Dono da Livraria Cultura: “As pessoas estão perdendo a capacidade de ouvir”
Na última quarta-feira (31/01), foi realizado em São Paulo o primeiro LiderCom de 2018, organizado pela Aberje, que contou com a participação de Pedro Herz, dono da Livraria Cultura e autor de O Livreiro. Além de narrar sua biografia e ascensão no mercado de livros, o empresário também falou sobre a atual situação do segmento, a recente aquisição da Fnac, entre outros assuntos.
Antonietta Varlese, vice-presidente de Comunicação e Sustentabilidade da AccorHotels e chair do LiderCom, deu as boas-vindas. Ela contou sobre como o grupo, criado em 2015 para ser uma instância da Aberje que reúne líderes da Comunicação Corporativa. Hoje, o LiderCom conta com mais de 40 membros fixos, além de diversos convidados, que compartilham experiências, geram insights e promovem uma rede de contatos.
Filho de imigrantes alemães, Herz relata que a família deixou a Alemanha no “último minuto” antes do início da guerra, em 1938. Pouco tempo depois, buscando ajudar no sustento da família no Brasil, sua mãe teve uma sacada empreendedora e visionária: alugar livros em alemão para outros refugiados da guerra. “No início, eram 10 títulos disponibilizados na sala da casa em que morávamos”, recorda Herz. Hoje, o empreendimento se tornou uma das maiores redes de livrarias do país e recentemente adquiriu as operações da Fnac no Brasil.
Quando assumiu o negócio da família, já no final dos anos 1960, Herz teve que lidar com alguns obstáculos, como o convívio com a censura por parte da ditadura militar. “Me perguntavam por que eu vendia livros considerados proibidos. Minha resposta era sempre a mesma: porque eu vivia de vender livros, e muito dos títulos considerados subversivos eram recomendados pela USP.”
Segundo ele, o mercado de livros vive hoje um de seus períodos mais desafiadores. “Ler é uma atividade essencialmente solitária. Você senta e ‘ouve’ o que o outro escreveu. Hoje, as pessoas estão perdendo essa capacidade de ouvir”. Além disso, ele comenta sobre a concorrência das atividades na vida urbana, um fenômeno que afeta não só o Brasil, mas o mundo todo. “Como atrair uma pessoa que trabalha o dia todo, perde muito tempo no trânsito e ainda por cima competir com outras formas de entretenimento, como os dispositivos móveis, filmes, games, restaurantes, etc?”, indaga, já com a resposta imediata. “Honestamente, eu ainda não sei.”
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