Comitê de Inovação se reúne para uma conversa sobre fake news
O fenômeno da desinformação ganhou popularidade nos últimos anos em várias áreas, mas a existência de notícias falsas não é uma novidade. Há diversos momentos históricos importantes fruto da desinformação: a gripe espanhola começou nos EUA; a Proclamação da República foi precipitada pelo boato de que o Barão de Ouro Preto era desafeto do marechal Deodoro da Fonseca; a América ganhou esse nome por relatos escritos por Américo Vespúcio de viagens que ele não fez…
Para falar sobre “Tendências da Comunicação nas mídias sociais contra fake news: como preparar/alertar funcionários para que sejam aliados”, os integrantes do Comitê Aberje de Inovação em Comunicação Corporativa se reuniram, de forma online, no dia 7 de novembro com a pesquisadora Tatiana Dourado, do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Democracia Digital e com o professor Luiz Chinan, gestor da Aliança de Combate às Fake News da Aberje e diretor da agência Retohc Comunicação. O próximo e último encontro será feito de forma presencial no dia 5 de dezembro, na sede da Aberje para reunir os integrantes dos três comitês temáticos em uma confraternização de final de ano.
Ao iniciar, o coordenador do comitê, Lucas Reis, compartilhou algumas reflexões sobre o tema. “Apesar de não ser algo novo, a desinformação virou um fenômeno por conta das tecnologias digitais de comunicação em geral e das plataformas sociais, que, por um lado, estimulou a formação de bolhas – pessoas com visões de mundo parecidas consumindo informações que retroalimentam a própria visão – e, de maneira complementar, ampliou a velocidade da disseminação de inverdades”, destacou.
“Qualquer estratégia de comunicação deve levar em conta as características da disseminação de notícias falsas em meios digitais, especialmente entre o público interno. Indo além, qualquer protocolo de gestão de crise deve prever possíveis boatos que se espalhem, e considerar os colaboradores como parte chave num trabalho de bloquear ou desmentir a desinformação”, ressaltou.
Efeitos negativos de campanhas de desinformação
Na ocasião, Tatiana Dourado buscou caracterizar os fenômenos que cercam as campanhas de informação em plataformas digitais e apresentou as principais ações que têm sido empregadas para combater o problema aqui no Brasil. De acordo com sua análise, diversas são as fases para tentar entender as dinâmicas, os impactos e os efeitos negativos de campanhas de desinformação que, alteram-se a todo o momento, se sofisticando.
Tatiana destacou que hoje existe uma maior audiência de públicos vulneráveis a essas campanhas, salientou que as políticas de moderação e remoção de conteúdo de plataforma digitais estão mais flexíveis e comentou sobre os movimentos de organismos multilaterais e intergovernamentais que cooperam entre si para combater o problema. “Estamos num ponto de virada com a criação de uma abordagem mais global mobilizada tanto para a formulação de leis quanto para lidar com desinformação de uma forma mais sistémica e holística”, salientou.
A executiva considera que os efeitos negativos de campanhas de desinformação decorrem de fenômenos multidimensionais e complexos. “Nós usamos desinformação para enquadrar um pouquinho de tudo: uma notícia enviesada, mensagens e comentários rudes e publicações de uma forma geral, que fogem da razoabilidade das coisas. A meu ver, isso tudo atrapalha, e muito, na identificação do problema e na busca por intervenções mais eficazes”, ponderou.
“Desinformação é a emissão de fluxos de mensagens por meio de diversas técnicas e métodos para gerar essa difusão rápida, contínua, repetitiva, alto volume de mensagens, mas com objetivos muito específicos, como gerar influência na opinião pública, nos processos eleitorais, em manifestações populares, etc”, acentuou Tatiana, acrescentando que desinformação também envolve fabricação de histórias, informações falsas e informações verídicas descontextualizadas.
Para que sejam desmanteladas, essas narrativas nocivas precisam ser entendidas; por isso o trabalho de monitoramento é essencial para antecipar alertas. “Em alguma medida isso pode ser relacionado ao contexto das empresas para somar esforços e criar uma resiliência em suas áreas de atuação. A sociedade como um todo deve ter em mente que o combate à desinformação faz parte do bem comum a partir do conhecimento e do entendimento em como lidar com esse problema”, finaliza.
Da pré-história à Finlândia
Ao iniciar, Luiz Chinan parafraseou o padre Antônio Vieira, que lá em 1653 disse em um de seus sermões: “Sabemos cuidar muito da nossa reputação, todavia cuidamos pouco da nossa consciência”. “Temos que nos preocupar mais com a nossa consciência de cidadãos dentro das nossas organizações, afinal, não podemos separar o profissional do cidadão”, complementou depois de comentar que não há como fugir das fake news porque elas estão por toda parte e que as mídias digitais apenas potencializaram o que o ser humano sempre fez naturalmente desde a pré-história: se comunicar, seja com verdades ou com mentiras.
Em seguida, Chinan elencou cinco mitos que, em sua visão, impedem o bom combate à desinformação dentro das empresas. “O primeiro mito é achar que fake news é um problema político-partidário. Não é. É um assunto econômico, porque muitas vezes trata-se de golpes”, iniciou, contando o recente caso de uma grande loja de artigos esportivos, alvo de informações falsas de que suas lojas estavam fechando e por isso liquidando tudo, o que dava uma brecha para a criação de sites falsos para a venda de produtos falsos. “As coisas vão tomando uma proporção de negócios que as empresas precisam encarar e enfrentar”, recomendou.
O segundo grande mito é que as fake news são assuntos extra mundos. “Essa crença de que fake news é assunto de comunicação externa e não de comunicação interna. Isso é um dos principais erros das empresas, até porque a primeira vítima de uma fake news que envolva marca é o profissional que trabalha para ela”, disse. O terceiro, segundo Chinan, é achar que se trata de uma questão digital. “As fake news são um assunto humano. A tecnologia tem dificuldade para lidar com isso, assim como os reguladores e nós mesmos”.
Outro mito é acreditar que as plataformas são vilãs. “Elas também podem ser os mocinhos da história. Pesquisas mostram que a nova geração nem usa Google para saber alguma coisa, eles usam TikTok, até como um mecanismo de busca. Eles não vão entrar no site do G1 ou no site de uma agência de checagem. Esqueçam isso. E por último a mais importante: a crença de que nós não precisamos de treinamento para identificar a fake news”, completou.
Ao terminar a sua explanação, Chinan citou o exemplo da Finlândia que há décadas apostou na educação midiática desde a alfabetização das crianças para combater o problema e hoje lidera o ranking europeu de resiliência contra fake news. “Faço aqui um pedido público para que as empresas tenham uma pequena Finlândia nos seus programas de treinamento empresariais, para que tenhamos uma blindagem contra a desinformação que tanto nos afeta”, arrematou o gestor da Aliança de Combate às Fake News da Aberje.
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