23 de julho de 2024

Liderança comunicadora: um tema sempre atual

Existe um pensamento que ronda minha cabeça há mais ou menos 25 anos, desde que eu comecei a atuar no universo da comunicação interna: “por que os líderes empresariais falam tanto sobre a importância de se comunicar bem, mas poucos investem tempo na escuta ativa e no diálogo genuíno com suas equipes”? De tanto observar, analisar e pensar sobre isso, cheguei a algumas conclusões que quero compartilhar com você.

Eu não acredito, sinceramente, que exista uma única resposta para essa pergunta. Penso que as lideranças sabem, conceitualmente, da importância do seu papel na disseminação de ideias e de informação nas empresas, mas pouco conseguem praticar uma comunicação de qualidade. Por muito tempo, salvo algumas exceções, existiu a mentalidade de que comunicar era missão exclusiva dos departamentos de comunicação. Afinal de contas, eles existem para fazer com que a informação chegue aos diversos públicos das empresas.

Para além dessa mentalidade, a habilidade de se comunicar bem sempre foi vista dentro das organizações como algo inato, quase que um “dom”. E é curioso observar que mesmo aqueles que não possuem essa habilidade “natural” passam pelos chamados “mídia trainning” para aperfeiçoar e se comunicar bem “para fora”, com jornalistas e imprensa em geral, mas poucos são aqueles que recebem um treinamento efetivo para se comunicar bem com o público interno, com seus times.

É curioso que, apesar da pouca importância que se dá à “liderança comunicadora”, o tema está no topo dos assuntos mais relevantes para as áreas de Comunicação e RH nas pesquisas realizadas por renomados institutos nos últimos cinco anos. Para se ter uma ideia, o estudo de 2024 da Ação Integrada em parceria com a Aberje aponta que o principal desafio de comunicação das empresas é engajar os líderes como comunicadores. Nessa mesma pesquisa, aparece outro dado interessante: treinamentos para capacitar os gestores como comunicadores receberão prioridade de investimento em comunicação neste e nos próximos anos.

De acordo com a Harvard Business Review e o Center for Creative Leadership, entre as características de todo líder do futuro está a capacidade de se comunicar, influenciar e inspirar. Se temos pesquisas no Brasil que mostram o quanto o tema é importante, e se estudos internacionais sobre liderança do futuro apontam a habilidade de se comunicar como uma questão crucial, o que falta, então, para que de fato os nossos gestores se tornem excelentes comunicadores?

Na minha opinião, é preciso que os líderes enxerguem o tema comunicação não como mais uma atividade entre tantas que eles precisam desempenhar. Mas, sim, como uma ferramenta, um meio pelo qual eles possam se tornar  gestores cada vez melhores. Quando conseguimos mostrar que é possível melhorar o engajamento do time, atingir melhores resultados, inspirar e motivar as equipes por meio da comunicação, observamos uma mudança na postura do líder, que passa a se empenhar para criar momentos de diálogo e escuta genuína de seus liderados.

Recentemente, coordenamos o processo de treinamento de 470 líderes da Sodexo. Era preciso que todos conhecessem a estratégia da companhia e conseguissem disseminar essa informação de modo claro para todos os colaboradores da companhia. Treinamos mais de 20 turmas com técnicas de comunicação utilizando como base a jornada do herói e, mais do que isso, os ajudando a encontrar o seu estilo e o seu modo próprio de se comunicar. O resultado foi surpreendente: a adesão voluntária ao treinamento foi de quase 100% dos quase 470 líderes e o índice de aprovação e relevância foi bastante alto.

Observamos nesse processo o despertar da consciência de muitos dos líderes participantes, que passaram a olhar para a comunicação não como uma tarefa de uma área específica, mas como uma ferramenta que pode fazer a sua voz e a sua influência chegar mais longe. Não à toa, a frase de um dos primeiros slides do nosso treinamento arrancava risos: “quem não se comunica se trumbica”, acompanhada de uma imagem do seu autor, o ícone Chacrinha. Uma provocação e um convite para refletir, logo de cara, sobre o risco de não se relacionar com suas equipes.

Penso que o momento para desenvolver a nossa habilidade de comunicação é agora. No contexto das mudanças vindas com a Inteligência Artificial, somos chamados a ser cada vez mais humanos e tomarmos posse daquilo que é próprio da nossa natureza. O ato de se comunicar, de contar histórias, de olhar no olho, de se conectar de verdade com as pessoas será atributo cada vez mais valorizado, justamente por nos diferir das máquinas. Você já pensou nisso? Eficiência é indispensável, contudo, nunca nossa humanidade foi tão desejada.

Os artigos aqui apresentados não necessariamente refletem a opinião da Aberje e seu conteúdo é de exclusiva responsabilidade do autor.

Letícia Tavares

É sócia da Agência de Comunicação Quintal 22. Jornalista com pós-graduação em Comunicação Empresarial pela PUC-SP. Possui mais de 20 anos de experiência apoiando as lideranças no desenvolvimento de suas habilidades em comunicação para melhorar o relacionamento com suas equipes. É especialista em planejamento estratégico de comunicação. Possui experiência na definição de processos de comunicação interna visando maior engajamento dos times. Na área de Environmental, Social, and Corporate Governance (ESG) atua como consultora na coordenação de diversos Relatórios de Sustentabilidade, entre eles os premiados Gerdau, Suzano, CBA e CCR.

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