08 de julho de 2010

Os onze mais da Comunicação na Copa da África do Sul

Nunca na história das Copas do Mundo, a comunicação teve um papel tão relevante e mexeu tanto com a emoção dos torcedores. Bilhões de pessoas de 215 países acompanharam 64 jogos, viram 145 gols, um bocado de erros arbitrais e de jogos bocejantes, mas sem querer participaram da maior revolução da informação que se tem notícia em um único evento.

1 – Streaming de vídeos

Muito antes da Copa, canais como o Youtube já tinham no acervo centenas de vídeos sobre a temática do Mundial da África enviados por internautas de diversos países. Portais de notícias, o endereço web da FIFA e tantos outros foram clicados à exaustão. Entrevistas, paródias, comerciais, mensagens e virais foram os temas mais postados e procurados. A pirataria também marcou presença nas transmissões esportivas. Os brasileiros ainda contam com diversos jogos transmitidos pela TV aberta, mas não são todos os que têm esse privilégio. Muita gente entrou na rede, fez o gato e assistiu pelo computador.

2 – O Twitter bombou

Todo o mundo já sabe. O microblog bateu recordes – quase 70 milhões de tweets diários -, e fez com que os brasileiros ratificassem sua posição entre os maiores usuários da ferramenta, que registrou diversas panes pelo excesso de tráfego. Virou link para blogs de jornalistas, para blogs de pessoas que tem talento para escrever, e para outras que nem tanto; virou a válvula de escape para jogadores na concentração (teve um inclusive que anunciou sua paternidade); serviu para veículos de comunicação gerar pageviews em suas páginas, para as empresas venderem mais; colocou lenha na fogueira, criou factóides, levou os americanos a achar que a fauna brasileira corria (ainda mais) perigo; criou saias justas e um infinito de mensagens e pensamentos que transformaram a Copa em uma grande desculpa para que todos falassem um pouco do que pensam. Afinal, nesta época todo o mundo é técnico, tem algum palpite e quer algum tipo de reconhecimento por isso.

3 – As redes sociais foram invadidas pelas empresas

Os temas ligados à Copa protagonizaram grande parte dos comentários nas mídias sociais e isso em um mundo que assistia ao mesmo tempo o derramamento de óleo no Golfo do México, uma série de atentados no Iraque, a polêmica lei de imigração no Texas e o início do processo sucessório no Brasil. Três das mais importantes marcas esportivas investiram em perfis e espaços, em diversas comunidades pelo mundo; fizeram promoções, aumentaram o tráfego em suas páginas e venderam muito. Ganharam e perderam fãs, mas sempre estiveram na boca e nas mãos do povo.  E para não perder a oportunidade, o mercado financeiro, a indústria de eletroeletrônicos, a automobilística, o varejo em geral e muitos outros setores pegaram o vácuo e colaram a sua marca no evento através da rede – tudo dentro dos limites da legalidade de quem não era patrocinador oficial da Copa.

4 – A Vuvuzela ecoou

O instrumento de sopro inventado para atazanar a vida dos jogadores, da imprensa, do torcedor e do telespectador é mais antigo do que se imagina. No início era feito de estanho e só em 2001 ganhou o jeitão que tem hoje graças a uma empresa chamada Masincedane Sport (maldita seja!).  Bem diferente dos sinais de fumaça, que eram uma maneira inteligente, simples e silenciosa de se comunicar, as vuvuzelas alcançam 127 decibéis, o suficiente para que ninguém entenda o que o vizinho ao lado está falando. A coisa foi tão complicada que muitas redes de TV adaptaram um filtro para eliminar o ruído na transmissão.

5 – Os Apps viraram febre

Quem tem um iPhone, um iTouch ou outro Smartphone ligado a uma loja de aplicativos, percebeu que os sisteminhas, além de bonitos, são úteis. Não houve um só dia em que não estivesse ligado a um aplicativo ligado à Copa do Mundo, acompanhando jogos, gols, comentários, fotos e vídeos. E pela primeira vez, as famosas tabelinhas da Copa ganharam um formato online e em tempo real.

6 – As figurinhas da Copa sumiram

Colecionar figurinhas de jogadores não é nenhuma novidade durante o período da Copa, mas este ano a divisão de cards da empresa italiana responsável pela produção dos álbuns comemora. Tanto no Brasil como aqui na Europa, elas voltaram a ser uma mania entre todas as idades. Muita gente reclama de ver jogadores nos álbuns que não foram à Copa e outros que foram convocados, mas não estão na coleção. Nem tudo é perfeito no mundo offline, porque o processo de aprovação dos direitos de imagem e a produção das figurinhas exigem mais tempo que as convocações definitivas. Este ano, as figurinhas oficiais da Copa também ganharam as manchetes dos jornais brasileiros e também do exterior depois que 135 mil delas foram roubadas de uma distribuidora em São Paulo.

7 – A eletrônica no futebol

Graças ao árbitro italiano Roberto Rosseti, ao uruguaio Jorge Larrionda e ao francês Stéphane Lannoy, que quebrou o nosso galho e validou o gol de Luis Fabiano contra a Costa do Marfim, o uso da eletrônica no futebol voltou ao clamor popular. Errar é humano, mas insistir no erro é coisa da FIFA, que insiste em dizer que o esporte não teria graça se não fosse pela imprecisão. Uma desculpa assim lá no escritório, principalmente com a freqüência que estão fazendo nos campos, seria motivo suficiente para virar “procurador do Estado”. Se não querem que as pessoas vejam as jogadas, tirem os telões dos estádios e proíbam o uso de tantas câmeras. Aliás, proíbam de uma vez o futebol bonito, limpo e justo.

