Para comunicar bem, é preciso saber ouvir
Em tempos em que estamos constantemente teclando, compartilhando, curtindo, enviando áudios e recebendo informações por inúmeros canais, não é incomum chegar ao fim de um dia de expediente, ou de uma extensa semana de trabalho, nos perguntando por que os dias não são mais longos, uma vez que sobram tarefas e urgências de toda ordem, não é mesmo?! Mas será que nós, gestores de comunicação, estamos de fato cumprindo aquilo a que nos prestamos, ou seja, comunicando?
Antes de prosseguir meu raciocínio, gostaria de abrir um breve parêntese para uma apresentação pessoal: sou jornalista e estou na Rede Gazeta desde antes de me formar, em 2007. Cheguei à empresa como estagiário e construí minha carreira aqui, ao longo de mais de uma década, nas redações dos veículos que temos. Em março de 2019 iniciei minha trajetória na comunicação corporativa.
Você pode se perguntar: “Ah, mas o que isso tem a ver?”. Para mim, tem muito a ver. Na correria das pautas, na urgência dos factuais, nas análises políticas que tantas vezes fiz, se havia algo que era imprescindível era saber ouvir e “traduzir” o que ouvia. De nada adiantariam entrevistas longas, horas de off de qualquer fonte se, no fim das contas, eu não conseguisse transmitir aos leitores e ouvintes o que estava acontecendo. Jornalismo hard news pressupõe um acordo de transparência e fidelidade com o público. E hoje, na comunicação empresarial, vejo que isso se repete.
No dia a dia, somos tomados por reuniões e decisões que ora exigem um planejamento monumental, ora precisam ser anunciadas com agilidade, no feeling do momento. A indagação que proponho, aqui, é a seguinte: estamos dispostos só a falar ou estamos ouvindo o que as pessoas nos esperam dizer?
Digo isso porque considero de uma relevância absoluta que saibamos ouvir os funcionários e parceiros das organizações. Gastar sola de sapato nos corredores, parar no cafezinho da firma, puxar uma cadeira no departamento que está no outro andar para uma conversa despretensiosa, olho no olho. Vale contar piada, se inteirar do meme do dia ou só dar um alô geral mesmo. Sentir o clima na essência máxima da expressão.
Anualmente, a Rede Gazeta realiza um bate-papo entre o alto comando e todos os seus funcionários. Estou falando de um universo de quase 600 pessoas. Na edição de 2020, foram sete encontros, passando pela sede, em Vitória, e pelas unidades de Colatina, Linhares e Cachoeiro de Itapemirim. Contrariando qualquer impressão que possa haver de um momento de pompa e circunstância, o “Em Pauta” dispensa apresentações, slides e até mesmo microfone. A regra é clara: menos fala, mais escuta.
Nos encontros deste ano, alguns assuntos que podem parecer banais, mas que impactam muito na vida dos funcionários, vieram à tona: liberação de wi-fi para todos, pedidos de vestiário, queixas sobre sistemas operacionais defasados e até mesmo clamores, por menor que possa parecer, de café “humano” (ou seja, coado, feito por uma copeira, pois ao que pudemos notar, as máquinas de café não caíram no gosto das pessoas – com perdão do trocadilho).
Se não estimulássemos esse diálogo e não nos puséssemos olhando no olho das pessoas com real disposição para ouvi-las, dificilmente alguém bateria na porta de seu diretor, ou do diretor-geral da empresa, para falar dessas angústias cotidianas.
Pois bem: nas próximas semanas nossa área de TI vai iniciar uma força-tarefa personalizada e individual para habilitar o wi-fi para os funcionários, o time de Cachoeiro (que é uma cidade superquente, lá onde nasceu Roberto Carlos) ganhará um vestiário com duchas, e o café “desumano” pode estar com seus dias contados.
Mais do que nunca, precisamos estar com os olhos abertos e o uso de cotonetes em dia se quisermos fazer comunicação com eficiência e relevância. Não há aplicativo de mensagem instantânea ou e-mail que substitua o contato pessoal para que consigamos captar os sentimentos que tornam uma empresa viva.
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