O alerta da série Adolescência para os pais na era dos algoritmos

A recente série da Netflix, Adolescência, estimula importantes discussões sobre os desafios que jovens brasileiros enfrentam no universo digital. A produção retrata como as redes sociais podem tanto conectar quanto isolar, mostrando um protagonista de 13 anos que, inicialmente, encontra acolhimento em comunidades online, mas gradualmente é exposto a influências prejudiciais. Embora ficcional, a narrativa reflete a realidade de muitos adolescentes que, segundo pesquisa do IBGE (2023), passam, em média, 5,2 horas diárias online.
Os adolescentes navegam em um mundo de possibilidades digitais sem precedentes. É fato que a internet oferece oportunidades educacionais, conexões sociais positivas e espaços de expressão criativa, mas também apresenta desafios significativos. De acordo com o Instituto Datafolha, 42% dos adolescentes brasileiros já sofreram alguma forma de assédio online, enquanto algoritmos podem expô-los a conteúdos polarizadores ou padrões irrealistas.
Adolescência demonstra como jovens que buscam pertencimento podem encontrar tanto comunidades de apoio genuíno quanto espaços que promovem comportamentos prejudiciais. Muitos adolescentes, especialmente em um país com desigualdades sociais como o Brasil, utilizam plataformas digitais como o principal — ou até único — meio de socialização e construção da identidade. Isso é bastante preocupante.
A parentalidade na era digital exige uma parceria ativa entre gerações, reconhecendo que os adolescentes são participantes ativos no ambiente digital, e não apenas consumidores passivos. Eles precisam de orientação que respeite sua autonomia crescente e valorize sua capacidade de discernimento.
Uma lição fundamental da série é que os adolescentes precisam de referências confiáveis para navegar no mundo digital. Construir essa base começa com:
- Promover diálogos abertos e transparentes – Os pais podem aprender tanto quanto ensinar sobre o universo digital. Em vez de abordar as discussões com críticas ou medo, devem fomentar curiosidade e compreensão. Perguntas abertas, como “Como você decide em quem confiar nas redes sociais?”, incentivam a reflexão crítica e demonstram interesse genuíno nas experiências digitais dos adolescentes.
- Compartilhar micro momentos – Atividades conjuntas, ainda que de curta duração, criam oportunidades naturais para conexão entre pais e filhos. Engajar-se em momentos compartilhados — seja assistindo a um filme, preparando uma refeição ou participando de um evento comunitário — fortalece vínculos e favorece conversas espontâneas, às vezes profundas, sobre experiências digitais.
- Equilibrar experiências online e offline – Incentivar atividades ao ar livre e interações sociais presenciais, como sair com amigos, praticar um esporte ou cultivar hobbies, não só melhora a saúde física, mas também desenvolve habilidades como trabalho em equipe, resiliência e autoconfiança. Além disso, ser um exemplo ao adotar um estilo de vida ativo reforça a importância desses hábitos para os filhos. Nada melhor que liderar pelo exemplo.
- Estimular o pensamento crítico sobre o conteúdo digital – Ensinar os adolescentes a analisar o que consomem na internet os ajuda a reconhecer manipulações e narrativas prejudiciais. Debater casos reais de desinformação, conteúdos virais e golpes em redes sociais fornece ferramentas essenciais para que eles naveguem de maneira mais segura e consciente.
Além de estabelecer limites tecnológicos, os pais devem construir um ambiente no qual os adolescentes se sintam seguros para compartilhar seus medos e angústias. Quando percebem que suas preocupações serão recebidas com calma e apoio, e não apenas com regras ou proibições, os jovens tendem a buscar a orientação familiar diante de situações complexas.
Normalizar o aprendizado por meio dos erros é essencial em qualquer cultura, mas no contexto digital, isso se torna ainda mais relevante. Adolescentes que temem reações excessivas dos pais tendem a esconder problemas. Respostas construtivas transformam incidentes em oportunidades de aprendizado e crescimento.
As reflexões provocadas pela série Adolescência convidam as famílias brasileiras a repensarem sua abordagem em relação aos filhos das gerações Z e Alfa. Pais e adolescentes devem construir uma relação que equilibre a crescente autonomia dos jovens com o suporte necessário para seu desenvolvimento. Essa abordagem colaborativa não apenas protege contra riscos, mas também fortalece a confiança, a resiliência e a inteligência emocional dos adolescentes — competências cruciais para uma convivência saudável em um mundo cada vez mais conectado.
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