Web Summit Rio, dia 0 e 1: noite de abertura, Brasil no holofote da inovação e inteligência artificial
Dia 0: “As startups podem salvar o mundo”
“As startups podem salvar o mundo”. Assim abriu o evento Paddy Cosgrave, CEO do Web Summit, maior congresso de inovação do mundo, que pela primeira vez acontece no Brasil, no Rio de Janeiro. Em seguida, as três primeiras startups que fizeram seu pitch na rodada de apresentações deram o tom: uma startup que captura CO2 da atmosfera, uma plataforma de gestão de equipes para lideranças focada saúde mental, um serviço de cybersegurança. Ao comunicador atento, ficou claro: sustentabilidade, bem estar social (ao público interno) e um aspecto de governança (segurança de dados), o ESG em pauta.
Os números do Web Summit impressionam. São mais de 20 mil pessoas, de 91 países, 400 palestrantes, milhares de startups, investidores e todo ecossistema do mercado de inovação. A intenção, segundo o prefeito Eduardo Paes na abertura do evento, é transformar o Rio de Janeiro (e o Brasil) em um polo global de inovação.
A noite de abertura também foi marcada por certas críticas à organização, devido às grandes filas para o credenciamento e para entrada no palco principal e algumas falhas técnicas nos microfones e teleprompter. Profissionais de comunicação que trabalham com organização de eventos não raro lidam com essas questões, que ganham dimensões enormes na mesma proporção de um megaevento. Esses problemas foram alvos de grande quantidade (e voracidade) de comentários nas redes sociais do congresso, tudo isso na noite de abertura da primeira edição realizada – algo que pode impactar a reputação do evento, que já tem, inclusive, outras edições confirmadas no Rio. Outra crítica recorrente foi sobre a obrigatoriedade de se falar em inglês no palco, mesmo com boa parte dos palestrantes ser brasileira e a maioria da plateia também. Entretanto, é possível entender a decisão da organização, uma vez que o evento se coloca como internacional e disponibiliza-se tradução simultânea no aplicativo do Web Summit.
No palco, destaque para os grandes speakers da noite, como o apresentador Luciano Huck; a co-fundadora do movimento Black Lives Matter, Ayo Tometi, entrevistada pela jornalista Maju Coutinho; e a líder indígena Txai Suruí.
Dia 1: IA, privacidade e marcas
Nos últimos anos, as inovações tecnológicas – e as grandes startups de tecnologia que surgiram – vieram a partir de plataformas, isto é, redes sociais que conectam pessoas com um objetivo específico. O Web Summit Rio deixou claro que a discussão sobre inovação agora se dá sobre, principalmente, a Inteligência Artificial. É um novo ciclo que ditará as tecnologias de inovação das próximas décadas.
Chelsea Manning, “technologist”, especialista em segurança, sobre privacidade: segundo Manning – militar transexual do Exército dos Estados Unidos, que ficou conhecida pela denúncia e divulgação de informações sigilosas que resultaram no escândalo do “WikiLeaks” – as novas tecnologias podem melhorar ou ameaçar a privacidade, tudo depende de como se dará o desenvolvimento. Nesta balança, de quem é a responsabilidade ética, dos reguladores, das plataformas ou dos usuários? A pesquisadora acredita que a maior parte da responsabilidade é de fato dos profissionais de tecnologia que desenvolvem as plataformas, em dizer se seus produtos podem ser prejudiciais ou se são seguros. Caso contrário, os reguladores, cedo ou tarde, irão intervir. Este é o tema de debate que está ocorrendo no Brasil, com o PL 2630/2020 das fake news.
Graham Mcdonnell, VP de Marca e Criatividade da Time, palestrou e apontou caminhos para se evitar quando falamos de branded content. Listando os principais erros da prática, deu valiosas dicas para os marketeiros presentes. McDonnel indicou manter o foco na audiência, dar prioridade para o que ela gostaria de ler/ver/ouvir, e não esquecer de contar uma história que mantenha o público atento.
Impacto da inteligência artificial na indústria do marketing, com Daniela Braga, fundadora e CEO da Defined.ai; Fernando Machado, CMO da NotCo; e Brad Haynes, correspondente da Reuters News: Haynes levantou a questão da possibilidade da IA tomar funções humanas, acabando com empregos. Daniela respondeu que observa as plataformas de inteligência artificial e reconhece seu impacto no mercado, mas que uma ação de marketing, um anúncio, precisa de um toque humano. “Se a inteligência artificial faz 65% do trabalho, por exemplo, esses outros 35% do resultado são pensados e produzidos por humanos”. Fernando afirmou também que a IA é uma tecnologia que vem para ajudar, mas que não vê essa tecnologia roubando empregos de pessoas. “É uma nova tecnologia, devemos saber trabalhar com ela, mas não vejo a IA tomando o emprego das pessoas que trabalham na área de marketing.”
Alain Sylvain, fundador da SYLVAIN, subiu ao palco com intuito de questionar o que é mais valioso entre criatividade e timing. Para o palestrante, a chave é o timing. Do ponto de vista corporativo, Sylvain não deixou de valorizar a criatividade, mas mostrou com dados que o timing entrega maior retorno para as organizações.
Um dos maiores nomes do marketing digital mundial, Neil Patel também marcou presença no Web Summit. Em sua palestra, Patel trouxe para discussão formas de alcançar o público em uma “corrida multicanais”. O britânico-americano defendeu que seguidores não representam audiência, que esta se limita às pessoas que prestam atenção no que é feito nos canais, sejam pessoais ou da organização. A principal conclusão que comunicadores podem tirar da fala de Patel é de dar importância para atingir público através de diferentes canais, manter ou adotar uma cultura “omnichannel” é fundamental para alcançar melhores resultados.
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