Preparação para o Arremesso Final
É interessante como o esporte é capaz de produzir inúmeros exemplos de atletas cujas competências os levaram a triunfar e marcar seu nome para sempre na história. A série documental recém-lançada pela Netflix The Last Dance reconta um período histórico para o basquete mundial marcado pela ascensão e domínio do Chicago Bulls e de seu líder e maior astro, Michael Jordan.
A excelente narrativa empregada traz de volta a nostalgia aos que puderam acompanhar o que se passou na década de 1990 com o time de Chicago, a ponto de pessoas como eu vibrarem por cada cesta, quase como se fosse um jogo ao vivo. Mas o maior mérito da série é conseguir envolver uma audiência mais jovem e também os não aficcionados pelo esporte, justamente por enfatizar o que levou Michael Jordan e seu time a triunfarem e serem campeões da NBA seis vezes em um intervalo de oito anos. E nem tudo estava restrito às quatro linhas.
O dom sobrenatural que pessoas como Jordan e Scotie Pippen tinham talvez seria suficiente para faturar um ou dois títulos, mas certamente não para alcançar o patamar de fenômeno cultural, como bem descreveu o ex-presidente Barack Obama em entrevista para a série. Foi preciso ir além da preparação física e dos treinos repetitivos e exaustivos.
A série provoca esse questionamento, justamente por serem raros os casos de equipes de esportes coletivos permanecerem no topo por mais de dois ou três anos consecutivos. Com todos os fatores externos que cercam a vida pessoal e profissional de um grande ídolo e de uma grande equipe como os Bulls – mídia, fãs, privacidade, patrocinadores, problemas familiares, estafa física e mental e tantos outros – como Michael Jordan tinha motivação para entrar em quadra como se fosse seu primeiro jogo como profissional e puxava os demais a fazerem o mesmo?
Os companheiros do Bulls tiveram de lançar mão de fatores motivadores para si próprios para se entregarem ao máximo a cada jogo, cada playoff, cada final – e olha que não foram poucas! Inteligência emocional foi crucial, pois não foram poucas as vezes em que houve duras cobranças e conflitos de Jordan com colegas do time que por vezes pareciam não ter o mesmo empenho e gana. Muitos até o acusaram de ter criado conflitos gratuitos com arquirrivais simplesmente para manter sua competitividade no mais alto nível. Exagero? Alguns dirão que sim, mas a história está escrita e agora muito bem documentada na série da Netflix em parceria com a ESPN.
Fazendo um paralelo com o mundo corporativo, especialmente em momentos desafiadores como o que estamos vivendo com o coronavírus, há muito o que se inspirar em equipes como os Bulls liderados por Michael Jordan. Além das competências técnicas que eles tinham de sobra, habilidades de comunicação, colaboração, companheirismo e resiliência foram fatores-chave para chegarem e permanecerem no auge por tanto tempo – e poderia ter sido mais! Trabalhar com aquilo que somos apaixonados ajuda muito na questão motivacional, mas por vezes também precisamos de gatilhos motivadores, sejam eles vindos do gestor, do colega, da família ou dos amigos.
O Chicago Bulls da década de 1990 foi um fenômeno realmente extraordinário, daqueles que ocorrem a cada século, se muito. Que possamos nos inspirar para exercitar esse espírito vencedor em nossas equipes de trabalho para superar este e novos desafios que virão.
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