30 de agosto de 2016

O que temos a aprender sobre Dinheiro e Felicidade 

Há dez anos chegava às bancas de todo o mundo uma das capas mais emblemáticas da revista TIME. Pela primeira vez, uma publicação desta envergadura dedicava espaço à “Ciência da Felicidade”. Este é um tema acompanhado de perto por Governos de diversos países na tentativa de criar políticas públicas mais satisfatórias. Empresas e indivíduos também deveriam ficar atentos às descobertas relacionadas ao desejo, talvez mais antigo, de todo e qualquer ser humano, independente da nacionalidade, do gênero ou do status social.

Os estudos científicos sobre Felicidade têm cerca de 100 anos, explicou Nicole Fuentes, da Universidade de Monterrey (México), durante palestra no Insper. Formada em Economia pela Universidade das Américas e com Mestrado em Métodos Quantitativos para as Ciências Sociais pela Universidade de Columbia (EUA), a especialista realizou, nos últimos 18 anos, diversos trabalhos de investigação científica sobre o tema. Contou, por exemplo, que a questão já foi analisada sobre vários ângulos: da Economia à Psicologia Tradicional e Positiva. Pode ser difícil acreditar, mas há pouca evidência sobre a relação entre Desenvolvimento Econômico e Felicidade.

Em 1968, durante um discurso na Universidade do Kansas, Bob Kennedy já declarava que o Produto Interno Bruto (PIB) não garantia “a saúde das nossas crianças, a qualidade da sua educação ou a alegria de suas brincadeiras. Ele não inclui a beleza da nossa poesia ou a solidez dos nossos casamentos; a inteligência de nosso debate público ou a integridade dos nossos funcionários públicos. Ele não mede nem a nossa inteligência ou a nossa coragem, nem a nossa sabedoria ou o nosso aprendizado; nem a nossa compaixão ou a devoção ao nosso país; mede tudo, exceto aquilo que faz a vida valer a pena”.

Atento a essa desconexão, devidamente provada em pesquisas, o ex-presidente francês Nicolas Sarkozy chegou a criar uma Comissão para Medição do Progresso Econômico e Social. Ora, se o boom econômico não é suficiente, o que, afinal, faz as pessoas felizes?

De acordo com a professora da Universidade de Monterrey, uma das fórmulas da Felicidade é a seguinte:

 

50% Genes +

10% Condições de Vida (casado ou não; idade; educação; onde mora) +

40% Decisões Tomadas =
______________________________________________

Felicidade.

 

Vejo a exatidão dessa fórmula no trabalho que faço de registro de legado de indivíduos e empresas. Dificilmente, durante as entrevistas, são mencionados salários ou contratos milionários. Quando questionadas sobre os marcos da sua carreira ou da sua vida, as pessoas falam sobre seus relacionamentos e sobre as experiências que viveram. Arianna Huffington corrobora esse ponto de vista ao dizer, no livro A Terceira Medida do Sucesso, que, após a morte de uma pessoa querida, o que fica em nossos corações e mentes não é o seu status na cadeia social ou o tamanho da sua conta bancária. “Nossas eulogias são sempre sobre outras coisas: o que nós doamos, como nos conectamos, o quanto significávamos para as nossas famílias e amigos, as pequenas gentilezas, as paixões ao longo da vida e as coisas que nos fizeram rir”.

Fuentes concorda que a Ciência da Felicidade é uma mina de ouro para as empresas e compartilha outras leituras ou aplicações daquela fórmula:

  • Se você somar os 50% de genes aos 40% de decisões, 90% da felicidade individual é explicada por fatores internos. Em geral, pessoas e organizações operam na lógica contrária, acreditando que a felicidade e o sucesso são encontrados nos 10%. “A ciência prova que este é um uso ineficiente de energia, esforço, tempo e recursos”, explica a especialista. Alerta, ainda, que, com o objetivo de elevar o bem estar e o engajamento, a maioria das empresas ou departamentos de Recursos Humanos trabalha com os fatores externos, o que explica uma pequena fração de felicidade individual ou resultados diferentes do esperado;
  • É preciso inverter a lógica do sucesso-felicidade. A ciência prova que a fórmula deve ser vista de forma oposta: felicidade-sucesso. “Pessoas felizes trabalham melhor, têm melhor desempenho e alcançam metas com mais facilidade. O sucesso é uma consequência da felicidade”.
  • Os departamentos de Recursos Humanos e Comunicação precisam aprender as ferramentas da nova Ciência da Felicidade para mudar seus modelos de liderança tradicionais. A dica de Fuentes é transferir esse conhecimento aos líderes e, em seguida, para o resto da organização, criando um ambiente no qual as pessoas possam aprender e utilizar estas ferramentas. Reforça também que “o mais importante é transferir a responsabilidade de melhorar a felicidade para os indivíduos. Cada pessoa é responsável pela sua felicidade. As empresas só fornecem as ferramentas”.

Conhecimento e empoderamento devem ser, portanto, palavras de ordem na gestão e comunicação organizacional. A dissociação do Dinheiro da Felicidade pode até tornar mais fácil alguns desafios atuais das empresas, como a retenção de talentos; a energia para a inovação; o cuidado com a marca e a reputação; e aquele gás para superar tempos difíceis.

Os artigos aqui apresentados não necessariamente refletem a opinião da Aberje e seu conteúdo é de exclusiva responsabilidade do autor.

Tatiane Lima

Tatiane Ribeiro Lima é jornalista formada pela Faculdade Cásper Líbero e tem MBA em Gestão da Comunicação pela Aberje ESEG. Observadora inquieta, é apaixonada pelos bastidores e por ajudar empresas e pessoas a contar a sua história. Escreveu para publicações como a Superinteressante e Revista da TAM e já trabalhou para companhias de pequeno, médio e grande porte em projetos que envolviam de IPOs e campanhas de guerrilha a Defesa do Consumidor e Crises de Reputação e Imagem.

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