20 de janeiro de 2025

Comunicadores homenageiam a memória de 38 anos de Anna Challa junto à Aberje

Primeira funcionária da associação participou do crescimento da entidade e das transformações da comunicação corporativa no Brasil

“Depois fui aprender a datilografar para trabalhar no jornal da Aberje. Sozinha, fui lá com dois dedos, aprendi, comecei a fazer”. Em um depoimento dado em 2013 para o Museu da Pessoa, Anna Chala lembrou como foi sua chegada à Aberje, em 1977, por intermédio de Elisa Vannuccini, presidente da Aberje na época e sua vizinha no bairro paulistano da Lapa, onde nasceu e morou por toda a vida. “Anna Chala foi uma das figuras mais essenciais para que as coisas acontecessem na Associação, especialmente em tempos de poucos recursos, mas com uma grande força de espírito associativo”, declarou Paulo Nassar, diretor-presidente da Aberje e professor titular da ECA-USP.

Anna Chala e Paulo Nassar na cerimônia do Prêmio Aberje 2017, 40 anos da Aberje 02

Filha de imigrantes húngaros, dona Anna, como era chamada pelo time da Aberje – e pelo universo da Comunicação Corporativa no Brasil –, passou por várias funções dentro da Aberje, na qual foi a primeira funcionária registrada. Na época de sua chegada, toda a diretoria era composta de profissionais lotados em empresas, trabalhando voluntariamente para a Aberje, e a entidade precisava de alguém para as tarefas operacionais. “Eu tinha que fazer envelope, envelopar, botar a carta dentro, ir no Correio porque aquele tempo não tinha nem fax então tinha que ser tudo pelo Correio”, relembrou Anna na entrevista para o Museu da Pessoa.

Ao longo de 38 anos de carreira, dona Anna acompanhou de perto as transformações vividas pela Aberje e pelo mercado da Comunicação no Brasil. Além das mudanças tecnológicas, como a substituição da máquina de escrever elétrica (“Imagina, pegar uma máquina de escrever elétrica”, lembrou Anna em seu depoimento, em 2013) pelo computador, o surgimento do fax e da internet, ela acompanhou – e impulsionou – o crescimento da Aberje, que no início reunia cerca de 60 associados e se dedicava a revistas e jornais de empresas, para seu formato atual, abrangendo toda a cadeia da Comunicação Corporativa.

As novidades da tecnologia não intimidaram Anna. “Interagíamos muito pelas redes sociais, ela era muito antenada, seguia os amigos, mas também as instituições de comunicação”, lembrou Hamilton dos Santos, diretor-executivo da Aberje. “Dona Anna sempre curtia os meus posts, e comentava! Saí da Aberje, montei empresa, voltei pra Aberje… e ela nunca saiu do circuito e da sintonia fina. Num mundo das coisas efêmeras, nada como ter um carinho verdadeiro, ainda que materializado por atos virtuais. Perco essa companhia, mas espero agora poder olhar pro céu estrelado e ver ela brilhando por lá. Por todos nós”, declarou Rodrigo Cogo, consultor de Engajamento e Inovação da Aberje.

Equipe Aberje em fotografia da edição de 2013 do Prêmio Aberje

“As mulheres eram poucas, hoje elas tomam conta de diretoria de assuntos corporativos, é pra tirar o chapéu”, contou Anna, falando com animação do crescimento do protagonismo das mulheres na Comunicação. Os associados e funcionários mais jovens entusiasmavam a veterana: “Eu lido com muitos jovens na Aberje, eu adoro ficar com eles e vejo que cada um cresce dentro da Aberje”, afirmou, lembrando empolgada como Paulo Nassar trouxe seus alunos universitários para a associação. “Dona Anna me acolheu desde o primeiro dia que cheguei na Aberje, há uns 30 anos. Lembro até hoje de suas primeiras palavras: ‘posso ser sua madrinha’. E assim foi, com aqueles olhos doces que sempre me acolheram e me abençoaram. ‘Sua madrinha está muito triste com a perda do seu marido. Amo você’. Essas foram suas últimas palavras para mim, que também jamais esquecerei. Obrigada por ter sido tão presente e uma luz na minha trajetória – e na de tanta gente – madrinha querida”, disse Malu Weber, presidente do Conselho Deliberativo da Aberje e vice-presidente de Comunicação da Bayer.

