Employer Branding e as mesas de pingue-pongue
Sou fascinada pela questão da coerência nas organizações. Utopia? Não sei. O fato é que acredito ser possível quando há legítima disposição das empresas de trabalhar na evolução constante de sua cultura. Pessoas mudam continuamente. O mundo muda o tempo todo – e a passos praticamente inalcançáveis, diga-se de passagem. E as organizações?
Em tempos de negócios nascendo e morrendo enquanto lemos esse post, mudanças são tão necessárias quanto mandatórias. Além disso, a disputa por talentos qualificados em uma sociedade digital em rede faz com que a realidade das empresas fique exposta 24/7 à distância de uma tela (ou múltiplas).
É hora de as organizações assumirem a parte que lhes cabe no alinhamento entre discurso e prática. Ter uma boa marca empregadora significa falar para dentro o que se faz para fora. E, falar para fora, o que se faz para dentro. De nada adiantam campanhas lindas, com pessoas sorrindo em campos verdejantes, se porta adentro o clima é outro. Nada errado com culturas mais agressivas, competitivas. O que não se pode é demonstrar uma coisa e ser outra.
A chave para qualquer profissional envolvido na gestão de uma marca empregadora é atuar como guardião da coerência. Como comunicadora, sei o quanto essa tarefa é complexa, para dizer o mínimo. Mesmo assim, gostaria de trazer o impacto que uma comunicação descolada da realidade pode ter na vida das pessoas e no balanço das empresas.
Algumas campanhas de comunicação, com mensagens contundentes, têm levado Ys e Zs a acreditarem em uma ideia bastante perigosa: a de que trabalho, para ser bom, tem que ser puro prazer. 100% do tempo. Só que a vida real é bem diferente.
Onde mora o problema?
A vida profissional de qualquer adulto que trabalhe – seja ele X, Y, Z, A,B,C – tem dissabores, tem conflito e tem tarefa chata SIM. O mundo do trabalho – seja você seu próprio chefe ou não – não é um mar de rosas. Também não é um mar de dificuldades. Por ser feito de pessoas, é complexo, dinâmico e cheio de subidas e descidas.
O que não se pode é passar a mensagem de que ele é feito SOMENTE de festa, cerveja e mesas de pingue-pongue. E é aí que entra nossa responsabilidade como comunicadores. Não podemos fazer nosso público-alvo acreditar que uma empresa é um mundo mágico, onde pessoas são 100% felizes todo o tempo e nenhum chefe, nunca, tem um dia ruim. Essa ideia, além de enganosa, faz mal para todos. Para os jovens, que acreditam que vão encontrar um trabalho assim e para as empresas, que ao entrar nessa onda de divulgar que são um mundo de cor e magia acabam por frustrar as pessoas quando a realidade se impõe. Decepcionados, pedem demissão e, ao fazê-lo, geram prejuízos inclusive financeiros para as organizações que investiram na atração, recrutamento e desenvolvimento dessas pessoas.
Nada contra cerveja e pingue-pongue. Pelo contrário. Eu pessoalmente acredito (e produzo muito mais) em ambientes nada convencionais, que me proporcionam a quebra dos padrões e da rotina. O que eu não concordo e acho um desserviço para a sociedade como um todo é vendermos, como comunicadores a serviço do RH, a ideia de que o mundo do trabalho é absoluto. Até porque nada o é. Seres humanos não são feitos de uma coisa só. Freud que o diga. Somos pura complexidade e é exatamente por isso que não podemos abrir mão de sermos quem somos. E é nosso papel, como consultores/estrategistas/especialistas em comunicação que precisamos alertar quando houver o risco de sair uma mensagem incoerente por aí. Essa coisa de máscaras e de tentar ser quem não se é ficou super anos 80. A verdade, além de estar em alta, é uma excelente ferramenta de atração. E que venham os talentos.
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