Buscando uma comunicação Yin Yang
O atual cenário político-econômico brasileiro é de complexidade e um dos termos mais comentados e polêmicos é a polaridade. No meio político, corporativo, docente, na imprensa e nas ruas, o termo e suas implicações são amplamente citados e debatidos.
Entendendo os polos
A Química retrata a polaridade em elementos polares e apolares no sentido de opostos, pela anulação ou sobreposição de suas forças intrínsecas. O exemplo da água e do óleo, que não se misturam, representa bem o conceito. A Física explica os polos por meio de campos magnéticos que podem se atrair ou repelir, retratados usualmente pelo imã, pelos polos norte e sul.
Na Sociologia, a polaridade refere-se a tendências opostas existentes em grupos da mesma sociedade e está relacionada ao equilíbrio social de um conjunto de indivíduos.
Já na Filosofia chinesa, o Yin Yang representa a dualidade de tudo que existe no universo. O Yang é o princípio do masculino, fogo, luz e atividade; o Yin, o feminino, água, escuridão e passividade. Apesar de serem energias opostas, nessa ideologia, esses elementos são descritos como duas forças fundamentais opostas e complementares, interdependentes. Elas se encontram em todas as coisas e, nesse sentido, achar o equilíbrio entre elas é essencial.
Compilando essas definições, nos remetemos a opostos, ao negativo e positivo, a elementos contrários.
A polaridade nas organizações
Categorizar termos, elementos, pessoas, grupos, dentre outros, é algo que o ser humano, digamos, necessita. É uma conveniência, um recurso didático.
Voltando ao termo polaridade, que vem sendo reproduzido demasiadamente, tenho a impressão de que o mesmo é utilizado para denotar extremos, opostos, grupos do “nós e eles”.
Esta reflexão me remete ao ambiente empresarial e à Comunicação. Será que esse discurso e sentimento de polaridade também estão presentes nas organizações? Quando nos referimos a público operacional e administrativo; chão de fábrica e linha de frente; cliente VIP e “não-VIP” e por aí vai, estamos nos referindo a quê? Essa linguagem e categorização se refletem nas práticas adotadas? Como são tratadas as diferenças, distinções e até mesmo os preconceitos?
O que assistimos sob os holofotes do agitado momento político provavelmente está presente em outros ambientes e nas organizações. Remuneração, clima organizacional, eventos, programas de relacionamento, formas de comunicação, canais de atendimento… Será que os profissionais de comunicação e marketing estão atentos a suas terminologias adotadas, objetivos propostos e modos de conduta?
Utilizar o recurso de segmentação de públicos é imprescindível e estratégico. Conhecer e se direcionar de formas distintas a diversos públicos, idem. Contudo, acho oportuno refletirmos sobre nossos discursos, comportamentos e práticas. Dentro e fora das organizações. No sentido de atentar se estamos privilegiando poucos, dando acesso a apenas alguns, deixando de ouvir ou atender a outros.
A Comunicação pode, portanto, contribuir como mecanismo para esclarecer, debater, repensar e permitir melhor entendimento e condução dessas questões.
A diferença é algo inerente ao ser humano. Posições opostas, pessoas, opiniões e estilos diversos compõem, de forma rica, nossa sociedade. Porém, como nos ensina a ideologia chinesa, aspectos antagônicos, exageradamente predominantes, levam a um desequilíbrio e desarmonia.
Então deixo aqui um estímulo para que não pensemos tanto preto no branco, ou preto e branco. E que sejamos capazes de enxergar, por diferentes prismas, as nossas relações, ideias, posturas e atitudes.
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