18 de agosto de 2020

Um olhar para a comunicação a partir de outros saberes

Lá na época do mestrado, quando estudei o medo organizacional, por ter um objeto de estudo tão multifacetado, fortaleci a minha crença de que os diálogos híbridos, a partir de diferentes saberes e campos do conhecimento, tendem a ser mais ricos e a ampliar nosso olhar, muitas vezes, nos conduzindo para belas e inusitadas reflexões.

Para ancorar minha crença, na época, descobri a Vera França e me senti profundamente contemplada por sua reflexão sobre os paradigmas da comunicação, na qual ela traz a ideia de que a comunicação “(…) representa muito bem a atmosfera atual, que estimula a diluição dos feudos, das demarcações rígidas de terreno, e chama os cruzamentos”.

Continuo a acreditar que estudar e praticar a comunicação a partir de diferentes interfaces e saberes é uma tendência que se desdobra, cada vez mais, no nosso dia a dia prático. Vivemos um momento em que compreender os impactos da comunicação na cultura, no clima e na experiência que o empregado vivencia no dia a dia das organizações nos exige novos olhares que levem em conta a subjetividade do empregado, ou seja, esse mundo interno que é composto por sentimentos e pensamentos. É esse mundo interno que devemos, cada vez mais, considerar para dar o tom às nossas práticas no dia a dia

No contexto atual, por exemplo, os desafios da pandemia demandam uma comunicação empática, na qual os líderes se disponham a dialogar com os times a partir de uma postura de escuta e acolhimento aos medos, preocupações, luto e ansiedade oriundos do contexto. Fortalecer a cultura organizacional à luz dos desafios atuais e futuros também é algo que envolve compreender de que forma símbolos, ritos, rituais e significados necessitam de ressignificação nesta jornada. A comunicação interna, cada vez mais colaborativa, também demanda maior compreensão quanto à fenomenologia das redes, articulação de influenciadores internos e da comunicação interna informal.

As subjetividades do sujeito estão relacionadas às emoções, pensamentos, sentimentos, significados que são assimilados por ele e que podem, a partir desse exercício de assimilação individual e de adaptação ao meio, também moldar e influenciar a maneira como o indivíduo se comporta, se comunica, constrói relações, interage com a cultura e vivencia a vida organizacional.

Nesse sentido, ampliar a nossa compreensão quanto à subjetividade do sujeito é fundamental para que possamos compreender e repensar nosso lugar e papel enquanto função que articula o diálogo organizacional, contribui para o manejo da cultura e, ainda, pode favorecer uma experiência mais humanizada nas organizações.

Quando estudei o medo, fui buscar na semiótica, na antropologia das emoções, na sociologia, referências para a compreensão do medo, enquanto afeto. Minha vivencia me traz a crença de que todos estes saberes ancoram novas perspectivas que transbordam nosso olhar de comunicador possibilitando novas conexões, reflexões e aportes teóricos cuja análise, articulação e correlação podem potencializar novos olhares, novas formas de pensar, compreender e praticar a comunicação.

A partir dessa experiência, ao longo dos últimos anos, tenho estudado práticas e perspectivas como escuta, empatia, compaixão, processos circulares, antroposofia. E, cada vez mais, acredito que a correlação entre diferentes campos do conhecimento enriquece nosso olhar, ampliando também nosso alcance e prática. Por isso, a partir deste mês, vou trazer mensalmente aqui na coluna da Aberje um pouco das minhas reflexões a respeito destes saberes e as conexões que observo entre estas temáticas, a subjetividade dos sujeitos e o dia a dia das relações, interações e diálogos nas organizações. Vem comigo nessa jornada?

Os artigos aqui apresentados não necessariamente refletem a opinião da Aberje e seu conteúdo é de exclusiva responsabilidade do autor.

CYNTHIA PROVEDEL

Mestre em Comunicação pela Faculdade Cásper Líbero (Facasper), especialista em Gestão de Comunicação Organizacional e de Relações Públicas pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP) e graduada em Comunicação Social pela Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM). Mais de 15 anos de experiência em organizações, tais como Duratex, Sanofi, Novartis, Ericsson, Grupo Ultra e GPA (Grupo Pão de Açúcar), liderando temas como Comunicação Interna, Cultura, Desenvolvimento Humano. Concebeu e publicou - em inglês e português - uma matriz de maturidade em comunicação interna, ferramenta de diagnóstico e planejamento em comunicação interna que tem apoiado diversos profissionais da área. Vencedora do Prêmio Aberje 2018 na categoria "Relacionamento com Público Interno" em case transversal envolvendo Cultura, Engajamento e Comunicação. Desde 2015 na Aberje, atua como professora da disciplina de Comunicação Interna no MBA da Aberje em Gestão da Comunicação Empresarial, instrutora de curso anual em "Planejamento da Comunicação Interna", além de liderar as "Oficinas de Escuta" lançadas durante o período da pandemia. Possui artigos publicados pela Intercom e Organicom e é coautora dos livros "Comunicação em Cena" e "Ensaios sobre Comunicação com Empregados".

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