13 de outubro de 2015

Precisamos falar de Relações Públicas

Inspirada pelo artigo do brilhante economista e ex-presidente do Banco Central, Gustavo Franco, publicado em O Globo de 27 de setembro p.p., Precisamos falar de capitalismo, ouso reproduzir seu título. E assim como naquele artigo, vamos encontrar uma situação análoga: “No Brasil, pouca gente sabe definir o que é, mas muitos odeiam o capitalismo“. As reticências da sociedade ao termo aportam uma falsa percepção do seu verdadeiro significado. No caso das Relações Públicas poucos sabem conceituar essa atividade. Também desconhecem o perfil e o papel do profissional.

Conheço muitos que fazem questão de associar o relações-públicas aos “festeiros”, manipuladores e tantas outras conotações pejorativas. Os colunistas sociais generalizam: designam de relações-públicas todos “promoters” ou produtores de eventos. O colunista Reinaldo Azevedo se referiu a Sininho, agitadora e ativista social, como “jovem sem ocupação conhecida — parece não precisar de emprego… — que se oferece, assim, para ser uma espécie de porta-voz, melhor amiga e relações-públicas dos black blocs.” (Blog, Revista Veja 12/02/2014, às 04h36min). É também o caso do Ministro do STF, Ricardo Lewandowski, ao comentar as relações de Marcos Valério com o Banco Rural, durante sua exposição de voto na ação penal do mensalão: “relação promíscua”, “um agente de negócios”, “agia como um relações-públicas do Banco Rural”. Esses são aqueles que ignoram as Relações Públicas por puro preconceito ou desconhecimento. E pasmem, no Fantástico de 11 de outubro, até um “consultor de carreiras”, Max Gheringer, aconselha uma jornalista desempregada a assumir o papel de “personal reporter” ou relações-públicas nas mídias sociais para empresas ou empresários.

No mundo das novelas, o roteiro estabelece uma suposta ocupação que normalmente denigre o intérprete e o coloca na vala comum dos não qualificados. O talentoso Reynaldo Gianechini já foi relações-públicas de uma fábrica de bicicletas e de um costureiro francês. Questionada, a Rede Globo responde que as telenovelas são “obra autoral de ficção” para um público que “busca apenas entretenimento – seja na TV, no cinema, no teatro ou na literatura. Não refletem a realidade”. As novelas da Globo não trazem só o RP como protagonista desse mundo de ficção e lazer: “assessor de imprensa é o estelionatário que se deu bem, advogado não presta, é bígamo, assistente social é louca, médico é charlatão etc, etc, etcNo exercício da profissão e como ex-presidente do Conselho Federal, o tema e a forma de abordagem da profissão pela Rede Globo não é novidade”, comenta Sidinéia Freitas, presidente do Conrerp 2ª. Região, a propósito da questão.

Vamos deixar claro: entendemos que o relações-públicas é um profissional multidisciplinar, pois se municia de vários instrumentos para construir relacionamentos. Essa constatação de abrangência comprova que as fronteiras das relações públicas com a publicidade, as promoções, o jornalismo e o marketing estão demarcadas por uma linha divisória muito tênue. Há uma interação entre essas disciplinas que têm entre si características comuns. O elo entre elas é o de ter a comunicação como meio para levar as informações institucionais, os discursos ou as mensagens aos cidadãos, aos consumidores e à sociedade. E obter uma resposta ou reconhecimento. Seja de aliança, comprometimento, aceitação, compreensão, um ato de compra ou até uma rejeição. Percebe-se que o relações públicas é um maestro que desenvolve seu planejamento estratégico nessa pluralidade de possibilidades de ações.

Por isso Precisamos Falar de Relações Públicas. Aproveitar sempre essas oportunidades para esclarecer à sociedade o que RP pode fazer por ela, pois se constitui em arma poderosa para construir relacionamentos, administrar conflitos e desenvolver uma comunicação transparente. Aqueles que a praticam de forma qualificada reconhecem nela uma profissão que tem no seu DNA a promoção da harmonia e a conciliação de interesses entre uma organização e seus públicos preferenciais. Quando procuramos em qualquer ferramenta de busca uma imagem que represente as Relações Públicas, a que mais se apresenta é a de um aperto de mãos. Esse cumprimento é um dos mais antigos do mundo e expressava a paz entre os homens em um período da história em que praticamente todo mundo carregava alguma arma. Hoje é um gesto que expressa ou relacionamento, ou confiança, ou amizade. Ou a concretização de um acordo. Essa é a imagem que queremos sempre inspirar e provocar quando falamos sobre Relações Públicas.

Os artigos aqui apresentados não necessariamente refletem a opinião da Aberje e seu conteúdo é de exclusiva responsabilidade do autor.

Lala Aranha

Conselheira da gestão eleita do Conrerp Rio de Janeiro (2016-2018), foi presidente do Conrerp na gestão 2013-2015. É professora convidada do MBA de Comunicação Empresarial da Estácio Rio de Janeiro; conselheira do WWF Brasil; ouvidora do Clube de Comunicação do Rio de Janeiro; colunista mensal da Aberje.com. Lançou o livro Cartas a um Jovem Relações Públicas (Ed. Elsevier 2010); foi diretora da CDN Comunicação Corporativa; fundadora e diretora da agência CaliaAssumpção Publicidade e presidente da Ogilvy RP. É bacharel em Relações Públicas pela Famecos, PUC-RS; MBA IBMEC Rio de Janeiro, dentre outros cursos no Brasil e exterior. RG Conrerp 1ª. 2965.

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