8 – O polvo vidente

Até o momento de finalizar este artigo, o polvo alemão Paul, também conhecido como o Novo Nostradamus, do aquário Sea Life em Oberhausen, havia acertado todos os vencedores dos jogos para os quais seus serviços de “vidente” foram requisitados. A jogada consistia em colocar duas caixas identificadas com as bandeiras dos países que se enfrentavam. Em cada uma delas havia um mexilhão e aquele que o polvo comesse determinava o vencedor. O bicho não falhou nenhuma das oito vezes em que fez sua previsão. Termina a Copa invicto.

9 – A relação dos técnicos e a imprensa

Todo o mundo que tem um mínimo de interesse pela boa comunicação sabe que, por mais complexa que possa ser a relação com os profissionais da imprensa, a informação que se vai transmitir não é para o repórter, mas para o leitor, o ouvinte ou o telespectador. Manter um diálogo aberto, claro e sem ressentimentos é meio caminho andado para o sucesso dessa relação, por mais “crica” que seja o jornalista. Domenech, Dunga e Maradona definitivamente não entenderam isso na África.

10 – A parcialidade nas transmissões em todo o mundo

Por curiosidade, por morar fora do país ou pela simples obsessão pela informação, chequei, li e reli uma infinidade de artigos e resenhas sobre o que cada veículo de comunicação falava da seleção de seu país. E fato é que no futebol, a paixão desperta a parcialidade. Na primeira fase da Copa e, apesar de algumas críticas, brasileiros reverenciavam o Brasil: alemães, a Alemanha; argentinos, a Argentina; ingleses, a Inglaterra: e espanhóis, a Espanha. Até aí, normal. O que me chamou a atenção é que cada um enxergava muito mais defeitos na seleção dos outros do que na sua.


11 – O ambush marketing voltou

Duas holandesas chegaram a ser presas por aproveitar a festa para fazer publicidade irregular de uma marca de cerveja no jogo de sua seleção contra a Dinamarca. Como essas, houve muitas. Aqui, leia-se irregular toda a marca que se aproveita de um evento oficial para aparecer, mesmo não tendo os direitos de exposição. O jogador David Villa, da Espanha, deu um “passe” de toureiro após o seu primeiro gol contra Honduras. Esse movimento é o mesmo que o atleta faz nos comerciais de uma conhecida rede de fast food em seu país. Ronaldo Fenômeno já havia feito algo parecido anos atrás levantando o dedo indicador que lembrava uma marca de cerveja. A campanha pé-frio Write the Future, da Nike, colocou vários craques em campo com camisas que emulavam as oficiais. Caso dos jogadores Drogba, Cannavaro e Ribéry, que são contratados da empresa americana, mas que defendem seleções que mantêm acordos com as alemãs Puma e Adidas.

É bem provável que o leitor ainda se lembre de mais fatos marcantes da comunicação na Copa, mas cada um destes exemplos nos remete, por menos relevante que pareça, a experiências em nossas empresas. Cabe a cada um de nós aproveitar o que de melhor foi feito e evitar aquilo que não vale a pena. Assim como na Copa, campeão é aquele que se prepara, joga em equipe, segue as regras, não acredita apenas no que já fez e sopra a chama da novidade o tempo todo.

Os artigos aqui apresentados não necessariamente refletem a opinião da Aberje e seu conteúdo é de exclusiva responsabilidade do autor.

Luis Alcubierre

Luis Alcubierre é executivo de Comunicação Corporativa, Relações Institucionais e Governamentais há mais de 25 anos e hoje atua como conselheiro para a América Latina da Atrevia, agência espanhola de PR e Corporate Affairs, além de liderar o escritório Advisor Comm. É também palestrante, mediador e mentor. Formado em Comunicação Social pela FIAM, possui pós-graduação em Administração de Empresas pela Fundação Getúlio Vargas e MBA pela FIA-USP, com diversos cursos de gestão de liderança e negociação realizados em instituições como IESE, Berlin School of Creative Leadership, Columbia Business School, Universidad Adolfo Ibañez, Escuela Europea de Coaching, Fundação Dom Cabral, IBMEC e FGV. Foi diretor de Comunicação e Assuntos Corporativos de empresas como Kellogg, Pernambucanas e Samsung, onde teve responsabilidades adicionais pela Comunicação na América Latina. No Grupo Telefônica, assumiu a Direção Global de Marca e Comunicação da Atento em Madrid, na Espanha, sendo responsável pela gestão da área em 17 países. Passou ainda por Dow Química, TNT (adquirida posteriormente pela Fedex) e Rede (antiga Redecard), tendo iniciado sua carreira no rádio, nos sistemas Jornal do Brasil e Grupo Estado. Também foi membro do Conselho de associações ligadas às indústrias de alimentos, varejo, vestuário e mercado financeiro, onde teve importante papel negociador em distintas esferas de governo.

  • COMPARTILHAR: