ChatGPT, o assunto do momento
Se você ainda não ouviu falar nele, já está por fora. O ChatGPT vem se tornando assunto em rodas de conversa no mundo todo desde que a sua Versão 3 foi lançada no finalzinho de novembro do ano passado e, no Brasil, explodiu nas últimas semanas. Para se ter uma ideia do alcance, em apenas cinco dias após seu lançamento, conquistou mais de um milhão de usuários no mundo. Desenvolvido pelo centro de pesquisa OpenAI, na California, o ChatGPT é uma ferramenta de inteligência artificial que impacta de forma significativa o universo da comunicação, em especial a pesquisa e a geração de conteúdo. Ele é alimentado por uma rede neural profunda e é capaz de gerar texto como se fosse escrito por um humano com base em seu treinamento em milhões de exemplos de textos.
Na prática, o ChatGPT funciona mais ou menos assim: você digita uma pergunta ou uma frase sobre o que quer pesquisar ou escrever e, em segundos, a ferramenta te entrega um texto completo (releases, biografias, roteiros e até dissertações), coerente e amarrado, em geral com pouca necessidade de ajustes. Ela é capaz de escrever, por exemplo, um press release inteiro a partir histórico das empresas e pessoas envolvidas e trazer inclusive aspas perfeitas de porta-vozes escritas a partir de entrevistas ou materiais institucionais públicos disponíveis na rede. Em outro exemplo, uma amiga me mostrou uma carta de apresentação sobre ela escrita com o uso do GPT – o resultado é de fato impressionante. “Eu não seria capaz de escrever um texto tão bom sobre mim”, ela confessou.
Ao mesmo tempo em que a nova tecnologia fascina por suas possibilidades, ela assusta. Do ponto de vista ético, por exemplo, de que maneira isso seria regulado? Hoje conseguimos identificar facilmente, por meio de uma pesquisa do Google, quando um trabalho escolar ou um texto qualquer é plagiado da internet, mas no caso do ChatGPD, o texto construído é teoricamente original. Como conseguiríamos identificar, por exemplo, se um trabalho foi feito realmente por um estudante ou profissional ou se foi feito pelo GPT? De quem seria a propriedade intelectual do texto?
De qualquer forma, há alguns ajustes importantes ainda a serem feitos na ferramenta – os dados da versão 3 do ChatGPT, a saber, têm uma data limite – as informações acadêmicas, de mídia, alguns sites e outras fontes de banco de dados foram inseridos no início de 2021 e não contemplam atualização em tempo real. Além disso, os dados de internet utilizados na pesquisa ainda são limitados.
Seus próprios desenvolvedores reconhecem – e isso está explícito no website do OpenAI – que a ferramenta ainda não é totalmente precisa, o que significa que seu uso ainda requer cuidado. Ela pode fornecer informações plausíveis, mas com respostas incorretas ou sem sentido, e pode responder a instruções prejudiciais ou exibir comportamento tendencioso. Os desenvolvedores adicionaram isenções de responsabilidade a este efeito e notaram que pode haver vieses devido ao treinamento humano que ocorreu antes do lançamento público. Dessa maneira, sua considerável imprecisão em parte do conteúdo gerado corre o risco de alimentar a desinformação caso seja utilizada de forma indiscriminada. Em alguns casos, a ferramenta foi flagrada inventando fatos e até citações. Na ausência de quaisquer dados concretos, ela pode simplesmente escrever algo que pareça um conteúdo comparável ao que foi inserido anteriormente.
Mas é bem provável que tais ajustes no ChatGPT sejam feitos rapidamente à medida em que os usuários fazem seus testes e ela aprende novos padrões de comportamento, tornando os resultados cada vez mais precisos. Uma versão 4 do ChatGPT deve ser lançada nos próximos meses – o que vem gerando uma grande expectativa no mercado, dado seu potencial de ser mais preciso e ainda mais poderoso do que a versão atual. Espera-se que, além de uma versão profissional paga que atuará sob demanda, também possamos ver conteúdos de áudio e vídeo gerados pela ferramenta – estou curiosa para ver como isso vai funcionar!
De qualquer forma, algumas empresas já começaram a testar o ChatGPT para aplicações práticas e isso caminha para ser uma tendência importante em diversos segmentos. No universo da comunicação corporativa, por exemplo, provavelmente a produção de press releases não precisará mais ser feita por humanos daqui a algum tempo. Assim como já existem ferramentas de IA que realizam mapeamentos de stakeholders e de temas relevantes em questão de segundos – trabalho que humanos às vezes levam semanas ou até meses para desenvolver. No jornalismo, a inteligência artificial também será capaz de produzir matérias completas a partir de conteúdos antigos (o que pode ser bastante perigoso do ponto de vista ético e de veracidade das informações).
Há inúmeras oportunidades para aplicação do GPT no ambiente de negócios, como a sua capacidade de automatizar e melhorar a eficiência do atendimento e suporte ao cliente, gerar conteúdo para campanhas de vendas e marketing, análise de dados para inteligência de negócios, automatização de tarefas repetitivas e criação de assistentes virtuais, resumo de textos longos ou reportagens etc. Empresas líderes de tecnologia no Vale do Silício enxergam um impacto significativo em produtividade, na criação de conteúdo e na forma como as empresas trabalham.
Ainda não é possível dimensionar o tamanho do impacto do ChatGPT e outras dessas chamadas ferramentas generativas no mundo dos negócios. Vamos aguardar o que vem por aí. No que diz respeito especificamente às empresas de comunicação, é bom que estejam muito antenadas sob risco de perder o bonde se não acompanharem de perto essa inovação.
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