13 de outubro de 2016

O que Bob Dylan agrega à marca Nobel

Bob Dylan em 1963: o astro pop rebelde reforça hoje a marca Nobel
Bob Dylan em 1963: o astro pop rebelde reforça hoje a marca Nobel

Nobel é uma marca derivada de uma ressignificação reputacional. Desde seu lançamento em 1901, o prêmio cresce e se reinventa. A escolha do músico americano Bob Dylan para o prêmio Nobel de Literatura de 2016 acrescenta novos valores à marca Nobel, e à própria ideia de literatura. Quanto a Dylan, que já ganhou todos os prêmios do mundo, o Nobel representa o pináculo de uma carreira de quase 60 anos.

Para compreender o fenômeno, vamos voltar na história. O químico sueco Alfred Bernhard Nobel (1833-1896) foi o inventor da dinamite. Ele controlou e dominou o poder destruidor da nitroglicerina. Era pacifista, no entanto. Morreu de hemorragia cerebral em sua casa, em San Remo, com a sensação de que passaria para a eternidade como um exterminador. Pelo menos é o que mostra o seu testamento. No documento, criou uma fundação para premiar anualmente pessoas que contribuíram com o progresso do ser humano. Assim foi craiada a Fundação Nobel, que passou a distritibuir prêmios em cinco áreas: Química, Física, Medicina, Literatura – escolhidos por especialistas suecos –  e Paz Mundial, dados por uma comissão do parlamento da Noruega. Ao longo do tempo, aumentaram os quesitos e se flexibizaram os critérios.

Ora, nos últimos anos, o prêmio de Literatura foi atribuído não apenas a talentos obscuros, mas também a criadores de áreas nem sempre consideradas literárias. O exemplo foi a jornalista ucraniana Svetlana Alexiévitch, que ganhou o Nobel em 2015. A chegada de Bob Dylan à galeria dos poetas laureados dá um passo definitivo na tendência de ampliar a popularidade da marca Nobel e de repensar o estatuto da literatura.

Bob Dylan é um “songwriter”, um compositor de canções rebeldes e contraculturais que soma versos e melodias. Uma coisa não pode ser separada da outra. Isso é literatura, por que não? Agregue-se a isso a popularidade universal de Dylan e temos o plano perfeito para relançar o Nobel em um diapasão pop e dar uma nova volta no parafuso de sua reputação institucional. Nitroglicerina pura.

Os artigos aqui apresentados não necessariamente refletem a opinião da Aberje e seu conteúdo é de exclusiva responsabilidade do autor.

Luís Antônio Giron

Jornalista e escritor, Doutor em Comunicações e Artes e Mestre em Musicologia pela Escola de Comunicação e Artes da USP. Trabalhou como editor e repórter especial nas seguintes publicações: Folha de S. Paulo, Veja, O Estado de S. Paulo, Gazeta Mercantil e Época. Como gerente de Multimídia da Fundação Padre Anchieta, reorganizou o portal cmais. Produziu e redigiu documentários e programas na TV Cultura. Livros publicados: Ensaio de Ponto (romance, Editora 34, 1998), Mário Reis, o fino do samba (biografia, 2001), Até nunca mais por enquanto (contos, Record, 2004), Minoridade crítica: folhetinistas diletantes nos jornais da corte (Edusp/Ediouro, 2004), Teatro de Gonçalves Dias (Martins Fontes, 2005) e Crônicas Reunidas de Gonçalves Dias (Academia Brasileira de Letras, 2013).

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