A comunicação da administração
Há quanto tempo você não arruma gavetas? Rever nossas coisas – reler cartas antigas, recitar poemas, reler livros, rever fotos, filmes – é cada dia mais difícil. A vida adquiriu a aparência de auto-estrada, na qual viajamos em grande velocidade e por isso não apreciamos mais a paisagem. Só podemos olhar sempre para frente. Neste ambiente, a comunicação empresarial também está cada dia mais instrumental e pobre. A linguagem persuasiva – que desconsidera a opinião e a contribuição de seus públicos – é dominante em quase todas as suas mídias.
O pior é que não temos para quem lamentar. O nome do jogo é produtividade. As grandes bandeiras da humanidade foram substituídas por expressões interesseiras como ‘agregar valor para os acionistas’. Como professor, vejo as salas de aula se transformando em fábricas de talentos, destinados às linhas de produção da tecnoburocracia, firmemente assentadas nos escritórios e nas fábricas. Pobres dos meus alunos que têm como destino empreender em um mundo mecanizado, sem poesia e sem sonhos.
Como parar e pensar sobre a maneira como estamos vivendo? O que é preciso fazer? Um grande congestionamento na auto-estrada? Um apagão nos controles de vôo? O desemprego e a insegurança generalizada? A morte de alguém próximo? Isso é apenas parte de um conjunto de apostas apocalípticas.
No fio desses pensamentos, acabei de assistir ao filme Viver (1952), do cineasta japonês Akira Kurosawa (1910-1998). Recomendo àqueles que vêem algum sentido nas minhas divagações. Viver é um filme em preto-e-branco em que não há paisagens. São duas horas e meia de duração, cujo enfoque são a angústia e os dilemas morais e éticos de Kanji Watanabe, um burocrata da prefeitura de Tóquio, que descobre estar acometido de um câncer de estômago. A partir do diagnóstico terminal, Watanabe percebe que não viveu. Nada sabe sobre o que transcende a sua repartição, sobre seus colegas de trabalho, sobre sua pequena família. A morte é menos aterrorizante do que a idéia de que não viveu.
Sentido da vida
O burocrata Watanabe é o senhor dos carimbos. Hoje, seria o senhor da ‘qualidade total’, ‘dos processos de excelência’, ‘das mensurações e dos resultados’. O arsenal de normas e regulamentos é posto em dúvida diante de uma vida que se esvai, mesmo na burocracia perfeita, reconhecida com diplomas expostos na parede do seu quarto. A rotina de uma vida cheia de limites, sem atrasos é, de repente, ocupada por novos personagens – entre eles, mulheres, bêbados e músicos – exageros e um pitoresco chapéu.
Watanabe, no entanto, vai encontrar a sua redenção no ambiente de sua corrupta seção de trabalho, onde é chefe de relações públicas. Ali, desengaveta o projeto de uma área de lazer, desejo da comunidade, mas objeto de cobiça de especuladores imobiliários. O personagem de Kurosawa descobre o intento que dá sentido à sua vida, se alia aos cidadãos e contraria políticos, especuladores, colegas de trabalho e família.
Revi Viver estimulado por um trecho de um artigo de Roger Ebert, que integra o livro A magia do cinema (Ediouro); nele, o crítico diz:
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