20 de junho de 2024

Evento Mulheres Nissan 2024 discute liderança feminina e empoderamento

Palestras reuniram influenciadores, jornalistas, lideranças femininas e colaboradoras da companhia

Na terça-feira (18), a Nissan, associada da Aberje, realizou o evento Mulheres Nissan 2024, para influenciadoras, jornalistas e lideranças femininas e colaboradoras da empresa. As participantes debateram com as convidadas temas como empoderamento feminino, carreira, propósito e desafios como a síndrome de impostora e a síndrome da Mulher Maravilha. A convite da montadora, Emiliana Pomarico, gerente executiva da Escola Aberje de Comunicação, representou a Aberje.

Gonzalo Ibarzábal, presidente e diretor geral da Nissan do Brasil, abriu o evento destacando a importância da equidade de gênero para favorecer novas ideias e citou o crescimento da presença feminina na Companhia, que passou de 20% em 2023 para 23,6% em 2024. Hoje, 20% das líderes são mulheres e 14% das funcionárias ocupam cargos de gestão.

“Diversidade é um assunto que não se pode esquecer. Erramos, aprendemos, é uma jornada que não tem fim”, explicou  Eloise Brillo, gerente sênior de Diversidade, Equidade e Inclusão da Nissan na América do Sul. Em 2021, a Nissan aderiu aos ‘Princípios de Empoderamento das Mulheres’, da ONU, e ao Pacto das Nações Unidas. A empresa revisou sua licença parental e passou a realizar treinamentos voltados para a diversidade. 

Impostora e Mulher Maravilha

De acordo com Elisama Santos, psicanalista e escritora, as mulheres sofrem com uma educação que, desde crianças, impõe a elas um papel de perfeição. A menina é ensinada a não errar, não arriscar e a não ser causadora de problemas. Quando adultas, deparam-se com a Síndrome da Impostora, ao não se considerarem boas o suficiente naquilo que fazem.

Ao explicar sobre a educação que as garotas recebem, Santos lembrou um experimento, em que um grupo de crianças recebeu limonada com sal no lugar do açúcar. Enquanto as garotas não diziam que estava ruim – para não desagradar ninguém –, os meninos reclamavam enfaticamente, com frases como “Eca, que horrível!”. As diferentes reações ilustram o padrão sexista existente na sociedade, em que a mulher é educada para ser perfeita e o homem é educado para ser corajoso.

“O que é importante para nós, no nosso coração?”, ela perguntou à plateia. Santos destacou a importância do poder pessoal e atuação consciente no universo feminino. “Há lugares que as mulheres aprenderam que não deveriam estar, como se não fossem boas o suficiente para estar ali”, continuou. Com perguntas como ‘Eu realmente deveria estar no lugar em que estou?’, ‘É sorte?’ e ‘Alguém vai descobrir?’, as mulheres se habituam a duvidar de si mesmas. Como uma forma de compensar esse comportamento, Santos explica que muitas delas acabam chamando para si o papel de heroínas, como se fosse sua obrigação dar conta de tudo. A chamada Síndrome da Mulher Maravilha é motivada pelo medo de uma possível descoberta pelos outros de que elas “não mereciam estar ali”. Com isso, muitas mulheres acabam se sobrecarregando, fazendo horas extras, absorvendo inúmeras funções, com dificuldades de dizer não.

“Nós somos educadas para dar conta de tudo e isso afeta a saúde. Quando não falamos no trabalho que estamos extremamente cansadas, não estamos sendo autênticas conosco”, contou Eliane Cantão, diretora de Logística e Gestão de Cadeia de Suprimentos da Nissan na América do Sul.

Santos diz que é preciso exercitar a comunicação não-violenta. “Não é sobre ser boazinha, falar baixo, sorrir. É um compromisso radical sobre o que eu quero”, concluiu. Ela afirmou que as mulheres muitas vezes se autossabotam e precisam prestar atenção para não permitir mais que isso aconteça. Porém, ela reconhece os grandes desafios para mudar esse comportamento. Por mais que alguns homens possam criar seus filhos sozinhos, nas entrevistas de emprego são sempre as mulheres que vão ouvir as perguntas sobre crianças. E, ainda nos processos seletivos, muitas vezes a candidata mulher vai ser preterida apenas por ser mulher, mesmo com um currículo qualificado.

