12 de setembro de 2023

A saúde mental não deveria sair da sua cabeça

Publicado originalmente no LinkedIn, em 12 de setembro de 2023

O ambiente tóxico em empresas é uma realidade que afeta não apenas colaboradores, mas a própria vitalidade das organizações

A jornalista Adriana Fonseca abordou ontem no Valor Econômico um dos temas que mais tira o sono de profissionais no mundo todo: o ambiente tóxico em empresas. Baseada em pesquisa da The School of Life Brasil e da Robert Half, que ouviu 774 profissionais empregados no país, sendo metade deles líderes e outra metade, liderados, ela apresentou dados que indicam uma forte mudança no comportamento dos trabalhadores. Para 42,86% dos liderados, o ambiente tóxico seria a causa de um pedido de demissão; para 13,14%, a imposição do trabalho presencial também os levaria a deixar o emprego. Foi-se o tempo em que só a remuneração e os benefícios seguravam as pessoas em uma empresa. O que elas também querem agora é um modelo de trabalho que permita equilibrar vida profissional e pessoal, e um lugar onde a cultura e os valores reproduzam um ambiente mais leve e respeitoso, sem que isso signifique “livre de pressões”, uma vez que todos sabemos que a luta diária não é um jogo ganho e muito menos fácil.

O ambiente tóxico, de acordo com a matéria, é aquele onde assédio moral e baixa inteligência emocional da liderança prevalecem. Não podemos esquecer, ainda, que a atmosfera que se experimenta em locais assim também tem como característica líderes incapazes de investir na qualidade da fala e muito menos da escuta, o que faz de muitos deles pequenos ditadores em um mundinho umbilical – muitas vezes espelhos de Narciso.

A boa notícia é que empresas estão antenadas no assunto e já o abordam de forma transparente em debates com os próprios colaboradores e em benefícios específicos de valorização da saúde mental. Elas já perceberam que o nível de engajamento e produtividade cresce quando respeito e um ambiente de trabalho positivo, onde a confiança predomina, determinam boas relações no trabalho e um melhor desempenho nos negócios. A má notícia é que muitas organizações ainda não se dão conta do tamanho do estrago que estão causando nas equipes e, quando percebem que o problema existe, ignoram ou procrastinam decisões que precisam ser tomadas, sobretudo se o problema está em seu principal executivo ou no C-Level.

O estudo apontou ainda que 64,93% dos gestores não acreditam que os líderes onde atuam estão aptos a acolher os colaboradores que apresentarem questões de saúde mental. Para 45,66% deles, as lideranças não estão preparadas para administrar o paradigma e desconhecem algum plano para resolvê-lo no curto prazo. O cenário atual, onde mais de 40% dos liderados apontam o ambiente tóxico como motivo para pedir demissão, deve servir de alerta para empresas que desejam atrair e reter talentos.

E o que elas poderiam fazer para reduzir as causas que afetam a saúde mental dos colaboradores?

1.     Escolher suas lideranças também por comportamentos, exemplos, condutas éticas, princípios e valores, além da trajetória e dos resultados que costumam alcançar.

2.     Exigir que seus líderes tenham a comunicação como competência básica em sua formação.

3. Estimular canais de diálogo aberto entre líderes e liderados, e colocar essa competência para funcionar. Líderes precisam ser ativos na escuta e na busca por soluções às inseguranças e preocupações apresentadas pelas equipes.

4.     Investir em treinamentos que envolvam inteligência emocional, habilidades de comunicação e liderança eficaz.

5. Promover a conscientização sobre saúde mental. Isso pode incluir campanhas, palestras e programas de apoio psicológico para os colaboradores.

6. Parar com o social washing, criar políticas de diversidade e inclusão, legitimar práticas e investir em programas que as promovam.

7. Investir em programas de saúde mental, oferecendo benefícios específicos que ajudem colaboradores a combater a desordem.

8.     Valorizar e promover profissionais que exemplifiquem ideais de produtividade, resultado, empatia e promoção do bem-estar.

9. Avaliar e monitorar regularmente por meio de pesquisas de clima organizacional, feedbacks e instrumentos de avaliação de desempenho.

Empresas que desejam prosperar e atrair talentos devem reconhecer a importância da saúde mental de seus colaboradores e tomar medidas concretas para criar um ambiente de trabalho saudável, respeitoso e acolhedor.

Ignorar a realidade pode ser o primeiro sintoma de uma patologia ainda mais grave.

Os artigos aqui apresentados não necessariamente refletem a opinião da Aberje e seu conteúdo é de exclusiva responsabilidade do autor.

Luis Alcubierre

Luis Alcubierre é executivo de Comunicação Corporativa, Relações Institucionais e Governamentais há mais de 25 anos e hoje atua como conselheiro para a América Latina da Atrevia, agência espanhola de PR e Corporate Affairs, além de liderar o escritório Advisor Comm. É também palestrante, mediador e mentor. Formado em Comunicação Social pela FIAM, possui pós-graduação em Administração de Empresas pela Fundação Getúlio Vargas e MBA pela FIA-USP, com diversos cursos de gestão de liderança e negociação realizados em instituições como IESE, Berlin School of Creative Leadership, Columbia Business School, Universidad Adolfo Ibañez, Escuela Europea de Coaching, Fundação Dom Cabral, IBMEC e FGV. Foi diretor de Comunicação e Assuntos Corporativos de empresas como Kellogg, Pernambucanas e Samsung, onde teve responsabilidades adicionais pela Comunicação na América Latina. No Grupo Telefônica, assumiu a Direção Global de Marca e Comunicação da Atento em Madrid, na Espanha, sendo responsável pela gestão da área em 17 países. Passou ainda por Dow Química, TNT (adquirida posteriormente pela Fedex) e Rede (antiga Redecard), tendo iniciado sua carreira no rádio, nos sistemas Jornal do Brasil e Grupo Estado. Também foi membro do Conselho de associações ligadas às indústrias de alimentos, varejo, vestuário e mercado financeiro, onde teve importante papel negociador em distintas esferas de governo.

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