Malu Weber e Paulo Henrique Soares com Anna Chala em foto de 2014

Embora não fosse formada em Comunicação, Anna Chala materializava o espírito das Relações Públicas e, para muitos colegas e associados, personificou o título da Aberje de “casa da Comunicação brasileira”. “Dona Anna sempre tinha uma palavra gentil para as pessoas, era muito acolhedora e atenciosa”, lembrou Gisele Souza, do Centro de Memória e Referência da Aberje. Usando um colar que recebeu de presente de Anna, ela recordou a alegria de viver da amiga. “Ela gostava de festa, de gente, de alegria, você nunca via ela triste”, lembrou. “Sinto muito pela perda da nossa querida dona Anna. Era mesmo ímpar em sua atitude alegre e sua sagacidade nas comunicações”, declarou Marco Simões, conselheiro da Aberje. “Minha querida amiga Anna Chala, que acaba de nos deixar, nasceu em um 15 de janeiro já afastado pelas brumas do tempo. Eu celebro um dia antes. Ao longo dos seis lustros de nosso relacionamento, ela telefonava para mim no 14, e eu para ela no 15. E celebrávamos a nossa existência e amizade. A Ana saiu de cena, segundo soube, dormindo. Espero que acorde em algum lugar espetacular. Contagiando todo o coro celeste com sua alegria”, declarou Rodolfo Witzig Guttilla, que presidiu o Conselho Deliberativo da ABERJE. “Sempre gostei muito dela, do jeito habilidoso com que pleiteava, entre os associados, anúncios para a revista da Aberje. Eu era muito assediado pelas áreas comerciais dos veículos e tinha por hábito não atender a nenhum vendedor, que eram orientados a tratar direto com as agências. A única exceção era Dona Anna: mesmo em momentos de sufoco – que não eram raros – ela eu fazia questão de atender”, lembrou Luiz Fernando Brandão, conselheiro da Aberje entre 2002 e 2014.

Jovanka de Genova, gerente de Educação no IAB Brasil e ex-gerente de premiações e diretora de Marketing da Aberje, com Anna Chala em foto de 2009

O carinho e a amizade de dona Anna são uma constante nas lembranças de membros da Aberje e das associadas que conviveram com ela. “Anna Chala foi um grande presente na minha vida pessoal e profissional, mais de 20 anos de amizade sendo 13 anos de convívio diário na Aberje. Aninha me fez companhia em diversas viagens e aventuras, trabalhamos muito e nos divertimos muito mais. Sua generosidade e alegria invadiam os espaços e uniam as pessoas, mas, nada vai superar seu bom gosto, sempre apurado, refinado e certeiro! Perdi uma grande amiga que me fez muito mais feliz e me ajudou a ser a pessoa que sou hoje”, escreveu Jovanka de Genova, gerente de Educação no IAB Brasil e ex-gerente de premiações e diretora de Marketing da Aberje. Ao longo de décadas na associação, Anna Chala cultivou relacionamentos duradouros e deixou amizades fecundas. “Falar da dona Anna é falar de dedicação, sabedoria, carinho. Ela foi uma referência de dedicação aqui na Aberje, e de amizade! Ao longo de sua trajetória, me inspirou em diversos momentos. Que sua memória seja sempre lembrada como um exemplo de integridade, gentileza e generosidade”, disse Mirella Kowalski, gerente de premiações da Aberje.

“Ela teve uma vida plena e nós tivemos o privilégio de compartilhar com ela grande parte da nossa história na Aberje. O exemplo de integridade, afeto, amizade verdadeira e amor é o legado da Dona Anna que guardaremos conosco”, escreveu Mateus Furlanetto, CAO na Global Alliance for Public Relations and Communication Management, entidade da qual a Aberje faz parte.

“Tive o privilégio de conviver com Anna por muitos anos. Aprendizados, conversas sobre gatos, nossa paixão compartilhada, presentes trocados, gestos de amor e amizade. Anna era dessas pessoas que deixam marcas profundas, que inspiram e transformam”, escreveu Emiliana Pomarico, gerente da Escola Aberje de Comunicação. Hoje, a Escola Aberje reúne os cursos que, no passado, eram organizados por Anna Chala – que não escondia o entusiasmo ao ver as mulheres interessadas. “Quando tem cursos, vamos contar 20 fazendo o curso, 15 são mulheres”, contava.

“A Aberje, e todos que dela fazem parte, têm um legado de comunicação, amizade e afeto construído por Anna Chala. Ela será para sempre nossa lembrança de como o simples, o genuíno e o acolhedor podem transformar o mundo”, concluiu Paulo Nassar.

Desde sua aposentadoria, em 2016, o café na sede da Aberje, em São Paulo, leva seu nome, em uma homenagem à sua dedicação de décadas ao crescimento da associação. No domingo (19), dona Anna Chala faleceu aos 90 anos no Kentucky (EUA), onde vivia com sua irmã há alguns meses.

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