15 de setembro de 2023

Qualidade humana e o impacto na gestão

Publicado originalmente no LinkedIn, em 15 de setembro de 2023

Se a base é frágil, quanto maior a altura, maior a queda. Por isso, não acredito na excelência profissional sem a qualidade humana. O famoso currículo com muito currículo, mas pouca vida; o CV das belas palavras, mas sem obras proporcionalmente equivalentes. Uma pessoa ruim pode parecer, embora não ser, um bom profissional; assim como uma organização pode desfrutar de uma boa reputação (perceptiva) apesar de sua má execução (realista). Tanto individualmente como coletivamente, o que emerge cresce por dentro.

Percebo em líderes de multinacionais e nos ambientes multiculturais que há uma forte necessidade de tempo para pensar, recalibrar a bússola e desconectar (ao menos por algumas horas). Esse desejo de “calma” já vinha acontecendo com os gestores de pequenas e médias empresas, até mesmo nos profissionais autônomos, pelo menos aqui na Espanha.

Priorizar habilidades de comunicação gerencial

Tempo para pensar está, com nuances, ao alcance de qualquer um. Claro, você tem que procurá-lo, blindá-lo e estar aberto para se cercar de pessoas sensatas das quais possa extrair conteúdos de valor para melhorar. Tenho me preocupado com isso há décadas, mas neste verão tive a sorte de manter uma conversa incrível, de mais de uma hora, com um ex-ministro do primeiro governo de Felipe González. Sua qualidade humana, que eu já tinha tido o privilégio de conhecer em um evento anterior, ficou ainda mais evidente quando percebi seu interesse sincero em ouvir o que eu poderia contar. Foi até engraçado, porque naquele momento meu interesse era justamente o contrário: eu é quem queria ouvi-lo. A conexão foi rápida e pude confirmar que ambos militamos na busca da verdade acima de nossas legítimas preferências ideológicas. Mais uma vez, a verdade se revela como elemento de atração magnética pessoal para uma comunicação gerencial eficaz. E, por que não, por uma profunda coesão social.

Semanas antes dessa conversa, liderei um treinamento para executivos de vários países, membros de uma importante multinacional. Além do interesse prévio que haviam manifestado e do feedback positivo que recebi ao final, fiquei impressionado com um comentário comum entre os participantes: que deveríamos posicionar a comunicação como uma habilidade gerencial prioritária, um hard skill, e não como secundária, um soft skill.

É sinal de maturidade dar importância ao relevante e não se deslumbrar com acessórios, mesmo que sejam vistosos. Quando uma formação é puramente técnica, as coisas são mais fáceis: é necessário ter formadores que conheçam o assunto, que saibam contar suas histórias muito bem e uma audiência que pratique o que aprendeu. Por outro lado, a formação em hábitos ou competências pede desafios adicionais. São necessários formadores que vivam (ou tentem viver) as virtudes e os valores que transmitem e um público disposto a compreender, internalizar e pôr em prática essa formação. O desafio é qualitativamente superior porque os hábitos, por definição, não devem ser improvisados.

Estímulo profundo para mudança de hábitos

Fico surpreso com a surpresa que os participantes desses treinamentos apresentam quando descobrem a força e o poder do impacto gerencial relacionado à qualidade humana: ouvir para entender, dizer a verdade, simplificar o complexo ou não complicar o simples; pedir perdão e outras atitudes básicas. Por mais elementares que sejam, nenhum desses hábitos é adquirido como consequência de si mesmo. Por mais eloquente que seja um treinamento e por mais inspirador que seja o orientador, também nenhum gestor irá se transformar da noite para o dia. Uma coisa é certa: devemos tocar as pessoas com nossas palavras e detonar nelas a vontade de querer mudar, premissa fundamental de qualquer progresso.

Não basta ser uma boa pessoa e fazer coisas boas: é preciso fazê-las bem. Por isso que a excelência profissional é a altura que se eleva sobre a base sólida da qualidade humana. O efeito imediato é uma comunicação com muito mais poder de influência.

Enrique Sueiro é consultor de Comunicação em Gestão e autor de ‘Mentiras críveis e verdades exageradas: 500 anos da Lenda Negra”

* O artigo original pode ser encontrado neste link: https://directivosygerentes.es/management/calidad-humana-impacto-directivo-enrique-sueiro

Os artigos aqui apresentados não necessariamente refletem a opinião da Aberje e seu conteúdo é de exclusiva responsabilidade do autor.

Luis Alcubierre

Luis Alcubierre é executivo de Comunicação Corporativa, Relações Institucionais e Governamentais há mais de 25 anos e hoje atua como conselheiro para a América Latina da Atrevia, agência espanhola de PR e Corporate Affairs, além de liderar o escritório Advisor Comm. É também palestrante, mediador e mentor. Formado em Comunicação Social pela FIAM, possui pós-graduação em Administração de Empresas pela Fundação Getúlio Vargas e MBA pela FIA-USP, com diversos cursos de gestão de liderança e negociação realizados em instituições como IESE, Berlin School of Creative Leadership, Columbia Business School, Universidad Adolfo Ibañez, Escuela Europea de Coaching, Fundação Dom Cabral, IBMEC e FGV. Foi diretor de Comunicação e Assuntos Corporativos de empresas como Kellogg, Pernambucanas e Samsung, onde teve responsabilidades adicionais pela Comunicação na América Latina. No Grupo Telefônica, assumiu a Direção Global de Marca e Comunicação da Atento em Madrid, na Espanha, sendo responsável pela gestão da área em 17 países. Passou ainda por Dow Química, TNT (adquirida posteriormente pela Fedex) e Rede (antiga Redecard), tendo iniciado sua carreira no rádio, nos sistemas Jornal do Brasil e Grupo Estado. Também foi membro do Conselho de associações ligadas às indústrias de alimentos, varejo, vestuário e mercado financeiro, onde teve importante papel negociador em distintas esferas de governo.

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