Encontro do Capítulo Aberje Amazônia aborda comunicação sobre mudanças climáticas na COP: “Atuar de forma setorial deve ser o primeiro passo”
A mudança climática no mundo é um dos desafios mais urgentes que a sociedade enfrenta atualmente. Agir de maneira ética e sustentável e contribuir de forma coletiva na busca de soluções é responsabilidade de toda organização. A Conferência das Partes (COP), convenção que anualmente reúne líderes e representantes de vários países, é uma dessas ações coletivas que promovem discussões e negociações internacionais sobre o tema. Nesse contexto, os comunicadores desempenham papel crucial ao traduzir informações complexas em mensagens acessíveis para o público, estimulando o engajamento da sociedade. Para comunicar de maneira eficaz as próximas edições da COP, agendadas para 2024 no Azerbaijão, e 2025 em Belém do Pará, na amazônia brasileira, é preciso estar bem preparado e, para isso, empresas e instituições devem começar a trabalhar suas estratégias de comunicação bem antes dos eventos.
Isso ficou claro durante o segundo encontro online do Capítulo Aberje Amazônia, realizado no dia 17 de janeiro. Na ocasião, a diretora do Capítulo, Elis Ramos, gerente de Comunicação dos Territórios Norte da Vale, recebeu o professor de Marketing e Comunicação Empresarial e diretor da Midfield Consulting, Carlos Parente, e o sócio-diretor da Temple Comunicação, o jornalista Alan Cativo, que estiveram presentes na COP28, realizada em Dubai no final do ano passado, para compartilharem suas impressões sobre o evento e sobre a participação do setor empresarial brasileiro. “É hora de começar a estruturar uma estratégia de comunicação conjunta para conquistar visibilidade na COP30 e fazer a diferença”, considera Elis.
Desafio comunicacional
Apesar de ser um dos maiores produtores de petróleo do mundo, os Emirados Árabes Unidos, que sediaram a COP28 no final do ano passado, proporcionaram aos visitantes do mundo todo uma experiência fabulosa com toda a sua exuberante arquitetura futurística, como conta o professor Carlos Parente. “A COP foi uma experiência imperdível, boa por um lado, retórica por outro, mas o maior gargalo comunicacional que vejo hoje é a integração de narrativas do Brasil”, define. “Se as marcas querem performar em 2025, vale aprender como é que roda uma COP, como se estruturar para apresentar e lançar seu produto, que coalizões serão necessárias etc”.
Para além da questão ambiental, também falou-se muito sobre o impacto social durante a convenção. Alan Cativo destacou que qualquer estratégia de comunicação para a COP 2025 deverá ter o caráter multidisciplinar. “Não adianta ativar somente imprensa, ou redes sociais ou RI, qualquer estratégia será multicamadas pois a convenção é uma oportunidade relevante e uma combinação de comunicação e articulação com públicos deve ser o principal pilar de estratégia de comunicação para esse evento”, ressalta.
Em sua visão, o formato da comunicação na COP30 não deve se restringir à uma comunicação de exibição, mas focada na qualidade do conteúdo seja de resultados alcançados, acordos selados antes ou durante o evento ou de compromissos futuros assumidos por lá. “Penso que a articulação terá um peso enorme porque as marcas têm uma presença visual confinadas aos seus estandes, que são muitos, então temos que ter cautela com a expectativa de se ter uma grande visibilidade por lá”, alerta Cativo.
“Há que se ter uma estratégia ‘durante’ o evento, mas também conteúdos relevantes ‘sobre’ o evento (pré e pós) justamente para um público que orbita em torno da COP, seja de especialistas, tomadores de decisão, CEOs, técnicos ou membros de governos, pois todos eles têm muita propriedade para falar sobre temas ligados à convenção”, analisa.
Em sua visão, o desafio da redução das emissões de CO2 é tanto das marcas quanto de cada setor da economia. “Talvez seja hora de alguns setores da economia se articularem com suas agências ou consultorias a respeito de temas relacionados à COP, para pensar numa atuação setorial mas também individual”, recomenda, afirmando ter observado muitas marcas tentando falar ao mesmo tempo,e conseguindo falar pouco durante a convenção, mas falando muito intensamente sobre a COP nas suas redes.
Em Dubai, o executivo observou uma presença tímida das marcas durante o evento, mas que se mostrava forte em seus próprios canais de comunicação. “Penso que essa receita deve se repetir em Belém, por isso as marcas que desejam estar na convenção no ano que vem precisam estar envolvidas com os temas a partir de agora, ou seja, começar a falar da COP durante a COP, a tendência de fracassar em termos de comunicação é muito alta”, analisa.
“Vivemos a época da transparência radical e as empresas que pensam que vão conseguir passar uma imagem legítima pegando carona na COP não vão. Ela pode até pegar carona desde que a transforme em convicção. O desafio é fazer com consistência, com coerência, com uma curva de aprendizado, estamos na antessala de uma COP, uma oportunidade enorme! Esse Capítulo Amazônia da Aberje veio em boa hora, podemos trabalhar juntos e nos estruturarmos, pois o que fica de efeito residual é a imagem do Brasil”, reforça Parente. “Pense grande, comece pequeno mas ande rápido, não dá mais pra andar devagar”, complementa.
Cativo analisa que, neste momento, um dos primeiros esforços organizacionais em relação à comunicação sobre mudanças climáticas, deve ser o letramento dos profissionais das áreas de comunicação, relações governamentais e de publicidade. “Do ponto de vista comercial, operacional e de sustentabilidade, as empresas já vêm realizando muito. Talvez agora seja a hora da Comunicação fazer essa imersão também, pois comunicar sobre o tema não é fácil, há controvérsias, por isso temos que estar aptos para produzirmos conteúdo sobre o tema”, pondera, salientando que uma atuação setorial das áreas de comunicação das empresas pode ser um laboratório importante para o desenvolvimento de estratégias eficazes de comunicação, antes, durante e depois da convenção.
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