Pessoas LGBTQIA+ no mercado de trabalho: promover a inclusão é também entender a ausência de privilégios
Nos últimos anos, os debates sobre as pautas LGBTQIA+ têm ganhado maior projeção dentro das empresas, de forma que elas, cada vez mais, demonstram interesse em construir times plurais. Contudo, essa jornada de inclusão exige um olhar amplo em relação às barreiras enfrentadas por essas pessoas, dentro ou fora do ambiente de trabalho, pensando no seu acesso, mas também na sua permanência e ascensão dentro das corporações.
Segundo estudo da rede social LinkedIn, 35% dos entrevistados LGBT+ afirmaram já ter sofrido algum tipo de discriminação velada ou direta no trabalho. Dos respondentes, apenas 13% afirmaram ocupar ou terem ocupado anteriormente, um cargo de diretoria ou C-level.
Fora do mercado de trabalho, os desafios continuam: o Brasil, que por muito tempo está entre os países que mais matam pessoas LGBTQIA+ no mundo, continua liderando o ranking de assassinato de pessoas transexuais e travestis, pelo 12º ano consecutivo, segundo a ONG Transgender Europe (TGEU). Além disso, de acordo com ANTRA (Associação Nacional de Travestis e Transexuais), estima-se que a população trans brasileira possui uma expectativa de vida de 35 anos e que essas pessoas sejam expulsas de casa, em média, aos 13 anos de idade.
Acesso de pessoas trans
Pensar em inclusão é também pensar em toda a ausência de acessos que pessoas LGBTQIA+ enfrentam e que afeta, de maneira mais urgente, pessoas trans, conforme alertam diversos levantamentos feitos pela ANTRA nos últimos anos.
Segundo a Associação Nacional de Travestis e Transexuais, 82% das mulheres transexuais e travestis abandonam o ensino médio em função da discriminação na escola e da falta de apoio familiar e, sem opção, 90% acabam na prostituição, enquanto apenas 4% trabalham informalmente e 6% de maneira formal. Quando perguntadas sobre suas principais necessidades, o direito ao emprego e renda aparece com 87,3%. Dados do Projeto Além do Arco-íris/Afro Reggae apontam outra problemática: somente cerca de 0,02% das pessoas trans entrevistadas estão na universidade.
Inclusão da prática
Lançada em 2021, a Surreal Hotel Arts, produtora de audiovisual, que atua nas áreas de entretenimento e publicidade, nasceu com o propósito de fazer algo diferente por esse cenário. Signatária do Pacto Global da ONU, está comprometida com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), buscando construir práticas que favoreçam a defesa dos direitos humanos, o trabalho e também o meio ambiente e combate à corrupção.
Como parte dessas iniciativas, todas as lideranças da empresa direcionam suas contrações com o foco na inclusão de pessoas LGBTQIA+, pessoas negras, pessoas com deficiência e mulheres, além de outros grupos sociais que, de alguma forma, merecem maior reconhecimento e oportunidades de inserção. Para isso, a produtora adaptou seus processos de contração, entendendo a formação dessas pessoas como prioridade, independente da experiência profissional que acumulam.
Foi por meio dessa agenda de inclusão que Buba Kore, assistente executiva, passou a integrar o quadro de profissionais da Surreal Hotel Arts. Buba conta que o processo de seleção proposto soube respeitar suas vivências e as dificuldades que enfrenta como uma mulher trans: “Me senti respeitada e cuidada. Nunca tinha participado de uma entrevista tão cheia de empatia e respeito. Quiseram saber sobre minha história e como eu estava me sentindo na pandemia.”.
A profissional ainda relata que, em sua passagem por outra empresa, foi excluída de questões básicas, como o acesso ao banheiro feminino. “O único trabalho efetivado que tive, antes da Surreal, não me possibilitava acesso ao banheiro feminino, então eu segurava até o final do dia por não me sentir confortável. Muitas vezes tive que trocar de roupa na rua, antes de acessar o prédio”, afirma Kore.
As iniciativas de inclusão da produtora têm como embaixador o diretor-criativo Heitor Caetano. Para ele, incluir essas pessoas de maneira efetiva é pensar em todos os contextos que rodeiam suas trajetórias profissionais. “Eu sou uma pessoa LGBTQIA+ que sentiu na pele as dificuldades que os membros dessa comunidade, de maneira direta ou indireta, enfrentam no mercado de trabalho. Agora, junto com nossas outras lideranças, exercitamos o propósito de garantir que todes sejam respeitados por serem quem são”, conta Caetano.
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