Mais do que olhos e ouvidos
Não costumo escrever tanto sobre experiências pessoais, mas esta achei que valia a pena por ajudar a jogar luz sobre uma causa tão importante. E também porque nunca pensei que seria tão gratificante a missão de ajudar alguém fazendo o que se gosta. Pois bem, faz 12 anos que adotei a corrida como principal atividade esportiva para a manutenção de minha saúde física e mental. De lá para cá foram dezenas de provas, entre elas sete edições da São Silvestre, duas meia-maratonas e assim por diante.
No entanto, sobretudo no período mais crítico da pandemia e com a ausência das corridas de rua, percebi que treinar sozinho já não fazia o mesmo sentido, ainda que com uma boa playlist como “companheira”. Foi então que conheci o trabalho da Achilles International (https://www.achillesinternational.org/), uma organização global que atende mais de 150 mil AcDs – Atletas com Deficiência em 38 capítulos (localidades) em 17 países, entre eles o Brasil. Nos EUA, existem 28 capítulos em 19 estados (+DC).
A história da criação da entidade por si já é inspiradora. Em 1976, Dick Traum tornou-se o primeiro amputado a completar a maratona de Nova York, chegando na última colocação. Ele queria que mais pessoas como ele completassem esse tipo de prova, mas sabia que não conseguiria isso chegando sempre em último lugar. Com esse sonho na cabeça, Dick reuniu alguns colegas e sete anos depois fundou a Achilles, com o objetivo de ajudar outras pessoas com deficiência a superarem desafios através do esporte e, com isso, potencializar o senso de conquista e autoestima. Aqui no Brasil, a Achilles atua desde 2006 e conta com um grupo de guias voluntários que apoiam não apenas com seus olhos e ouvidos, mas também com gestos de amizade, cuidado e empatia quase uma centena de AcDs.
De acordo com dados do IBGE de 2019, o Brasil tem mais de 17,3 milhões de pessoas com deficiência, o que representa 8,4% da população acima de dois anos. Infelizmente, muitas dessas pessoas que poderiam sair de casa para exercitar-se não o fazem por vários motivos, como falta de acessibilidade, apoio e incentivo. É isso que a Achilles busca agregar ao criar uma comunidade entre guias e atletas e promover interações que permitem a ambos os grupos um aprendizado ímpar. Já participei de alguns treinos e de uma corrida de rua e certamente aprendi mais do que pude doar. Cada experiência é única e igualmente reconfortante e recompensadora.
Faço esse testemunho para estimular que mais pessoas conheçam a entidade, ajudem a divulgar e também venham fazer parte. Não é preciso ser atleta profissional para tornar-se guia na Achilles. Com base em treinamentos e no condicionamento físico informado, realiza-se um pareamento entre guias e AcDs para caminhadas e corridas, sempre dentro dos limites de cada indivíduo e com o acompanhamento de guias mais experientes no período de capacitação. Unir a paixão pelo esporte a uma causa como a inclusão é uma motivação a mais para acordar bem cedo, calçar o tênis e correr ou caminhar com um colega por algo que se acredita.
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