
Para acabar, gostaria de destacar quais são, na minha opinião, algumas atitudes necessárias para os times de comunicação e recursos humanos no contexto atual:
- Auxiliar líderes a entender a demanda crescente por comunidades de aprendizagem.
- Oferecer para áreas de treinamento e desenvolvimento uma plataforma que permita aos funcionários criarem comunidades, sejam elas oficiais ou orgânicas.
- Escolher e orientar embaixadores e moderadores para as comunidades oficiais de aprendizagem.
- Medir a evolução e engajamento das comunidades e seu impacto no negócio.
Na minha próxima coluna, trarei mais novidades para vocês! Até lá!
Destaques
- Comitê Aberje de Gestão da Comunicação e da Reputação Corporativas debate papel da Comunicação na gestão de crises
- Parceria inédita cria SPFC University, universidade com cursos de graduação e pós para a área esportiva
- Antônio Calcagnotto passa a integrar o Conselho Consultivo da Aberje
- Terceira temporada da websérie Insiders explora estratégias de grandes empresas para construir e manter relacionamentos
- Segunda edição da Conferência Internacional Amazônia e Novas Economias discute sustentabilidade e desenvolvimento
ARTIGOS E COLUNAS
Carlos Parente A comunicação precisa de um olhar menos vazioLeonardo Müller Bets no Brasil: uma compilação de dados e estimativasLeila Gasparindo A força da Comunicação Integrada: unindo Influenciadores e assessoria de imprensaAgnaldo Brito Diálogo Social e Comunicação Corporativa: A Construção do Valor na Era dos DadosHamilton dos Santos O esporte na mira da crise climática