“Empatia e cuidado com o outro a gente já tem. Precisamos agora pensar no que é importante para nós. Quais os nossos limites?”, perguntou Cantão às participantes do evento. Ela citou Emicida, lembrando as presentes de que “Você é a única representante do seu sonho na face da Terra”. 

Ela também falou sobre as diferenças na criação de meninos e meninas e os efeitos desse modelo nas mulheres. “A gente é treinada a dar voltas e a não ser direta a falar o que queremos”, explicou. Para ela, é preciso um exercício constante para transformar esse comportamento. Para isso, o equilíbrio e o autoconhecimento são muito importantes, inclusive para identificar os próprios limites.

“A gente acha que tudo é negociável, mas temos que entender o que é negociável mesmo e o que não é, mas sem sermos inflexíveis”, lembrou Santos. Hoje ela dá mentorias, falando com mulheres sobre seu papel na liderança das próprias carreiras e a importância de explorar novas possibilidades por conta própria.

Esse exercício de mudança também pode trazer seus próprios desafios, reflexo dos diferentes padrões na criação de meninos e meninas. Santos comparou as habilidades humanas a ferramentas, cujo desenvolvimento é fruto da socialização . Enquanto as meninas são ensinadas a serem delicadas e dóceis, os meninos são estimulados a serem corajosos, criativos e expansivos. Na vida adulta, a capacidade laboral (a carreira) e sexual passam a definir o homem, enquanto as mulheres são definidas pela capacidade amorosa e pela maternidade. 

Contra a insegurança, são necessárias conversas difíceis e corajosas para impor sua vontade. Ela lembrou que “o incômodo é a trilha sonora da transformação”, como em uma reforma, com barulho e paredes derrubadas. “É com esse incômodo que vamos gerar, aos poucos, novos pensamentos e comportamentos”, explicou. “É importante cultivar uma rede de apoio, valorizar as próprias conquistas, perceber sua qualificação e não olhar só para as falhas”, finalizou.

Propósito e diferencial

Para a jornalista Christiane Pelajo, o autoconhecimento é o caminho para a busca do propósito. É um processo que requer coragem, ela explicou. Por meio de práticas como retiros e meditação, é possível olhar para si e identificar ou mesmo mudar o próprio propósito.

“Quero destravar a comunicação do maior número de pessoas possível”, explicou Pelajo, ao falar sobre sua atuação nas redes sociais. Ela trouxe dicas para quem quer trabalhar com as redes sociais: o trabalho começa com a clareza do propósito, depois é fundamental estabelecer conexão humana. Ela aposta em conteúdo verdadeiro para criar empatia com autenticidade, sem deixar de trazer pontos de vulnerabilidade. Para ela, a perfeição afasta o público enquanto a vulnerabilidade aproxima as pessoas.

Luciana Herrman, diretora de Comunicação Corporativa da Nissan Latin America, reforça a importância do autoconhecimento nessa jornada. “A gente se molda a partir do que gosta e não gosta e de nossos limites”, explicou. Pela construção de sua marca pessoal, ela chegou a receber o prêmio Woman of Worth 2024, que reconhece a contribuição de mulheres na indústria automotiva e sua atuação para igualdade de gênero, diversidade, equidade e inclusão.

Pelajo chamou a atenção para o que ela chamou de “egoísmo saudável”, de “olhar para si mesma e se achar boa”. Ela lembrou que, muitas vezes, mulheres só se candidatam quando cumprem 100% dos requisitos de uma vaga de emprego, enquanto, com os homens, o valor cai para 60%.

Ela contou que estabeleceu sua marca pessoal após a saída da TV Globo, depois de 26 anos de carreira na emissora. “Comecei a acessar as redes sociais e vi que muita gente já falava de comunicação”, lembrou. Ela buscou então seus diferenciais: ser assertiva, ter fala firme, ser objetiva. Nesse processo, é importante ajustar a linguagem e o tom: abandonar o verbo “achar”, não usar o diminutivo, falar com energia. Mas sempre se mantendo fiel à sua essência. Ela evita as cobranças em excesso, lembrando que não é preciso ser igual às outras pessoas nem acertar o tempo todo. Ela busca manter sua relevância e ficar atualizada sobre tendências, mas sem a cobrança em excesso. “As pessoas querem a oposição da perfeição, não se sabote”, finalizou.

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