Um olhar para a comunicação a partir de outros saberes
Lá na época do mestrado, quando estudei o medo organizacional, por ter um objeto de estudo tão multifacetado, fortaleci a minha crença de que os diálogos híbridos, a partir de diferentes saberes e campos do conhecimento, tendem a ser mais ricos e a ampliar nosso olhar, muitas vezes, nos conduzindo para belas e inusitadas reflexões.
Para ancorar minha crença, na época, descobri a Vera França e me senti profundamente contemplada por sua reflexão sobre os paradigmas da comunicação, na qual ela traz a ideia de que a comunicação “(…) representa muito bem a atmosfera atual, que estimula a diluição dos feudos, das demarcações rígidas de terreno, e chama os cruzamentos”.
Continuo a acreditar que estudar e praticar a comunicação a partir de diferentes interfaces e saberes é uma tendência que se desdobra, cada vez mais, no nosso dia a dia prático. Vivemos um momento em que compreender os impactos da comunicação na cultura, no clima e na experiência que o empregado vivencia no dia a dia das organizações nos exige novos olhares que levem em conta a subjetividade do empregado, ou seja, esse mundo interno que é composto por sentimentos e pensamentos. É esse mundo interno que devemos, cada vez mais, considerar para dar o tom às nossas práticas no dia a dia
No contexto atual, por exemplo, os desafios da pandemia demandam uma comunicação empática, na qual os líderes se disponham a dialogar com os times a partir de uma postura de escuta e acolhimento aos medos, preocupações, luto e ansiedade oriundos do contexto. Fortalecer a cultura organizacional à luz dos desafios atuais e futuros também é algo que envolve compreender de que forma símbolos, ritos, rituais e significados necessitam de ressignificação nesta jornada. A comunicação interna, cada vez mais colaborativa, também demanda maior compreensão quanto à fenomenologia das redes, articulação de influenciadores internos e da comunicação interna informal.
As subjetividades do sujeito estão relacionadas às emoções, pensamentos, sentimentos, significados que são assimilados por ele e que podem, a partir desse exercício de assimilação individual e de adaptação ao meio, também moldar e influenciar a maneira como o indivíduo se comporta, se comunica, constrói relações, interage com a cultura e vivencia a vida organizacional.
Nesse sentido, ampliar a nossa compreensão quanto à subjetividade do sujeito é fundamental para que possamos compreender e repensar nosso lugar e papel enquanto função que articula o diálogo organizacional, contribui para o manejo da cultura e, ainda, pode favorecer uma experiência mais humanizada nas organizações.
Quando estudei o medo, fui buscar na semiótica, na antropologia das emoções, na sociologia, referências para a compreensão do medo, enquanto afeto. Minha vivencia me traz a crença de que todos estes saberes ancoram novas perspectivas que transbordam nosso olhar de comunicador possibilitando novas conexões, reflexões e aportes teóricos cuja análise, articulação e correlação podem potencializar novos olhares, novas formas de pensar, compreender e praticar a comunicação.
A partir dessa experiência, ao longo dos últimos anos, tenho estudado práticas e perspectivas como escuta, empatia, compaixão, processos circulares, antroposofia. E, cada vez mais, acredito que a correlação entre diferentes campos do conhecimento enriquece nosso olhar, ampliando também nosso alcance e prática. Por isso, a partir deste mês, vou trazer mensalmente aqui na coluna da Aberje um pouco das minhas reflexões a respeito destes saberes e as conexões que observo entre estas temáticas, a subjetividade dos sujeitos e o dia a dia das relações, interações e diálogos nas organizações. Vem comigo nessa jornada?
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