31 de maio de 2018

Os disruptivos fazem a história acontecer: de Gutemberg a Zuckerberg e a Elon Musk

(Imagem: Reprodução)
(Imagem: Reprodução)

Quando fui convidada para fazer uma palestra para universitários, estudantes de comunicação corporativa, com o tema “O Impacto do Mundo Hiperconectado nas Organizações”, resolvi explorar o significado de disrupção:  termo lançado pelo guru da Harvard, Clayton Christensen, muito recorrente em encontros sobre inovação ou empreendedorismo. A disrupção transforma radicalmente a forma como pensamos, nos comportamos e fazemos negócios. É uma ruptura que pode arrasar mercados, indústrias ou tecnologias comprovadas, enquanto produz e lança algo novo, com custo menor, útil, impactante, eficiente, de valor e acessível a todos. A disrupção do mercado não tem origem na tecnologia. É a estratégia ou modelo de negócios, que a tecnologia aciona, que cria o impacto disruptivo.

É certo que a disrupção resulta num ambiente anárquico que provoca constrangimentos ao mercado, à economia e à sociedade: desemprego, quedas de lucro e até falência de empresas. Concorrentes são forçados a diversificar. Exemplo disso é a Kodak que já foi a maior empresa de fotografia do mundo, com 90% das vendas de filmes e 85% das vendas de câmeras nos Estados Unidos, nas décadas de 1970 e 1980.  Cem mil empregados e um lucro de bilhões. Hoje nem chega perto do que já foi e tenta se reinventar, após falir em 2012.  Na década de 1980, seus produtos foram substituídos pelas câmeras fotográficas digitais que tiveram um ciclo de vida curto e foram trocadas pelos smartphones.  O mesmo tem acontecido com as frotas de táxi de cooperativas substituídas pelos aplicativos Easy Taxi, Cabify e pelo líder Uber.  Este transformou definitivamente a maneira como as pessoas se locomovem no mundo. Uma empresa avaliada em 15 bilhões de dólares, com investidores como Goldman Sacks e Google e, mesmo sendo uma das maiores empresas de transporte urbano, não possui carro próprio nem frota.

Por outro lado, as inovações disruptivas facilitam processos, oferecem poder de escolha ao consumidor, barateiam produtos, tornam-se acessíveis a muito mais pessoas. Têm um forte apelo à conveniência pessoal de cada um. A derrocada das locadoras de vídeos se deve hoje ao Netflix – serviço de assinaturas de filmes e séries de TV pela Internet do mundo, com mais de 100 milhões de assinantes, presente em 190 países que proporciona entretenimento em qualquer momento e lugar pelo aplicativo no celular. Para competir com Netflix e outros rivais, as redes de TV estão reduzindo os intervalos comerciais… Fox e NBC Universal estão nesta linha de ação e esta estratégia soa atraente” (AdAge/Apr18/2018). E aí chegamos a Inteligência Artificial (IA), com seus robôs que atendem o room service ou são perfeitos concierges que a rede de hotéis Marriot oferece. E a Internet das Coisas (IoT) utilizada pela Amazon Go – Just Walk Out Tech, que permite comprar itens do seu supermercado em Seattle, por meio de um app, sem filas, caixas registradores e atendentes e cuja conta cai direto no celular.

Das várias inovações disruptivas, o celular tornou-se o dispositivo mais popular do mundo com as “n” funcionalidades que os aplicativos proporcionam.  E surpresa!  Temos 3,4 bilhões conectados à Internet no mundo. E ainda restam cerca de 4 bilhões de desconectados ou com conexões de baixo alcance! Ou seja, quem conectar este mercado potencial vai conquistar ganhos de todos os tipos. O bilionário da corrida espacial, o disruptivo Elon Musk, pretende conectar estes consumidores. Vai lançar seu projeto XStarlink distribuindo, inicialmente, 4.425 satélites de pequeno porte, de um total de 12 mil, e assim concorrer com grandes players nesta briga que promete ser de gigantes. Só no Brasil, segundo pesquisa da FGV, divulgada em 19 de abril, temos 220 milhões de celulares superando o número de habitantes que é de 208 milhões. Imagino a festa que Elon Musk vai fazer aqui no país onde o acesso é precário, ou nenhum. A pesquisa ainda revela que pela primeira vez o número de transações bancárias pelo celular ultrapassou aquelas feitas em computadores. E a venda de PCs caiu pela metade. Outra disrupção mercadológica?

Esta ruptura do comportamento e da cultura do consumo que vemos, não é de hoje. Em cada fase da história encontramos disruptivos, grandes gênios e idealistas do progresso. Aqueles que aprimoram os processos e criam soluções para as questões das pessoas, de maneira que suas disrupções conectam a sociedade massificada em torno de um bem comum. O impacto do mundo hiperconectado nas empresas é grande, sem dúvidas, mas a reação está acontecendo. Indústrias estão sendo redesenhadas não para conceber novas descobertas, mas para criar usos para o que já existe, procedimentos mais acessíveis e uma nova maneira de ver o mundo.

Os artigos aqui apresentados não necessariamente refletem a opinião da Aberje e seu conteúdo é de exclusiva responsabilidade do autor.

Lala Aranha

Conselheira da gestão eleita do Conrerp Rio de Janeiro (2016-2018), foi presidente do Conrerp na gestão 2013-2015. É professora convidada do MBA de Comunicação Empresarial da Estácio Rio de Janeiro; conselheira do WWF Brasil; ouvidora do Clube de Comunicação do Rio de Janeiro; colunista mensal da Aberje.com. Lançou o livro Cartas a um Jovem Relações Públicas (Ed. Elsevier 2010); foi diretora da CDN Comunicação Corporativa; fundadora e diretora da agência CaliaAssumpção Publicidade e presidente da Ogilvy RP. É bacharel em Relações Públicas pela Famecos, PUC-RS; MBA IBMEC Rio de Janeiro, dentre outros cursos no Brasil e exterior. RG Conrerp 1ª. 2965.

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