08 de setembro de 2016

Algumas lições da Olimpíada

 

Vivemos um período de grande efervescência no último mês. Os jogos olímpicos ocuparam todo o noticiário, o nosso tempo, a nossa atenção. Foi fascinante observar aquele desfile de atletas, de diferentes países e de diferentes modalidades, dando show de profissionalismo, esforço e arte.

Do momento da festa de abertura até o encerramento, vários atletas e treinadores falaram para as diferentes mídias, e nos encantaram, nos revoltaram, provocaram reações positivas e negativas em nós. Interessante como formamos percepções sobre pessoas desconhecidas, que por meio de seu modo de se comunicar transmitem tantos sinais.

Nessa observação, as expressões faciais se destacaram. Vimos atletas absolutamente eufóricos com suas vitórias, com discurso de alegria e expressão de alegria; atletas frustrados por suas derrotas, demonstrando claramente a tristeza por meio de sua fala e expressão. Foi curioso também observar atletas que perderam, e tentaram disfarçar falando sobre a importância de competir, a satisfação por estarem participando. Mas com a expressão típica da tristeza, da decepção, das lágrimas que teimavam em rolar!  Situação clássica, quando as palavras dizem algo, e o corpo mostra outra coisa diferente.

Há vários sinais que compõem a nossa comunicação: os recursos verbais, como a escolha das palavras, o modo como construímos as frases; os recursos não verbais, como postura, gestos e expressão facial; e os recursos vocais, relacionados à maneira como falamos, envolvendo o tom da nossa voz, a velocidade de fala, a forma como articulamos. A condição ideal acontece quando utilizamos esse três grupos de recursos de modo coerente e harmônico, com um recurso reforçando o outro, trazendo veracidade, assertividade à comunicação. Quando há incoerência… O impacto do não verbal “grita” muito mais alto que os outros! É por isso que o discurso do atleta dizendo “tudo bem” enquanto a expressão facial é de frustração e tristeza, não convence e mostra claramente o desespero sentido. Portanto, muito cuidado com o que você diz e o modo como diz. Para acertar, se envolva efetivamente com a emoção que a sua fala pretende passar. Prepare-se para isso, ganhe a consciência do momento que está vivendo, busque a convicção!

Agora, de tudo o que observamos, para mim, a lição mais clara e contundente foi a da liderança do nosso técnico Bernardinho.

A imagem do Bernardinho sempre nos surgia associada a altos brados, gestos duros, cara de bravo, de impaciente. Na Olimpíada, eis que vimos um técnico sereno, tranqüilo, com expressão suave, tom mais baixo, velocidade mais lenta. O que aconteceu? Nosso herói entendeu a necessidade de adequar a sua comunicação, o seu estilo de liderança, a essa equipe. Percebeu que lidar com pessoas da geração Y teria que ser diferente. Viu que a cobrança excessiva e contundente poderia fragilizar os nossos atletas. Investiu no papel de apoiador, naquele que traz segurança, e que acredita no desempenho deles. Conseguiu harmonizar os diferentes perfis e experiências de seus liderados. Bernardinho foi extremamente inteligente ao perceber esse cenário, e humilde ao aceitar a necessidade de mudança. Soube se adaptar perfeitamente ao novo contexto, e não hesitou em adequar seu comportamento, sua atitude comunicativa. O resultado, nós todos pudemos ver e comemorar! Ótimo exemplo de comunicação e liderança. Fica a dica!

Os artigos aqui apresentados não necessariamente refletem a opinião da Aberje e seu conteúdo é de exclusiva responsabilidade do autor.

Leny Kyrillos

Fonoaudióloga pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) – Escola Paulista de Medicina, especialista em Voz pelo Conselho Federal de Fonoaudiologia – CFFa, mestre e doutora em Ciências dos Distúrbios da Comunicação pela Unifesp. Profª. Drª. dos cursos de Fonoaudiologia, Jornalismo e Especialização em Voz da PUC-SP, de 2000 a 2015. Comentarista da coluna semanal “Comunicação e Liderança” na Rádio CBN. Personal & Professional Coach pela Sociedade Brasileira de Coaching. Professora convidada do curso de especialização em Distúrbios da Comunicação Humana da Unifesp – Escola Paulista de Medicina. Pesquisadora do Instituto da Laringe – INLAR-SP. Co-autora dos livros: “Voz e Corpo na TV – a fonoaudiologia a serviço da comunicação” (editora Globo – 2003) e “Comunicar para Liderar” (editora Contexto – 2015). Organizadora dos livros: “Fonoaudiologia e Telejornalismo” (editora Revinter – 2002, 2003 e 2004) e “Expressividade” (editora Revinter – 2004). Consultoria e assessoria de comunicação a diversas empresas, instituições financeiras e políticos. Responsável pelo atendimento a profissionais de rádio e televisão. Autora de várias publicações científicas, nacionais e internacionais.

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