Por que o governo não parece interagir com o setor cultural?
O presidente em exercício Michel Temer parece ter cometido dois erros de comunicação em relação à parte dos artistas, intelectuais, produtores e empresários de entretenimento: extinguiu o Ministério da Cultura – transformando-o em Secretaria Nacional da Cultura, submissa ao novo MEC – e não convidou mulheres para ocupar posições importantes na nova administração. Tomou a decisão em caráter sumário, sem ter consultado os interessados.
Temer foi apressado e provavelmente não mediu as consequências de sua decisão. Elas foram grandes. Em um show, Carlinhos Brown protestou contra a extinção do Ministério, e o público gritou “Maldade!” Em protestos anti-Temer no fim-de-semana, as mulheres gritaram contra o machismo do governo.
https://youtu.be/FP6dg4d_Wrc
Mesmo que muitos artistas e empresários tenham aprovado a extinção do MinC, pelo caráter de feudo, a proteção de artistas, grupos e empresas que se acostumaram a gozar privilégios junto ao ministério, o fato é que sua extinção pode prejudicar as empresas de espetáculos e entretenimento. Fica a dúvida: como, a partir de agora, vai funcionar o processo de obtenção de subvenções estatais e da renúncia fiscal para eventos culturais?
Temer corre atrás do prejuízo e quer matar dois coelhos com uma só cajadada. Mandou Marta Suplicy convidar a apresentadora Marília Gabriela para a secretaria – convite que ela recusou. Depois vieram funcionárias de carreira e Bruna Lombardi, que também recusaram. Continua a buscar obrigatoriamente uma mulher para a Secretaria, como se isso resolvesse o problema. Uma mulher na secretaria já irá ocupa um cargo de segundo escalão. Além disso, está sendo chamada por ser mulher, e não por sua competência, que ela deverá naturalmente ter. Não custaria detalhar os pré-requisitos da nova secretária.
Temer também disse na entrevista ao Fantástico que vai valorizar o “universo feminino” – afinal, elas são de Vênus e os homens, de Marte – e que a primeira-dama Marcela Temer terá uma “função social”. Pura rotina. Não seria mais eficiente manter no governo a proporcionalidade entre homens e mulheres que há na vida real, algo como 51% contra 49%? Porque deixar as mulheres em segundo plano significa também desprezar boa parte de líderes brasileiras, envolvida na administração pública e nas corporações, tanto na gestão como nas áreas de Comunicação.
A Secretaria de Comunicação do governo precisa encontrar um rumo. Por enquanto, não tem realizado ações positivas – talvez por absoluta pressa em resolver a economia. Comunicar medidas impopulares será um desafio para a Secretaria. Mas pior ainda é não comunicar nada, como fez em relação ao MinC. Construir uma ponte em vez de uma muralha com a indústria cultural não é uma prática saudável. Ao mesmo tempo, o setor cultural (artistas, curadores, produtores, empresários) não se preocupou em se aproximar do novo governo para dialogar. Porque ministério ou secretaria, de qualquer jeito a gestão cultural pública envolve governo e empresas privadas interessadas em cultura.
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