02 de julho de 2014

Comunicação formal ou comunicação formol?

Lá se vão décadas em que uma empresa resolvia seus problemas de comunicação criando um jornal ou revista empresarial. A sigla que da origem à ABERJE nasceu justamente disso. A complexidade das relações no trabalho, a tecnologia, a competitividade e a própria evolução da sociedade se encarregaram de mudar completamente a maneira com a qual nos comunicamos, principalmente em uma organização. Se antes o conteúdo era autoritário ou ditatorial, podemos arriscar que ele frutificou no editorial e acabou aterrissando, já há um bom tempo, no pessoal, no personalizado e na via dupla.

A comunicação dos veículos, é bom que se diga, não morreu. Ela simplesmente criou tentáculos do plano off-line para o on-line, gerando uma convivência pacífica e complementar. A questão é que a comunicação formal das empresas pautou-se nisso: nos veículos – nas mensagens escritas e publicadas. E aí ficou a imagem de que a comunicação é responsabilidade da área de Comunicação. Você já deve ter ouvido essa ladainha mais de mil vezes, então passemos o capítulo.

Nós comunicadores precisamos conseguir dar um salto quântico na comunicação formal, compartilhando responsabilidades com os líderes da organização. É fundamental estimular as competências do ouvir, do falar e do sentir naqueles que possuem equipes sob seu comando. Os riscos de uma comunicação mal feita passam a ser menores quando mais motivada e produtiva estiver uma equipe, e isso acontece com mais frequência à medida que a informação chegar com precisão e rapidez a ela. Mas como diz o pensador e consultor em Comunicação, Fábio Betti, cuidado para não transformarmos as pessoas em canais e achar que o problema está resolvido. Os canais continuam sendo os veículos formais, mais ou menos tecnológicos; a informação, o objeto; e o fim, as pessoas, sejam elas líderes ou liderados.

É fato que queremos seguir publicando notícias, estimular a participação e a opinião, mas a legitimidade disso só encontrará o seu nirvana quando o líder aprender e ensinar que isso se faz primeiro pessoalmente, olho no olho, de maneira coordenada com as necessidades que a empresa tem de dividir suas boas novas, mas também suas preocupações, lidando com as competências pessoais que levem o time à satisfação e a melhores resultados. Conservar em si mesmo a informação relevante para o bom andamento dos negócios e ignorar que uma relação humana e construtiva depende do diálogo, é manter o passado ainda vivo.

E aí, líder, vai continuar deixando o seu trabalho para a área de Comunicação?

Os artigos aqui apresentados não necessariamente refletem a opinião da Aberje e seu conteúdo é de exclusiva responsabilidade do autor.

Luis Alcubierre

Luis Alcubierre é executivo de Comunicação Corporativa, Relações Institucionais e Governamentais há mais de 25 anos e hoje atua como conselheiro para a América Latina da Atrevia, agência espanhola de PR e Corporate Affairs, além de liderar o escritório Advisor Comm. É também palestrante, mediador e mentor. Formado em Comunicação Social pela FIAM, possui pós-graduação em Administração de Empresas pela Fundação Getúlio Vargas e MBA pela FIA-USP, com diversos cursos de gestão de liderança e negociação realizados em instituições como IESE, Berlin School of Creative Leadership, Columbia Business School, Universidad Adolfo Ibañez, Escuela Europea de Coaching, Fundação Dom Cabral, IBMEC e FGV. Foi diretor de Comunicação e Assuntos Corporativos de empresas como Kellogg, Pernambucanas e Samsung, onde teve responsabilidades adicionais pela Comunicação na América Latina. No Grupo Telefônica, assumiu a Direção Global de Marca e Comunicação da Atento em Madrid, na Espanha, sendo responsável pela gestão da área em 17 países. Passou ainda por Dow Química, TNT (adquirida posteriormente pela Fedex) e Rede (antiga Redecard), tendo iniciado sua carreira no rádio, nos sistemas Jornal do Brasil e Grupo Estado. Também foi membro do Conselho de associações ligadas às indústrias de alimentos, varejo, vestuário e mercado financeiro, onde teve importante papel negociador em distintas esferas de governo.

  • COMPARTILHAR: