17 de setembro de 2024

Desafios da comunicação corporativa nos processos eleitorais: você digita um número na urna e confirma!

Na verdade, este gesto aparentemente simples, não é só complexo como tem consequências

Vivemos uma longa entressafra de políticos, moldados para exercer as atividades pertinentes ao Poder Legislativo e ao Poder Executivo nos três níveis da República: federal, estadual e municipal. Esta ausência de novos líderes nos fragiliza e tem nos deixado cada dia mais perplexos diante de um caldeirão do mais do mesmo: uma turma cheia de cacoetes e com uma imensa sanha por satisfazer seus interesses pessoais, a ocupar os gabinetes do poder. Claro, temos também honrosas e importantes exceções!

Em algum ponto da história, perdemos a mão e a política virou apenas uma profissão muito bem remunerada e bastante disputada. A questão da nossa representatividade política é preocupante e tende a se agravar. Nossa democracia ainda é frágil, jovem, cheia de imperfeições, precisa de cuidados ininterruptos e vigilância atenta.

De modo geral, costumamos escolher nossos candidatos pela indicação de um nome, por impulso, até mesmo para nos livrarmos do assunto “chato”. Meses depois da eleição nem lembramos em quem votamos no primeiro domingo de outubro. Apagam-se da memória como que por mágica e damos mais preferência em discutir nomes, apoiando ou rejeitando, perto das eleições. No resto do ano, nossa atenção se prende em Brasília, longe de casa, onde não podemos fazer quase nada, enquanto os vereadores das nossas cidades tomam conta da nossa realidade sem serem incomodados, pressionados, cobrados. Acabamos invertendo nosso papel de cidadão.

Votar é um ato da maior seriedade, nem sempre assim tratado. Votar não é engraçado, não é sobre ganhar ou perder, não é desabafo, não é mandar recado. Votar é muito mais delicado do que parece e está relacionado com os anos que virão. Votar tem consequências para todos nós e também para seus filhos e os filhos dos seus filhos. Votar é um ato que se prolonga no ar.

Normalmente não votamos com a inteligência e com a informação, tão disponível hoje, ao alcance de um Google. Pesquisar sobre seu candidato, seus compromissos, seu alinhamento político, sua história, suas propostas, seu grupo político e seus interesses, podem indicar não apenas a escolha de alguém alinhado com o que você acredita, mas também indica a composição das Câmaras federal e municipais e das Assembleias estaduais, que darão (colocar o verbo no plural) a governabilidade necessária para o Executivo fazer a vida avançar na sua região.

Precisamos urgentemente mudar nossos hábitos de relacionamento com políticos e agentes públicos. Temos a inestimável ajuda da tecnologia para chegar aos nossos candidatos eleitos e estabelecer um diálogo, um fluxo de comunicação com seus representantes políticos. Mandar sugestões, fazer cobranças, fiscalizar, exigir. Este é um hábito muito saudável e legítimo. Necessário. São, afinal, servidores públicos, bem remunerados, que depois de quatro anos, nos procurarão pedindo mais um voto.

E as empresas?

Os profissionais de comunicação das empresas têm um papel muito importante em relação ao ato de votar e ao processo democrático de forma ampla. Naturalmente não influenciando sobre um candidato, muito menos fazendo campanha político-eleitoral, mas promovendo a reflexão, ensinando a pesquisar, provocando a curiosidade dos empregados, com extrema delicadeza e cercado de cuidados para não haver hipótese de influência pessoal a um candidato específico.

Os profissionais de comunicação das empresas são catalisadores de informação, são educadores e conscientizadores dessas questões de cidadania, assim como de sustentabilidade, de ações contra o desperdício e de tantos outros temas. Vale reforçar: não no sentido político-partidário ou ideológico, mas com foco na cidadania, na participação democrática do cidadão, tão — e cada dia mais — necessária.

Não aproveitar estas oportunidades de conscientizar e educar o eleitor sobre o voto, sobre a pesquisa de candidatos, sobre a estratégia de composição das cadeiras nas casas legislativas, a cada eleição, é uma chance perdida para que não precisemos mais frustrantemente vetar ao invés de votar.

Os artigos aqui apresentados não necessariamente refletem a opinião da Aberje e seu conteúdo é de exclusiva responsabilidade do autor.

Carlos Parente

Graduado em Administração de Empresas pela UFBA, com MBA em Marketing pela FEA USP, possui um sólido histórico de experiência em Relações Institucionais & Governamentais, Comunicação Corporativa e Advocacy, com participações e lideranças em processos de comunicação estratégica, inclusive internacionais. Carlos Parente é sócio-diretor da Midfield Consulting.

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