01 de abril de 2019

Após o entendimento sobre o que é a Agenda 2030 do Pacto Global, iniciativa proposta pela Organização das Nações Unidas – ONU para encorajar as empresas a adotarem políticas de responsabilidade social corporativa, gostaria de aproveitar para levá-los para um caminho crucial de pensamento, apoiando-nos nos princípios da agenda.

A Agenda 2030 contempla os princípios, meios e ferramentas para o planeta e para a prosperidade pactuada pelo Brasil e outros 192 países que integram a Organização das Nações Unidas – ONU. É a partir dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (Sustainable Development Goals, ou SDG), suas metas e, principalmente, os indicadores para monitoramento desta grande agenda que entendemos a conexão direta com os sistemas de gestão empresarial.

As parcerias, aspecto central para o desenvolvimento da Agenda 2030, tem se ampliado cada vez mais e convergidos públicos que antes não eram diretamente e explicitamente envolvidos. Em Davos (2018), a UNDP (United Nations Development Programme) estreitou ainda mais os laços com o Fórum Econômico Mundial ao observar o potencial impacto negativo que a Indústria 4.0, particularmente as iniciativas de automação, vão causar nas empresas, no mercado de trabalho e nas economias do mundo todo, se não for um processo bem cuidado e com a participação efetiva de todos os atores.

Sobre o Brasil, especificamente, crescem regularmente os fóruns aonde o tema “planejamento estratégico” vem sendo debatido à luz de uma agenda de desenvolvimento. Mais do que isso é a importância de todos estes temas serem abordados de forma integrada e com pensamento de longo prazo. No Brasil, a maioria dos planejamentos fica vinculada à gestão político-partidária, atendendo a interesses de grupos específicos e não da sociedade e também, muitas vezes, estes planos ficam apenas na prateleira, sem implementação.

O que precisamos é de algo mais longo, perene, que ultrapasse mandatos, que ultrapasse interesses específicos e que ultrapasse gerações.  E é disso que se trata implantar uma agenda de desenvolvimento em um país atendendo a toda uma sociedade, respeitando as diferenças culturais, as necessidades regionais, seus estágios de amadurecimento e suas necessidades, de forma priorizada, com o engajamento consciente da sociedade.

A cultura do rigor demora a ser implementada. Não basta apenas uma geração para termos resultados, assim como na educação. As empresas, cada vez mais, entendem o apelo e a importância extrema de se pensar muito além dos ciclos normais de planejamentos bi-anuais. Uma pesquisa da Ethical Corporation (Responsible Business Trends report, 2018), o qual participaram cerca de 1500 empresas ao redor do mundo, observa-se a importância de olhar a longo prazo. Muito disso se expressa no ordenamento destas organizações, que tem dado atenção especial para temas como Mudança Climática, Trabalho Decente, Igualdade de Gênero e Energia. Mas outros temas estão intimamente associados e podem ser observados nos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável.

Lembramos que nesta pesquisa ficou expresso que 75% dos CEO estão convencidos do valor do desenvolvimento sustentável e isso é bem relevante, mas não 100% expressivo a ponto de se obter os resultados na velocidade necessária. Serão necessárias rupturas e inovação para se obter os resultados pois as mudanças só ocorrerão se houver sensibilização, conscientização e ações mobilizadoras.

A pergunta é quanto ao tempo para ocorrer esta conscientização. A alavancagem consciencial não é mais algo que devamos nos dar ao luxo de relegar ao tempo. Vivemos outro momento da história. Há um medo tremendo sobre o que chamam de “SDG Wash”, assim como ocorreu em outros grandes ciclos de abordagens referente a sustentabilidade, tal como o “Green Wash”. Mas voltando a cultura do rigor, planejar é a ciência da antecipação.   Cada vez mais, esta antecipação vem acompanhada de movimentos grandiosos de alavancagem consciencial e inovação, e é disso que precisamos, para que possamos produzir riqueza e permitir que prosperidade chegue a todos, assim como evitar que tragédias como temos observado e que estas não mais ocorram, especialmente derivada de ações de corrupção.  Construir o futuro é a melhor forma de não temê-lo (GIGET, 2007).

Então, como vocês estão se preparando para o futuro: estão construindo ou são apenas expectadores?

Os artigos aqui apresentados não necessariamente refletem a opinião da Aberje e seu conteúdo é de exclusiva responsabilidade do autor.

Clarice M O Kobayashi

Clarice M O Kobayashi é engenheira Elétrica, EPUSP; EMBA, BSP; membro de board de empresas, sócia diretora da CK Counseling & Knowledge; fundadora e diretora do Instituto Prospectiva – INSPRO – com atuação em Planejamento de Longo Prazo; membro do CONECTICIDADE da PRO Poli USP; membro do CRA SP nos grupos TST, GENE, GPG e participa da CEC Comissão de Engajamento e Comunicação da Rede do Pacto Global.

Renahan Gil

Renahan Gil tem mais de 15 anos em consultoria, na busca de soluções mais efetivas para os problemas das sociedades atuais e futuras. Foi conselheiro de delegações brasileiras no Fórum Político de Alto Nível na sede das Nações Unidas, e hoje apoia governos, iniciativa privada e sociedade civil no entendimento dos benefícios de se ter uma agenda de desenvolvimento comum e bem integrada.

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