07 de junho de 2018

A comunicação emoji.

As superficialidades estão circulando de forma exponencial nas mídias sociais. Nas empresas isso não é diferente. Empregados desengajados fazem fofocas sobre os chefes, comentam negativamente os rumos da organização e as decisões tomadas. A rádio corredor ganhou novos meios digitais para causar seu estrago entre as equipes e prejudicar bons projetos. A boa notícia é que a turma de comunicação interna ganhou mais frentes de atuação.

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José Saramago, ganhador do prêmio Nobel de Literatura, falecido em 2010, disse em uma entrevista para o jornal O Globo que a humanidade corria o risco de voltar aos tempos dos grunhidos. O escritor português, que tinha um blog, se referia ao Twitter e seus antigos 140 caracteres permitidos por postagem (hoje são 280). Polêmicas à parte, a declaração ainda é bastante válida, como um permanente alerta.

Vivemos numa sociedade digital. Tudo é muito rápido, muito interativo e…superficial. Você já reparou que nos elevadores, no metrô, nos restaurantes as pessoas grudam seus olhares nas telinhas e nos grupos de WhatsApp? Recebemos memes que nos contam versões criativas de fatos ou situações variadas. Achamos graça e…tocamos a vida.

Talvez sempre tenha sido assim, mas a internet e as suas redes sociais, com certeza, ampliaram a propagação de comentários tolos, idiotices de toda ordem, além de opiniões extremistas e intolerantes. Claro que a culpa não é da ferramenta. A escolha é sempre do indivíduo.  Se idiotas variados estão tagarelando com força global, podemos sempre bloquear essa turma, assim como é nossa decisão não frequentar mais aquela roda de filósofos de botequim. Muito do que acontece no ambiente digital, sempre aconteceu no bate papo entre as pessoas. Não é sempre possível falar sobre temas profundos, filosóficos, políticos, econômicos ou históricos. Corremos o risco de sermos chatos, metidos à besta – ao menos naquela rede. Falar abobrinhas faz parte da convivência social. Sem elas não teríamos diálogo nenhum, com muita gente. Duvida? Ora, então como não puxar conversa com algum desconhecido perguntado se vai chover ou fazer sol? O assunto clima é um sucesso de audiência.

O fato é que além das superficialidades estão circulando de forma exponencial nas mídias sociais junto com os recalques, as piadas mais grosseiras, achismos e comentários sem qualquer fundamento em fatos ou fontes confiáveis e as tais #fakenews. Nas empresas isso não é diferente. Se na rua desconhecidos falam tolices e reclamam da vida, nas empresas, alguns empregados desengajados fazem fofocas sobre os chefes, comentam negativamente os rumos da organização e as decisões tomadas. A rádio corredor ganhou novos meios digitais para causar seu estrago entre as equipes e prejudicar bons projetos. A boa notícia é que a turma de comunicação interna ganhou mais frentes de atuação.

Mas, voltando ao genial Saramago, me chamou a atenção o uso crescente dos tais emojis. Eles estão se multiplicando e substituindo o texto, as palavras e até o monossílabo! As figurinhas, tipo de hieróglifos modernos, são absolutamente superficiais e muitas vezes servem para reforçar, aprovar ou discordar de um comentário, como também encerrar a conversa da forma rápida e preguiçosa. Na idade digital, o tempo é muito precioso e para não ser rude com seu interlocutor, mande um like ou uma carinha feliz! Não diz quase nada e é como um grunhido em forma de pictograma. Saramago estava certo. Ele só não imaginou que o grunhido seria colorido, na forma de um gif animado e até divertido.

Os artigos aqui apresentados não necessariamente refletem a opinião da Aberje e seu conteúdo é de exclusiva responsabilidade do autor.

Luiz Antônio Gaulia

Jornalista. Mestre em Comunicação Social pela PUC-Rio. Especialista em Comunicação Empresarial pela Syracuse University/Aberje. Pós-graduado em Marketing e em Comunicação Jornalística. Ex-Gerente de Comunicação da CSN - Cia. Siderúrgica Nacional e da Alunorte (PA). Atuou no O Boticário e no Grupo Votorantim. Realizou projetos de comunicação corporativa e sustentabilidade para a VALE, a Light, Petrobras, Ajinomoto e Norsul. Foi Gerente de Comunicação Corporativa e Sustentabilidade do Grupo Estácio. É Diretor da Race Comunicação e professor da FGV Rio e da ESPM SP.

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