27 de abril de 2010

O esporte da comunicação e a atração do mundo

A boa comunicação foi decisiva para a escolha do Brasil para sediar a Copa do Mundo de futebol de 2014 e as Olimpíadas de 2016. Daqui até lá pode parecer muito tempo, mas acredite, não é. Afinal, vencida a primeira etapa em que soubemos aproveitar as condições históricas, políticas, econômicas e psicológicas para destacar, convencer e vender o país como o lugar, surge o desafio de cumprir o combinado no que tange a ter disponíveis infraestrutura, transporte, segurança e serviços nos prazos e com toda a logística em funcionamento. Um desafio monumental e um compromisso assumido com o mundo, diretamente vinculado à nossa reputação.

Talvez o que ainda não esteja claro é que ambos os eventos começaram, na verdade, no dia do anúncio do Brasil como sede, e deveriam unir todos os brasileiros, independentemente de eventuais diferenças, para podermos ganhar esse jogo. Antes de os atletas desembarcarem aqui é preciso vender o Brasil como destino turístico para milhares de estrangeiros no mundo todo, gente que gosta de esporte, de viajar, de conforto, diversão e bem-estar.

É preciso valorizar e aprimorar ainda mais a nossa capacidade de receber e acolher gente do mundo todo, de oferecer produtos, serviços de qualidade, de expressar com encantamento nossos atributos culturais. É preciso trabalhar já a imagem do Brasil no exterior e preparar os brasileiros para isso. Devemos procurar corrigir a imagem distorcida de país atrasado, do turismo sexual, do trabalho infantil, da violência urbana. Os jogos deverão impulsionar os negócios das empresas brasileiras e os empregos para brasileiros. É preciso preparar-se internamente.

Muitos desafios e curto espaço de tempo

As cidades que sediarão a Copa em 2014 devem enfrentar desde já suas questões sociais, urbanísticas, ambientais e políticas. Será necessário transformar o espaço público, criar condições para a circulação segura dos visitantes, estrangeiros ou brasileiros. É urgente a revitalização e restauro do patrimônio histórico das cidades, o acesso e a infraestrutura de parques naturais, a modernização e construção de aeroportos, portos e estradas, hotéis etc., além de medidas educacionais, políticas e econômicas, as cidades deverão passar por grandes mudanças no paisagismo e na programação visual, a ser feita em mais de uma língua.

Podemos aprender com a Copa na África do Sul. ‘No exterior, a venda de ingressos não vai bem, 300 mil reservas de hotel para a o Mundial foram canceladas’, informou o jornal Bom dia Brasil, da TV Globo, em 15/4/2010. ‘E como havia 500 mil ingressos encalhados, um fracasso de venda pela internet, a Fifa, preocupada, começou a vender entradas a preços menores para os sul-africanos, em lojas e agências bancárias espalhadas pelo país. Mudou a situação: será uma copa popular, com poucos turistas e muitos africanos.’

Ou seja, para fazer dos nossos dois grandes eventos esportivos uma fonte de receita importante, um atrativo turístico internacional que coloque o Brasil definitivamente no circuito não-exótico, precisamos estimular o desejo daqueles que podem nos visitar durante os jogos, vindos de todas as partes do mundo, inclusive daqui mesmo, mostrando nosso esforço e investimento como resposta ao entendimento de que cada um deles está de olho na maneira como tratamos as questões ligadas, por exemplo, à segurança, à violência urbana, o meio ambiente, às crianças, o transporte, à hospedagem.

São mesmo muitos desafios, de alta complexidade em curto espaço de tempo, com necessidade de investimento de valores imensos. Questões que vão além da comunicação, mas que passam e se apóiam nela.

Os artigos aqui apresentados não necessariamente refletem a opinião da Aberje e seu conteúdo é de exclusiva responsabilidade do autor.

Paulo Nassar

Diretor-presidente da Associação Brasileira de Comunicação Empresarial (Aberje); professor titular da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP); doutor e mestre pela ECA-USP. É coordenador do Grupo de Estudos de Novas Narrativas (GENN), da ECA-USP; pesquisador orientador de mestrado e doutorado (PPGCOM ECA-USP); pesquisador da British Academy (University of Liverpool) – 2016-2017. Entre outras premiações, recebeu o Atlas Award, concedido pela Public Relations Society of America (PRSA, Estados Unidos), por contribuições às práticas de relações públicas, e o prêmio Comunicador do Ano (Trajetória de Vida), concedido pela FundaCom (Espanha). É coautor dos livros: Communicating Causes: Strategic Public Relations for the Non-profit Sector (Routledge, Reino Unido, 2018); The Handbook of Financial Communication and Investor Relation (Wiley-Blackwell, Nova Jersey, 2018); O que É Comunicação Empresarial (Brasiliense, 1995); e Narrativas Mediáticas e Comunicação – Construção da Memória como Processo de Identidade Organizacional (Coimbra University Press, Portugal, 2018).

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