11 de fevereiro de 2021

Diversidade e realismo de “The Eddy” nos ensinam sobre comunicação

Que imagem vem à sua cabeça quando pensa em Paris? Torre Eiffel, Opera Garnier e tantos pontos turísticos emblemáticos, símbolos culturais e arquitetônicos apreciados por muitos. Só que não é essa Paris que protagoniza as cenas da série “The Eddy” (Netflix).

Já no primeiro episódio – de um total de oito – é possível escutar inglês, francês, polonês e árabe, no mínimo. Personagens negros, de ascendência árabe, estrangeiros radicados na capital francesa, músicos e artistas que vivem e andam por ruas de uma cidade como tantas outras, com desigualdades, conflitos, violência de todo tipo. Pois é, Paris não é branca como grande parte das produções cinematográficas costuma representá-la, mas sim um caldeirão cultural, um território de convivência e desigualdade. Isso em si é um grande aprendizado da série: como cidades e, passando para o ambiente corporativo, como empresas, marcas e líderes são representados e como eles realmente são, que desafios enfrentam e nem sempre estão em evidência nas narrativas de maior circulação.

Essa diversidade não está apenas nas cenas de uma Paris periférica e nos personagens da história, com seus diferentes idiomas, mas também na efervescência da cena musical francesa. “The Eddy” é o nome da casa de jazz, epicentro do enredo, com uma banda residente. Em meio a números musicais de jazz, ouvimos também

rap francês, batidas tradicionais e canto religioso árabe. Um exercício para nossos ouvidos, nem sempre habituados a experimentar essa variedade sonora.

Esse é outro aprendizado que a série nos permite: ampliar nosso repertório musical, algo tão fundamental em meio a algoritmos que “sabem” do que gostamos e nos recomendam coisas semelhantes o tempo todo. Será que, na produção de conteúdos, nas campanhas e demais ações de comunicação propomos tamanha diversidade ou oferecemos novas roupagens para o habitual e mais amplamente aceito?

O multiculturalismo e realismo dão o tom na produção da série, especialmente na escolha do elenco. Os atores são de diferentes partes do mundo: o norte-americano André Holland (“Moonlight”) interpreta Elliot, a polonesa Joanna Kulig (“Guerra Fria”) interpreta Maja e o francês de origem argelina Tahar Rahim (“Um Profeta”) interpreta Farid. Os músicos da banda do clube “The Elliot” não são atores profissionais e sim músicos na vida real. Consequentemente, os diretores da série não cobravam por atuações perfeitas, ao contrário, estimulavam a improvisação para que o tom fosse mais natural, documental, vivo e, claro, condizente com a essência de liberdade e improviso do próprio jazz. De que forma isso se relaciona com a área de comunicação? A meu ver, tem estreita relação com o desafio atual em dar voz aos colaboradores da empresa, torná-los protagonistas, influenciadores e, efetivamente, produtores de conteúdo. Deixar de cobrar por “cenas perfeitas” e entender que as manifestações genuínas fazem parte da cultura da empresa, que é assim que se consegue mais diálogo e transparência, tão almejados nos dias de hoje.

Nesse banho de realismo, o que traz magia à série são os dois a três momentos de shows em cada episódio, com músicas inéditas de Glen Ballard (produtor musical reconhecido pelo álbum “Jagged Little Pill”, de Alanis Morisette), executadas por completo pela banda de jazz do “The Eddy”. Em meio às tensões do enredo, ver execuções de músicos incríveis é de encher os olhos, algumas delas dirigidas por nada menos do que Damien Chazelle (dos filmes Whiplash: em busca da perfeição e La La Land: cantando estações), junto com outros renomados diretores. Mais um grande aprendizado em tempos de pandemia e novos modos de trabalhar: que momentos de magia, de arte, de lúdico existem em nossa rotina tão virtual? De que forma as ações, os eventos, as campanhas, os conteúdos podem se valer desse mundo artístico para compor suas produções e se relacionar com os funcionários?

Uma série e tanto, que talvez os algoritmos ainda não tenham te recomendado. Vale a pena assistir, conhecer essa Paris não turística, entrar nesse mundo multicultural e realista retratado em “The Elliot”.

A cada episódio, trace seus próprios paralelos com os desafios que enfrentamos diariamente na área de comunicação corporativa e, claro, clique no link para ouvir a deliciosa e diversa playlist da série no Spotfy.

Os artigos aqui apresentados não necessariamente refletem a opinião da Aberje e seu conteúdo é de exclusiva responsabilidade do autor.

Vívian Rio Stella

Doutora em linguística pela Unicamp, idealizadora da VRS Academy. Professora da Aberje, da Casa do Saber e de cursos de extensão da Cásper Líbero. Coordenadora do comitê de comunicação digital com empregados. Apaixonada por pesquisa, aprendizado e comunicação.

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