06 de abril de 2020

Inovação “requentada”

Criatividade e inovação são temas recorrentes em meus artigos. Em nossa empresa sou uma espécie de “Prof. Pardal”, o que alguns apreciam e muitos temem. Afinal, se existe alguma unanimidade sobre o ser humano é que somos todos absolutamente resistentes a mudanças. Mas, a despeito disso, é inegável que a humanidade vive hoje um ciclo de inovação jamais visto em nossa história.

Nos anos 80, o brilhante arquiteto e visionário Buckminster Fuller descreveu (em seu livro “Caminho Crítico”) a curva de crescimento do conhecimento da humanidade a partir do ano 1 DC. Foram necessários 1500 anos para o conhecimento humano dobrar pela primeira vez. Em 1750 o conhecimento humano dobrou de novo, levando portanto 250 anos para isso (seis vezes menos tempo do que na primeira vez). Em 1900 o conhecimento humano já dobrava a cada 100 anos e no final da 2a Guerra Mundial passou a dobrar a cada 25 anos. Hoje, estima-se que o conhecimento humano dobre a cada ano, com previsão de que até 2020, esse ritmo seja a cada 12 horas!

Agora, vamos ser razoáveis e entender que ninguém está inventando um iPhone, um Tesla, ou um WhatsApp a cada 12 horas. Mas, a velocidade do “reempacotamento” e a recriação de velhas ideias, isso sim é exponencial. Embora não se invente um iPhone por ano, as inovações que a Apple anuncia anualmente são suficientes para que usuários façam filas na porta das lojas para trocarem seus “velhos celulares”, com dois anos de idade, pela última versão, bem mais cara que a anterior. Ou somos todos consumistas irresponsáveis, ou o chamado “requentamento da inovação” está sendo suficientemente interessante para atrair e engajar o público-alvo.

Um bom exemplo de “inovação requentada” são os aviões. Se você tem a minha idade e já voou nos antigos 707, quando compara com os modernos Boeings não vai notar diferença nenhuma. Já as empresas aéreas, que vêem os aviões como negócio, não pensam da mesma maneira. O único foco é a eficiência operacional dos equipamentos e nesse aspecto a evolução da tecnologia dos aviões anda tão rápido quanto a da Apple! Até muito recentemente, o avião wide body (+300 passageiros) mais eficaz do mundo era o Boeing 787-10, com milhares de encomendas. Aí no ano passado a Airbus lança o A350-1000, bem mais eficaz, e metade das encomendas mudam de lado. O A350 tem tanques maiores e motores mais modernos, o que leva a uma autonomia maior, com muito menos km/l de combustível. Além disso, sua capacidade de carga também é muito maior. Pronto! Lá se vão anos de investimentos em inovação feitos pela Boeing. Assim é o mundo hoje.

E nas nossas empresas, bem mais simples que Boeing ou Apple, como devemos lidar com a inovação? Devemos ter medo e nos esconder embaixo da cama, ou pular de cabeça, sempre buscando estar à frente da onda? Bem, devagar com o andor que o santo é de barro. Acho que quando considerarmos investir em uma inovação em nossas empresas, particularmente as de serviços, devemos nos fazer algumas perguntas:

  1. A direção que estamos considerando ir é a mesma do público-alvo?
  2. Estamos adiantados (pioneiros), ou atrasados em relação à onda?
  3. Estamos oferecendo evolução tecnológica embalando nossa oferta, ou trata-se apenas de melhorias no processo?
  4. Existe quebra de paradigma?
  5. A viabilidade (custos vs ROI) do projeto foi bem avaliada?

Tomemos um exemplo concreto. Vale a pena para um jornal impresso investir na melhoria da diagramação do produto, para torná-lo mais leve, mais colorido e mais visual? Quem lê tende a preferir o papel, ou a versão online? Será que não é um pouco tarde para pensar em melhorar a diagramação? Esse produto terá vida longa para garantir o ROI do nosso esforço de melhoria? Pois é. Você já deve ter entendido onde quero chegar. Então, da mesma forma, se na sua empresa você não souber responder a uma só dessas questões, relativamente a uma inovação, sugiro parar e repensar seu investimento.

Os artigos aqui apresentados não necessariamente refletem a opinião da Aberje e seu conteúdo é de exclusiva responsabilidade do autor.

Augusto Pinto

Engenheiro de formação, Augusto tem mais de 30 anos atuando no mercado de TI. Iniciou a carreira na IBM, de onde saiu para se tornar um executivo bem sucedido na indústria de software. Foi o 1º presidente da SAP Brasil, onde atuou por sete anos, e também VP América Latina da Siebel Systems. Atua há mais de 15 anos em Comunicação Corporativa, como sócio fundador da RMA Comunicação. Em fevereiro de 2019, a RMA e RP1 uniram suas operações, criando uma nova empresa, a RPMA, empresa de comunicação integrada e projetos digitais. Hoje o Augusto faz co-gestão da RPMA, junto com a Claudia Rondon e Marcio Cavalieri, cuidando das áreas de Marketing Digital, Criação & Vídeo, RH estratégico e desenvolvimento da empresa a longo prazo.

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