Esporte como instrumento de mudança

A Aberje realizou uma reunião via Zoom com Raí e Sóstenes Oliviera, dirigentes da Fundação Gol de Letra, sem fins lucrativos. Estiveram presentes membros da Aberje, do Lidercom e jornalistas.

Estabelecida há 25 anos, a fundação oferece a crianças e jovens de comunidades desfavorecidas programas que aprimoram a educação, a união familiar e promovem o desenvolvimento comunitário. O nome Gol de Letra foi inspirado no conceito de combinar esportes e educação. A crença deles é que os esportes devem ser parte integrante do desenvolvimento de uma criança, pois promovem inclusão, interação social, valores e respeito à diversidade.

A ideia para a fundação foi originalmente concebida por Raí, ex-astro brasileiro do futebol profissional. Como membro da seleção brasileira por mais de uma década, Raí fez parte da vitória na Copa do Mundo de 1994. Ele passou a maior parte de sua carreira no São Paulo e no Paris Saint-Germain. Sóstenes Oliveira, irmão de Raí, é o diretor da fundação.

Hamilton do Santos, Diretor da Aberje, apresentou Raí e falou sobre a parceria entre Aberje e Gol de Letra, destacando o interesse compartilhado em transformar a sociedade por meio do compromisso com a responsabilidade social e proporcionar oportunidades iguais para todos.

Raí começou falando sobre sua carreira como jogador de futebol e seu interesse em serviço comunitário. Ele acredita no efeito transformador que os esportes podem ter na sociedade e que sua posição como atleta profissional lhe deu a oportunidade de fazer a diferença.

Recordando seu tempo na França, ele falou sobre a empregada doméstica brasileira e sua filha que acompanharam sua família a uma pequena cidade nos arredores de Paris. Raí, que levava uma vida privilegiada como estrela do futebol, ficou impressionado pelo fato de que, na França, um país com um sistema de apoio social mais desenvolvido do que no Brasil, a filha da empregada doméstica podia frequentar a mesma escola e ver o mesmo médico que seus próprios filhos. Essa experiência o inspirou a pensar em como poderia contribuir, proporcionando oportunidades para pessoas de comunidades vulneráveis.

Depois de jogar na França, Raí voltou ao seu país natal, onde começou a construir sua fundação em São Paulo e depois no Rio de Janeiro.

Quando o Gol de Letra começou, havia apenas 100 crianças e jovens. Ao longo dos anos, a fundação cresceu e mais de 27.000 jovens participaram do programa. A fundação também compartilhou seu conhecimento e métodos com organizações e escolas em outras regiões do país.

Raí falou sobre a importância de dar aos jovens dessas comunidades um senso de valor e propósito. Ele mencionou que, após passarem um tempo no programa, alguns dos jovens começaram a sentir que tinham o “direito” de ter as mesmas oportunidades que os outros têm.

O Gol de Letra realiza vários programas no Rio de Janeiro e em São Paulo que ajudam crianças e jovens a se tornarem cidadãos produtivos e valiosos na comunidade. Alguns dos projetos são:

• O projeto Jogo Aberto é um programa abrangente de treinamento para crianças, adolescentes e jovens entre 6 e 17 anos. O programa oferece prática esportiva após a escola em judô, futsal, tênis, tênis de mesa e ginástica rítmica. Para garantir a participação feminina nos esportes, o programa reserva pelo menos 40% de suas vagas para meninas. Também são oferecidas oficinas, exposições e torneios.
• O Programa Juventude visa contribuir para o desenvolvimento e habilidades de vida de adolescentes e jovens entre 14 e 21 anos, ampliando a consciência cultural, social e profissional.
• A Biblioteca Comunitária do Caju oferece um espaço com várias oportunidades educacionais e de lazer para jovens e adultos. Além disso, a biblioteca oferece eventos literários e outras atividades culturais. Durante a pandemia, eles realizaram leituras, contações de histórias e outros eventos no Instagram.
• Gol pela Igualdade é um esforço para promover a igualdade de gênero e equidade. Aumentar a participação de meninas nos esportes também é um objetivo do programa.
• O Intercâmbio Brasil-França é um programa que traz estudantes da organização francesa Sport dans La Ville para visitar a Fundação Gol de Letra e envia estudantes brasileiros para a França. A interação entre os alunos permite que eles conheçam pessoas de outros países e aprendam sobre diferentes culturas.

Hamilton perguntou sobre a dificuldade de entrar em comunidades vulneráveis, onde muitas vezes há crime e violência. Raí respondeu que cada comunidade é diferente. É importante ser direto e aberto, ganhar o respeito deles e se adaptar à realidade local. Ele contou que um dia estacionou seu carro no bairro e alguém retirou o rádio de dentro do carro. Em vez de chamar a polícia, ele falou com o porteiro próximo, que disse para ele não se preocupar. No dia seguinte, o rádio foi devolvido.

Surge a questão da estratégia de comunicação da fundação. Os dois irmãos mencionaram que, além da equipe interna, agências de comunicação externas também contribuíram.

Quando perguntado sobre programas para futebol feminino, Raí explicou que a fundação está comprometida em garantir que as meninas tenham as mesmas oportunidades nos esportes que os meninos. Ele observou que, entre os muitos benefícios positivos desse compromisso com a igualdade de gênero, está um novo senso de respeito entre os meninos e as meninas.

Em um comentário durante a reunião, Paul Nassar, Presidente da Aberje, expressou sua apreciação pelo trabalho excepcional que o Gol de Letra está realizando:

“Em um momento em que os jovens e suas famílias se sentem vulneráveis, é importante que criemos e valorizemos espaços de estímulo e solidariedade nas áreas de esportes, educação e artes. Isso é o que a Fundação Gol de Letra representa: apoio, treinamento e solidariedade.”

No final da reunião, Raí contou uma história emocionante sobre uma jovem que correu em uma corrida enquanto membros do Gol de Letra a aplaudiam