Comunicação, tecnologia e comportamento: um desenho rasurado na prancheta do artista
Hoje, avançados na segunda metade do ano de 2024 somos habitantes de “Orbit City”, a cidade dos Jetsons e nos comportamos como se estivéssemos em “Bedrock”, com a pré-histórica família Flintstone.
Ambas as animações criadas por William Hanna e Joseph Barbera, lançadas nos EUA no começo dos anos 1960, fizeram parte das nossas vidas e do nosso imaginário e ainda funcionam bem como analogia para pensarmos o que estamos fazendo neste mundo tão desigual.
Pelo menos oito tecnologias no dia a dia de George e Jane Jetson tornaram-se realidade para nós: a TV colorida com tela plana; as chamadas de vídeo; os relógios inteligentes, os smartwatches; depois dos PCs de mesa e notebooks, os dispositivos móveis, os tablets e os celulares; as câmeras compactas; os robôs aspiradores; a casa inteligente cheia de itens tecnológicos automatizados, incluindo os assistentes virtuais Alexa, Siri ou Google Assistente; as cidades do futuro, como na smart city The Line, na Arábia Saudita. Os carros voadores já foram produzidos, nos últimos anos, como veículos conceituais.
Olhando bem, pode-se notar que nosso comportamento como seres civilizados não evoluiu na mesma medida que a tecnologia, pelo contrário, em muitos casos involuímos. Especialmente tratando-se de Brasil com suas imensas desigualdades, abismos sociais e educacionais, um país com contrastes violentos, um gigante de terceiro mundo. É difícil olhar o mundo hoje com olhos otimistas diante dos conflitos bélicos e, principalmente, da emergência climática que se apresenta à nossa frente. A espécie humana corre risco de uma sacodida do planeta para se reequilibrar, como o cachorro que sai do banho.
Quer um exemplo? A chamada Inteligência Artificial, tão falada e poderosa, que recebe imensos investimentos e está à nossa disposição a dois ou três cliques de distância. Se você não souber o que é como instruí-la, como fazer a pergunta, ela não serve para nada. É como colocar o Barney Rubble para usar o ChatGPT. E assim estamos: meios sofisticados para usuários brutalizados.
Além disso, parece urgente e indispensável regular essas novas tecnologias, tão sofisticadas que são capazes de recriar uma realidade, falsificar e alterar com precisão um fato, uma história, uma cena, um crime, o que for. É necessário deixar claro o limite ético e legal do que os Freds podem tornar público no mundo dos Jetsons.
Enquanto diversos tipos de IA (tradicional) obedecem a regras e algoritmos predefinidos, a Inteligência Artificial Generativa (IA generativa) usa modelos para criar conteúdo original, como textos, imagens, músicas, vídeos, áudios, interações virtuais e códigos de programação. Ela é capaz de aprender com grandes volumes de dados e gerar novos resultados. Enfim, a IA generativa chegou com tudo e está mudando o jogo em tempo recorde. Quem sabe o que mais vem por aí? Quais os limites e consequências?
Outro aspecto a observar. Sabemos que os mais jovens, com renda mais alta e mais escolaridade são os que operam a Inteligência Artificial com mais habilidade, o que deve agravar ainda mais a desigualdade no mercado de trabalho, além de concorrer a vagas e substituir o homem em atividades profissionais. Vimos este filme quando os computadores se popularizaram.
Vivemos uma era de aparências e exibicionismo, a hipocrisia do like e o descompasso entre o desenvolvimento tecnológico e o grau civilizatório. Estamos excessivamente individualistas e consumistas vivendo em um planeta sob risco real e bem próximo de colapsar.
Onde está o meio termo? O equilíbrio e a solidariedade?
Onde erramos?
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